sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Infante Afonso Sanches. Senhor de Portalegre. «… Fernão S. Barbudo, ‘o mordomo do senhor de Portalegre’, e que vêm a morrer no enfrentamento, e de Martim Vasques Soverosa II, provavelmente vassalo do infante, entre muitos outros a que as fontes não aludem»

jdact e cortesia de wikipedia

A Herança d’O Bolonhês
«(…) Mas foi acima de tudo o facto de Álvaro Nuñez ser um dos principais apoiantes de Afonso de la Cerda, filho do primogénito de Afonso X, Fernando de la Cerda, morto em 1275, e que continuava a disputar com Sancho IV os direitos à Coroa de Castela, que ditou a insurreição do Lara. O primeiro sinal da aliança com Afonso parece ter sido o apoio prestado a uma cavalgada liderada pelo próprio Álvaro Nuñez contra a região do Riba-Côa, no final da Primavera de 1287. Ora, tendo esta incursão sido travada pelas milícias concelhias de Alfaiates e de outras localidades próximas, é muito possível que as forças do Lara tenham partido da Guarda, localidades que distam apenas 45 quilómetros, cuja tenência pertencia, recorde-se, desde 1279 ou 1280, ao seu aliado português. Esta é, aliás, uma informação que se compagina com o testemunho do conde Pedro, que na Crónica Geral de Espanha de 1344 refere que das fortalezas do infante dom Afonso, [Álvaro Nuñez] fazia muito mal em Castela. Mas o apoio prestado nesta ocasião, e provavelmente noutras anteriores, como no caso do confronto ocorrido nas imediações de Miranda do Douro e em que morreu Nuno Rodrigues Bocarro que andava em companhia de D. Álvaro Nuñez Lara, ter-se-á também expressado na integração de forças portuguesas na hoste do Lara. Foi o caso das mesnadas de Fernão e Sentil Soares Barbudo, irmãos de Fernão Soares Barbudo, o mordomo do senhor de Portalegre, e que vêm a morrer precisamente nesse enfrentamento, e de Martim Vasques Soverosa II, provavelmente vassalo do infante, entre muitos outros a que as fontes não aludem. No mesmo sentido aponta frei Francisco Brandão na Monarquia Lusitana, segundo o qual o infante teria obrigado a gente da mesma cidade e comarca [da Guarda] a entrar nestas revoltas. Muitos não passariam de mesteirais, camponeses e pastores recrutados compulsivamente e armados com pouco mais que um chuço ou uma foice presa a uma haste de madeira, que decerto integrara aquelas hoste por medo de retaliações e de represálias. Não são abundantes as informações acerca deste confronto, ocorrido nas proximidades de Alfaiates, no qual o infante não terá participado pessoalmente, sabendo-se apenas que as forças do Lara sofreram uma estrondosa derrota, que se saldou num elevado número de baixas.
Terá sido na sequência do apoio militar prestado a Álvaro Nuñez na Primavera de 1287 que o rei, indignado com o posicionamento do infante, diametralmente oposto à política da Coroa de boas relações com a monarquia castelhana, se desloca pessoalmente à Guarda nos finais de Junho com a intenção de fazê-lo mudar de atitude. Do que então sucedeu nada se sabe, mas é muito possível que Afonso se tenha mantido irredutível, acabando, por isso, como sustenta Fernando Félix Lopes, por ser afastado do comando da tenência dessa cidade beirã. Com efeito, no dia 22 de Julho surge identificado apenas como tenente de Lamego, Viseu e Trasserra. É também por esses dias, em altura que não é possível precisar, mas que talvez tenha ocorrido na segunda quinzena de Julho, que os reis de Portugal e de Castela se reúnem na localidade do Sabugal para debater quais as acções a tomar face ao problema, que ambos sabiam que só poderia ter uma solução: a guerra. O encontro do rei Dinis I e de Sancho IV selou, portanto, o destino do infante e do seu aliado, pois foi nessa ocasião que os dois monarcas decidiram levar a cabo uma acção militar conjunta contra Afonso e o Lara. Apesar da necessidade de responder de imediato às acções dos rebeldes, foram necessários ainda alguns meses para mobilizar os meios necessários, o que levou a que a campanha tivesse decorrido apenas em finais do Outono / princípios do Inverno, ou seja nos períodos considerados menos propícios para a actividade bélica.
Antes de avançar na direcção de Arronches, onde o infante e o seu aliado se tinham refugiado, o rei convocara a hoste para a cidade da Guarda. Ainda que em termos estratégicos esse fosse um local indicado para lançar uma ofensiva sobre o Alto Alentejo, não deixa também de ser uma escolha carregada de simbolismo, já que, dessa forma, a campanha seria iniciada precisamente numa terra, por um lado, cuja tenência tinha pertencido a Afonso e, por outro, a partir de onde o Lara havia lançado as suas incursões contra território castelhano. É provável, embora não seja seguro, que nesta altura, ao contrário do que havia sucedido em 1281, a hoste régia portuguesa tivesse já a participação de um número significativo de ricos-homens detentores de tenências. De facto, com Dinis I encontravam-se o alferes-mor Martim Gil de Riba de Vizela, o chanceler Domingos Anes, Mem Rodrigues de Briteiros, João Rodrigues de Briteiros, Pedro Anes de Portel, Martim Anes de Soverosa, Fernão Peres Barbosa, Martim Mendes de Briteiros, Lourenço Soares de Valadares e Durão Martins de Parada, o arcebispo de Braga e os bispos de Coimbra, Porto, Lisboa, Silves, Guarda, Lamego e Évora. Para além destas figuras, o rei obtivera ainda a participação de outros sectores da nobreza, designadamente de alguns cavaleiros como Gonçalo Martins Cunha que, assumindo publicamente o receio de vir a perecer em combate, lavrou o seu testamento imediatamente antes de partir para a campanha de 1287. Segundo frei Francisco Brandão, o rei terá ainda contado com o apoio de alguns contingentes fornecidos pelas ordens militares, porém, a documentação não corrobora esta hipótese». In Miguel Gomes Martins, Guerreiros Medievais Portugueses, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2013, ISBN 978-989-626-486-4.

Cortesia Esfera dos Livros/JDACT