Luz
estranha
«De
que é essa luz estranha
que
ao longe se vê brilhar,
no
mais alto da montanha,
sempre,
sempre a cintilar,
onde
o mato se emmaranha
como
fios num tear?
Move-se
de vez em quando
de
tal forma, que parece,
uma
estrelinha saltando
assim
que a noite adormece,
ou
raio de sol bailando
por
sobre a aloirada messe!
Será
o alfange dum moiro
nalgum
combate sangrento,
ou
grandes moedas d'oiro
que
estejam lançando ao vento,
de
inesgotável tesoiro
dalgum
Cresus avarento?
Que
luz estranha é aquela,
que
depois dum arrebol,
nesta
manhã fresca e bela,
brilha
tanto á luz do Sol?
Luz
de estrela não é ela
nem
é facho de farol.
Subo
a montanha elevada;
transponho
essa grande altura;
que
vejo da luz doirada
que
a minha vista procura?
Veio
o aço duma enxada
abrindo
uma sepultura!!»
Poema de Frederico Brito, in ‘Terra
Brava’
In
J. Frederico Brito, Terra Brava, Versos, Empresa Nacional de Publicidade,
Lisboa, 1932.
Cortesia
ENPublicidade/JDACT