quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Vento da Serra. A Oliveira. Jazz. «Foi um moço cavador, que me pôs com todo o amor neste chão abençoado; e depois de estar criada, eu dei-lhe o cabo da enxada e o timão do seu arado»

jdact e wikipedia

Vento da Serra
«Que ondas faz o vento pela seara d'oiro!...
Vai em remoinhos, corre á desfilada,
como vê maduro todo o trigo loiro,
próxima a colheita daquele tesoiro,
parece medi-lo duma só braçada.

Mas depois nas eiras, voltará o vento
sacudindo as palhas, a limpar o grão,
a bailar em roda num contentamento
e a contar os bagos sem um desalento,
p'ra saber ao certo quantos moios são.

Andará nas serras como um torvelinho;
subirá aos montes de maior altura,
a soprar nas velas brancas, do moinho,
espreitando á porta, p'ra contar baixinho
quantos são os sacos de farinha pura.

E andará gemendo por entre os pinheiros;
mal o vento sabe que uma dor consome
é que o trigo, fica preso nos celeiros;
e há tantos mendigos, velhos caminheiros,
A dormir sem cama e a morrer à fome!»


A Oliveira
«Sentei-me á sombra fagueira
duma frondosa oliveira,
posta à beira dum caminho;
nem uma folha tremia;
e no silêncio, eu ouvia-a
murmurar muito baixinho:

Foi um moço cavador,
que me pôs com todo o amor
neste chão abençoado;
e depois de estar criada,
eu dei-lhe o cabo da enxada
e o timão do seu arado.

Quis dar-lhe a trave do lar;
dei-lhe a lenha p'ra queimar,
dei-lhe o azeite da ceia.
Dava-lhe a sombra no estio
e em noite d'inverno frio
dava-lhe a luz da candeia.


Vi-o velhinho e cansado,
dei-lhe o nodoso cajado,
mas, fosse lá p'lo que fosse,
farto da vida, buscou-me;
veio a meus braços, mirou-me
e neste ramo enforcou-se!

Olhei a triste oliveira,
a dar-me a sombra fagueira
nesse dia abrasador;
‘stava cheinha de fruto,
como coberta de luto
p'la morte do cavador».
Poemas de J. Frederico Brito, in ‘Terra Brava

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