Que chama do espírito se apagou. Que coração
deixou de bater!
«(…) Retomando a ideia hegeliana de um processo
perpétuo de desenvolvimento, Marx e Engels rejeitaram a sua preconcebida
concepção idealista; analisando a vida real, viam que não é o desenvolvimento
do espírito que explica o da natureza, mas que, pelo contrário, é necessário
explicar o espírito a partir da natureza, da matéria... Contrariamente a Hegel
e outros hegelianos, Marx e Engels eram materialistas. Partindo de uma concepção
materialista do mundo e da humanidade, verificaram que, tal como todos os
fenómenos da natureza têm causas materiais, igualmente o desenvolvimento da
sociedade humana é condicionado pelo desenvolvimento de forças materiais, as
forças produtivas. Do desenvolvimento das forças produtivas dependem as
relações que se estabelecem entre os homens no processo de produção dos
objectos necessários à satisfação das necessidades humanas. E são estas
relações que explicam todos os fenómenos da vida social, as aspirações do homem,
as suas ideias e as suas leis. O desenvolvimento das forças produtivas cria relações
sociais que se baseiam na propriedade privada; mas vemos hoje esse mesmo
desenvolvimento das forças produtivas privar a maioria dos homens de toda a
propriedade e concentrar esta nas mãos de uma ínfima minoria; ele destrói a propriedade,
base da ordem social contemporânea, e tende ele próprio para o objectivo que se
fixaram os socialistas. Estes últimos devem apenas compreender qual é a força
social que, pela sua situação na sociedade actual, está interessada na realização
do socialismo, e incutir nesta força a consciência dos seus interesses e da sua
missão histórica.
Nota: Marx e Engels declararam várias vezes que, em grande medida, o seu desenvolvimento
intelectual era devido aos grandes filósofos alemães, e designadamente a Hegel.
Sem a filosofia alemã, declara
Engels, o socialismo científico nem
sequer existiria. In Engels, Prefácio de A Guerra Camponesa na
Alemanha.
Esta força é o proletariado. Engels
conheceu-o na Inglaterra, em Manchester, centro da indústria inglesa, onde se
fixou em 1842 como empregado de uma
firma comercial de que seu pai era um dos accionistas. Aí Engels não se limitou
a permanecer no escritório da fábrica: percorreu os bairros sórdidos em que
viviam os operários e viu com os seus próprios olhos a miséria e os males que
os afligiam. Não se limitando à sua observação pessoal, Engels leu tudo o que antes dele se tinha escrito sobre a
situação da classe operária inglesa e estudou minuciosamente todos os
documentos oficiais que pôde consultar. O resultado dos seus estudos e observações foi um livro que saiu em
1845: A Situação das Classes
Trabalhadoras na Inglaterra. Já atrás assinalámos o principal mérito de
Engels como autor dessa obra. É certo que antes dele muitos tinham descrito os
sofrimentos do proletariado e indicado a necessidade de lhe prestar ajuda.
Engels foi o primeiro a declarar que o proletariado não é só uma classe que sofre
mas que a miserável situação económica em que se encontra empurra-o irresistivelmente
para a frente e obriga-o a lutar pela sua emancipação definitiva. E o
proletariado em luta ajudar-se-á a si mesmo. O movimento político da classe operária
levará inevitavelmente os operários à consciência de que não há para eles outra
saída senão o socialismo. Por seu lado, o socialismo só será uma força quando
se tornar o objectivo da luta política da classe operária. Tais são as ideias fundamentais
do livro de Engels sobre a
situação da classe operária em Inglaterra, ideias hoje aceites por todo o
proletariado que pensa e luta, mas que eram então absolutamente novas. Estas
ideias foram expostas numa obra escrita num estilo cativante, onde abundam os
quadros mais verídicos e impressionantes da miséria do proletariado inglês.
Este livro era uma terrível acusação contra o capitalismo e a burguesia.
Produziu uma impressão muito grande. Em breve, por toda a parte começaram a
referir-se a ele como o quadro mais fiel da situação do proletariado contemporâneo.
E, com efeito, nem antes nem depois de 1845
apareceu uma descrição tão brilhante e tão verdadeira dos males sofridos pela
classe operária». In Obras Escolhidas de Vladimir Ilitch Lénine, Friedrich
Engels, tradução das Obras Completas
de V. I. Lénine, 5ª Edição em russo, Edição da Editorial Avante, 1977.
A amizade de Luís Sá e José
Casanova
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