terça-feira, 18 de novembro de 2014

Poesia. David Mourão-Ferreira. «Fui ao campo, e vi os ramos decepados e torcidos: ó meu amor, se ficamos, pobres dos nossos sentidos. Hão-de transformar o mar deste amor numa lagoa: e de lodo hão-de a cercar, porque o mundo não perdoa»

jdact e wikipedia
Ilha
«Deitada és uma ilha e raramente
surgem ilhas no mar tão alongadas
com tão prometedoras enseadas
um só bosque no meio florescente.

Promontórios a pique e de repente
na luz de duas gémeas madrugadas
o fulgor das colinas acordadas
o pasmo da planície adolescente.
 
Deitada és uma ilha que percorro
descobrindo-lhe as zonas mais sombrias
Mas nem sabes se grito por socorro
 
ou se te mostro só que me inebrias.
Amiga amor amante amada eu morro
da vida que me dás todos os dias»
  
 
Primavera
«Todo o amor que nos
prendera
como se fora de cera
se quebrava e desfazia
ai funesta primavera
quem me dera, quem nos dera
ter morrido nesse dia

E condenaram-me a tanto
viver comigo meu pranto
viver, viver e sem ti
vivendo sem no entanto
eu me esquecer desse encanto
que nesse dia perdi

Pão duro da solidão
é somente o que nos dão
o que nos dão a comer
que importa que o coração
diga que sim ou que não
se continua a viver

Todo o amor que nos
prendera
se quebrara e desfizera
em pavor se convertia
ninguém fale em primavera
quem me dera, quem nos dera
ter morrido nesse dia».
Poemas de David Mourão-Ferreira

Amigo Anthímio. Um abraço. 
Pela tua Paz!

JDACT