sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Augusto Eduardo Nunes. Arcebispo de Évora. Senra Coelho. «… porém, a burguesia urbana assumia uma crescente orientação racionalista e iluminista. Em 1851 ocorreu um movimento que marcou a vida política portuguesa da segunda metade do século XIX, a Regeneração…»

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Contexto Político-Religioso no qual viveu Augusto Eduardo Nunes, arcebispo de Évora
«Augusto Eduardo Nunes nasceu no dia 31 de Março de 1849, natural da cidade de Portalegre, sendo papa Pio IX desde 16 de Junho de 1846 até 7 de Fevereiro de 1878. Gregório XVI tinha falecido havia dois anos e nove meses, a 1 de Junho de 1846. Entre 1826 e 1832, a maioria dos bispos portugueses receava a colaboração com o Governo liberal, negando-se o rei Pedro IV a reconhecer os bispos nomeados pelo seu rival Miguel I. Assim, numerosas sedes episcopais permaneciam vacantes, procedendo o Governo, muitas vezes de modo anticanónico, à eleição de vigários capitulares que entraram em conflito com a autoridade eclesiástica legítima, dando lugar durante muitos anos e em muitos lugares a situações verdadeiramente cismáticas. Entre os anos de 1835 e 1836 iniciou-se uma distensão política que deu frutos sobretudo nos anos seguintes a 1842, quando ocorreram negociações entre Lisboa e Roma, dirigidas com grande flexibilidade pelo cardeal Capaccini. Estas negociações avançavam paulatinamente; só depois da morte de Gregório XVI pôde por fim chegar-se a um acordo, que resolvia sobretudo a questão dos seminários e da jurisdição eclesiástica. Este acordo completou-se no ano de 1857, através de uma convenção referente aos direitos do padroado do rei de Portugal sobre as missões da Índia e da China.
Assim, a Igreja começou a reorganizar os seminários, pela sua urgência face à exigência de maior nível cultural para o Clero e à infeliz decadência pastoral e moral do mesmo. Também as ordens, incluindo os jesuítas, foram regressando de novo ao país, sobretudo depois de 1858, apesar dos obstáculos colocados pelas cripto-actividades da franco-maçonaria. Em Portugal, o povo simples permanecia ligado à prática das tradições do Catolicismo, porém, a burguesia urbana assumia uma crescente orientação racionalista e iluminista. Em 1851 ocorreu um movimento que marcou a vida política portuguesa da segunda metade do século XIX, a Regeneração, originada pelo golpe do duque de Saldanha que depôs Costa Cabral. Correspondeu a um período de estabilidade política rotativista que permitiu introduzir significativas reformas políticas, económicas e administrativas, criando uma imagem de paz e de progresso. Na década de 70, a estabilidade da Regeneração é questionada por uma nova geração de homens que colocaram em evidência as contradições da Monarquia Constitucional e alertaram para a crise económica, política e cultural que se abatia sobre o país. No seio desta Geração de Setenta ferviam ideais socialistas e republicanos. A partir da década de70, o movimento republicano começou a organizar-se por entre calorosos debates ideológicos que originaram cisões dentro do partido.
O ano de 1890 ficou marcado na História de Portugal pelo Ultimato inglês e pela forte agitação política e social que se lhe seguiu, acompanhada por uma crise financeira que veio a agravar a já difícil situação de endividamento do país. Durante este ano verificou-se o crescimento do partido Republicano, que veio a tomar-se na maior força política do país. Sabendo aproveitar-se da instabilidade governativa, da corrupção administrativa e da subversão dos mecanismos eleitorais, incluindo recursos ao caciquismo eleitoral, o Partido Republicano foi-se afirmando progressivamente como alternativa do poder constituído, dando o mote com a revolta de 31 de Janeiro de 1891. A ditadura de João Franco e o Regicídio marcaram o início de um período em que o movimento republicano revelou um crescimento acentuado. Apesar da adesão de milhares de simpatizantes ao partido, a dificuldade de conquistar o poder por via eleitoral dividiu os dirigentes republicanos, assumindo a solução revolucionária cada vez mais adeptos. Em Abril de 1909, o congresso do Partido Republicano Português elegeu um novo directório a quem foi confiada a tarefa da revolução.
Com mais de 60% da população a viver da agricultura, o país chegou ao fim do século XIX com uma enorme dívida pública e com o agravamento significativo do nível de vida da população. A Primeira República Portuguesa, instaurada com a revolução de 5 de Outubro de 1910, foi fruto de uma utopia social regeneradora da pátria. Esta, liberta da corrupção, do escândalo e do compadrio, viu-se enredada em novas dificuldades e contradições. Esta alternativa do regime em que foi constituído o movimento republicano, e esta vontade de passar do velho para o novo, acabou por se confrontar com o país economicamente em crise, com uma conflitualidade social crescente, inserido em relações internacionais nas quais se percebia já a possibilidade de um conflito em larga escala, ou até mundial. O novo regime inaugurou em Portugal o processo de laicização da sociedade, instituindo a Lei da Separação do Estado e das Igrejas. Assim, introduziu o divórcio, a validade exclusiva do casamento civil e a protecção aos filhos ilegítimos. Referindo-nos aos direitos, liberdades e garantias fundamentais, a República introduziu o novo quadro legal da estrutura judiciária e algumas melhorias no campo social. Ao nível do ensino, a República realizou importantes esforços no sentido de melhorar quantitativa e qualitativamente o processo e organização da mesma». In Senra Coelho, dissertação de Doutoramento, Mondeigneur Augusto Eduardo Nunes, Archbishop of Évora (1850-1920), From the University of Coimbra to Archbishop of ´+Evora in the Context of the First Republica, D. Augusto Eduardo Nunes, Professor de Coimbra, Arcebispo de Évora, Paulus Editora, Lisboa, 2010, ISBN 978-972-30-1481-5.

Cortesia de Paulus/JDACT