«Em
matéria de arte, de amor ou de ideias creio serem pouco eficazes anúncios e
programas. Pelo que toca às ideias, a razão de uma tal incredulidade é a
seguinte: a meditação sobre qualquer tema, quando é positiva e autêntica,
afasta inevitavelmente o meditador da opinião recebida ou já aí existente, do
que com mais graves razões que quanto agora suponham, merece chamar-se «opinião
pública» ou «vulgaridade». Todo o esforço intelectual que com rigor o seja
afasta-nos solitários da praia comum, e, por rotas recônditas que precisamente
o nosso esforço descobre, conduz-nos a lugares retirados, situa-nos sobre
pensamentos insólitos. São estes o resultado da nossa meditação. Pois bem: o
anúncio ou programa reduz-se a antecipar esses resultados, deles arrancando
previamente a via ao cabo da qual foram descobertos. (...) Um pensamento
separado da rota mental que a ele conduz, insulano e escarpado, é uma
abstracção no pior sentido da palavra, e, por esse motivo, é ininteligível».
JDACT