terça-feira, 11 de novembro de 2014

Poesia. Escrita. António Pelarigo. «De todas as palavras escolhi água, porque lágrima, chuva, porque mar porque saliva, bátega, nascente porque rio, porque sede, porque fonte. De todas as palavras escolhi dar»

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«Quem me quiser há-de saber as conchas
a cantigas dos búzios e do mar.
Quem me quiser há-de saber as ondas
e a verde tentação de naufragar.
Quem me quiser há-de saber as fontes,
a laranjeira em flor, a cor do feno,
à saudade lilás que há nos poentes,
o cheiro de maçãs que há no inverno.
Quem me quiser há-de saber a chuva
que põe colares de pérolas nos ombros
há-de saber os beijos e as uvas
há-de saber as asas e os pombos.
Quem me quiser há-de saber os medos
que passam nos abismos infinitos
a nudez clamorosa dos meus dedos
o salmo penitente dos meus gritos.
Quem me quiser há-de saber a espuma
em que sou turbilhão, subitamente
ou então não saber a coisa nenhuma
e embalar-me ao peito, simplesmente».
Poema de Rosa Lobato de Faria,


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