Contexto
Político-Religioso no qual viveu Augusto Eduardo Nunes, arcebispo de Évora
«Augusto
Eduardo Nunes nasceu no dia 31 de Março de 1849,
natural da cidade de Portalegre, sendo papa Pio IX desde 16 de Junho de 1846 até 7 de Fevereiro de 1878. Gregório XVI tinha falecido havia
dois anos e nove meses, a 1 de Junho de 1846.
Entre 1826 e 1832, a maioria dos bispos portugueses receava a
colaboração com o Governo liberal, negando-se o rei Pedro IV a reconhecer os
bispos nomeados pelo seu rival Miguel I. Assim, numerosas sedes episcopais permaneciam
vacantes, procedendo o Governo, muitas vezes de modo anticanónico, à eleição de
vigários capitulares que entraram em conflito com a autoridade eclesiástica legítima,
dando lugar durante muitos anos e em muitos lugares a situações verdadeiramente
cismáticas. Entre os anos de 1835 e 1836 iniciou-se uma distensão
política que deu frutos sobretudo nos anos seguintes a 1842, quando ocorreram negociações entre Lisboa e Roma, dirigidas
com grande flexibilidade pelo cardeal Capaccini. Estas negociações avançavam paulatinamente;
só depois da morte de Gregório XVI pôde por fim chegar-se a um acordo, que
resolvia sobretudo a questão dos seminários e da jurisdição eclesiástica. Este
acordo completou-se no ano de 1857, através de uma convenção referente aos
direitos do padroado do rei de Portugal sobre as missões da Índia e da China.
Assim,
a Igreja começou a reorganizar os seminários, pela sua urgência face à
exigência de maior nível cultural para o Clero e à infeliz decadência pastoral
e moral do mesmo. Também as ordens, incluindo os jesuítas, foram regressando de
novo ao país, sobretudo depois de 1858, apesar dos obstáculos colocados pelas
cripto-actividades da franco-maçonaria. Em Portugal, o povo simples permanecia
ligado à prática das tradições do Catolicismo, porém, a burguesia urbana
assumia uma crescente orientação racionalista e iluminista. Em 1851 ocorreu um movimento que marcou a
vida política portuguesa da segunda metade do século XIX, a Regeneração,
originada pelo golpe do duque de Saldanha que depôs Costa Cabral. Correspondeu a
um período de estabilidade política rotativista
que permitiu introduzir significativas reformas políticas, económicas e
administrativas, criando uma imagem de paz e de progresso. Na década de 70, a
estabilidade da Regeneração é questionada por uma nova geração de homens que
colocaram em evidência as contradições da Monarquia Constitucional e alertaram
para a crise económica, política e cultural que se abatia sobre o país. No seio
desta Geração de Setenta ferviam ideais socialistas e republicanos. A
partir da década de70, o movimento republicano começou a organizar-se por entre
calorosos debates ideológicos que originaram cisões dentro do partido.
O
ano de 1890 ficou marcado na
História de Portugal pelo Ultimato inglês e pela forte agitação
política e social que se lhe seguiu, acompanhada por uma crise financeira que
veio a agravar a já difícil situação de endividamento do país. Durante este ano
verificou-se o crescimento do partido Republicano, que veio a tomar-se na maior
força política do país. Sabendo aproveitar-se da instabilidade governativa, da
corrupção administrativa e da subversão dos mecanismos eleitorais, incluindo
recursos ao caciquismo eleitoral, o Partido Republicano foi-se afirmando
progressivamente como alternativa do poder constituído, dando o mote com a
revolta de 31 de Janeiro de 1891. A ditadura de João Franco e o
Regicídio marcaram o início de um período em que o movimento republicano
revelou um crescimento acentuado. Apesar da adesão de milhares de simpatizantes
ao partido, a dificuldade de conquistar o poder por via eleitoral dividiu os
dirigentes republicanos, assumindo a solução revolucionária cada vez mais
adeptos. Em Abril de 1909, o
congresso do Partido Republicano Português elegeu um novo directório a quem foi
confiada a tarefa da revolução.
Com
mais de 60% da população a viver da agricultura, o país chegou ao fim do século
XIX com uma enorme dívida pública e com o agravamento significativo do nível de
vida da população. A Primeira República Portuguesa, instaurada com a revolução de
5 de Outubro de 1910, foi fruto de
uma utopia social regeneradora da pátria. Esta, liberta da corrupção, do
escândalo e do compadrio, viu-se enredada em novas dificuldades e contradições.
Esta alternativa do regime em que foi constituído o movimento republicano, e
esta vontade de passar do velho para o novo, acabou por se confrontar com o
país economicamente em crise, com uma conflitualidade social crescente,
inserido em relações internacionais nas quais se percebia já a possibilidade de
um conflito em larga escala, ou até mundial. O novo regime inaugurou em
Portugal o processo de laicização da sociedade, instituindo a Lei da
Separação do Estado e das Igrejas. Assim, introduziu o divórcio, a validade
exclusiva do casamento civil e a protecção aos filhos ilegítimos. Referindo-nos
aos direitos, liberdades e garantias fundamentais, a República introduziu o
novo quadro legal da estrutura judiciária e algumas melhorias no campo social.
Ao nível do ensino, a República realizou importantes
esforços no sentido de melhorar quantitativa e qualitativamente o processo e organização
da mesma». In Senra Coelho, dissertação de Doutoramento, Mondeigneur Augusto
Eduardo Nunes, Archbishop of Évora (1850-1920), From the University of Coimbra
to Archbishop of ´+Evora in the Context of the First Republica, D. Augusto
Eduardo Nunes, Professor de Coimbra, Arcebispo de Évora, Paulus Editora,
Lisboa, 2010, ISBN 978-972-30-1481-5.
Cortesia
de Paulus/JDACT