quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Jazz em Quinta. Brasil. Bossa Nova. «Eu que só quero o que ninguém cobiça, oiros de sol e pratas de nevoeiros, filigranas de flores nos canteiros, folhas soltas que o vento desperdiça, espuma de marés, conchas vazias, cintilações de estrelas, céus distantes, gotas de orvalho…»

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«Eu que só gosto de vestidos velhos,
de velhas casas com paredes tortas,
de poeiras ancestrais, de cinzas mortas,
de desbotados rosas e vermelhos…

Eu que só gosto de velhos quintais
com ásperas roseiras mal regadas;
de cortinas de rendas passajadas
por velhos dedos, com velhos dedais…

eu que só gosto de velhas gavetas,
de velhas malas com cetins puídos,
sedas, fitas, perfumes esquecidos,
leques, missais, raminhos de violetas…
[…]


«Eu sei onde nasci; naquela rua
de árvores mortas e de velhas casas
onde ensaiei os meus primeiros passos,
e onde as minhas pueris, tímidas asas,
se transformara simplesmente em braços.

Mas que importa? Sinto-me perdida
como alguém que em menino se perdeu
e sei que a minha vida é outra vida,
e sei que não sou eu, que não sou eu!
Que venho de mais longe… da distância
que medeia entre o sonho e a realidade,
que nunca teve pátria a minha infância,
que nunca teve idade a minha idade.
Que o meu país, se existe, é como a quilha
de um barco a demandar inutilmente
uma impossível, ignorada ilha
banhada por um mar inexistente.

E contudo eu nasci naquela rua
de árvores mortas e de velhas casas
onde ensaiei os meus primeiros passos,
e onde as minhas pueris, tímidas asas,
se transformaram simplesmente em braços».
Poemas de Fernanda de Castro, in ‘Exílio

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