segunda-feira, 7 de outubro de 2013

As Lutas Estudantis Contra a Ditadura Militar. 1926-1932. Cristina Faria. «… António Sérgio, entre outros, lançam as bases para a criação da Liga de Defesa da República/Liga de Paris (LDR/LP). E, logo em Julho, no seu primeiro manifesto Ao País, a LDR/LP combate denodadamente as políticas financeira…»


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Enquadramento Político, Económico e Social da Ditadura Militar
«(…) Nos primeiros dias de Fevereiro de 1927, com o objectivo de constituir um forte governo nacional que restaure o regime e a Constituição e, simultaneamente, moralize a vida política portuguesa em nome das liberdades fundamentais e do saneamento da crise económico-financeira ocorre, no Porto (3-7/2/1927) e em Lisboa (7-9/2/1927), com manifestações em diversos pontos do país, a revolta militar e civil republicana que determinaria o futuro da Ditadura. A este respeito, Luís Farinha adianta que a clara vitória militar que [a Ditadura] havia obtido sobre os revoltosos (...) permite, ao sector republicano da Ditadura (onde se evidenciavam agora Carmona e o Ministro da Guerra Passos Sousa), levar por diante uma política de limpeza de todos os resquícios revolucionários e ensaiar mesmo uma política de aproximação aos representantes do republicanismo democrático moderado. Afora da situação, a repressão a que dá lugar traduz-se em centenas de presos, deportados, exilados e mortos, milhares de feridos e avultados prejuízos materiais, ao mesmo tempo que são demitidos todos os funcionários públicos ? implicados e dissolvidas todas as unidades do Exército e da GNR directa ou indirectamente envolvidas nos movimentos. O desenrolar do processo de saneamentos faz-se acompanhar, na situação, por um aumento de apoios à Ditadura: internacionalmente, Inglaterra e Espanha felicitam o Governo na pessoa do Ministro da Guerra, tenente-coronel Passos Sousa, pelo modo eficaz com que combateu e dominou os revoltosos; no plano interno, a Ditadura firma-se nos sectores direitistas conservadores e na direita radical; no plano externo, Afonso Costa Álvaro Castro, Domingues Santos, Jaime Cortesão, António Sérgio, entre outros, lançam as bases para a criação da Liga de Defesa da República/Liga de Paris (LDR/LP). E, logo em Julho, no seu primeiro manifesto Ao País, a LDR/LP combate denodadamente as políticas financeira, económica e administrativa da Ditadura, especialmente as negociações levadas a cabo pelo ministro das Finanças, Sinel Cordes, junto da Sociedade das Nações (SDN), no sentido de obter um empréstimo externo que permitisse ao país efectuar um plano geral de restauração financeira, de estabilização monetária e de desenvolvimento económico. Nos dias seguintes, mais concretamente no dia 17, imponentes manifestações a favor do Governo tiveram lugar em frente ao Congresso (…) por centenas de pessoas representantes dos principais interesses económicos da capital, e por 150 estudantes das Universidades de Coimbra, Lisboa e Porto.
A crise aprofunda-se. Apesar da dívida externa para com a Inglaterra ser reduzida em Janeiro de 1927, esta não deixa de ter um importante peso nas despesas do Estado. A política de despesismo praticada com as Forças Armadas (repressão das revoltas de Fevereiro, rearmamento, novos equipamentos e pessoal), departamentos burocráticos do Estado, administrações coloniais e municipais reforçam igualmente, a par da concessão de elevados subsídios a empresas do sector privado, a política de esbanjamento que caracterizou a administração sineliana. Paralelamente, os sectores mais afectados pela crise, ligados à exportação, reclamam do Governo a estabilização monetária e o equilíbrio orçamental. Pressionado pelas evidências, Sinel Cordes tenta obter o referido crédito externo e, com isso, equilibrar a balança de pagamentos, manter o escudo estável e promover obras de fomento de base». In Cristina Faria, As Lutas Estudantis Contra a Ditadura Militar, 1926-1932, Edições Colibri, Lisboa, 2000, ISBN 972-772-201-6.

Cortesia de Colibri/JDACT