quinta-feira, 4 de setembro de 2014

O Silêncio e as Vozes. Maria Sarmento. «O velho rio parou para ver passar a dor. Adeus, velho rio. Vou partir. E a voz que me ergue e rasga cala no peito um grito que uma ave levanta no seu voo»

jdact e cortesia de vladimirvolegov

«A roda das estações!
O chiar do tempo na carroça do destino.
Umas vezes no cimo, outras no vale.
Quando pesa o corpo na descida
fazemos da queda uma nova subida.

É assim a vida: uma roda gigante
a girar para diante.
Outras vezes, interrompida a viagem,
damos lugar a outro viajante».


«Debruada de estrelas
a minha noite cai
misteriosa e mãe.
Senhora da Noite
faço do céu um caminho
e adormeço no regaço
o mar esquecido».


«O mundo é este meu corpo
a minha cama, a terra
e a minha cabeça
está virada para o céu.

As luzes que vejo no céu
moram em cada corpo na terra».

Existe no mundo uma grande simetria!»
Poemas de Maria Sarmento, in ‘O Silêncio e as Vozes

In Maria Sarmento. O Silêncio e as Vozes, colecção O Guardador de Rebanhos, Aríon Publicações, Lisboa, 1999, ISBN 972-8409-09-5.

Cortesia de Aríon/JDACT