terça-feira, 11 de novembro de 2014

Lágrimas de Ametista. Maria Mar Carvalho. «E de repente ao voltar a lua esta visão que o tempo alonga voltou ao mar, mergulhou na espuma, e engolida por uma alta onda»

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Busca
«Se algum dia pudesses saber
o que a vida, na rocha, gravou
quando o vento, num dos seus caprichos,
no teu caminho
meus passos guiou.
Só o mar, ao longe,
com ondas suaves
num véu de espuma
enrolando na areia,
só ele me viu,
quando eu, sozinha,
mostrava a mão a uma gentil sereia.
E ela, dona do saber dos tempos,
olhou o céu e o mar sem fim
fitou-me o rosto,
pegou-me na mão.
E, com doçura, falou-me assim:
já percorreste um longo caminho
e já caíste no pó da calçada,
mas a coragem de que te vestiste
sempre aplainou
tua longa estrada.
Tens força firme na tua mão pequena,
e grande força para caminhar,
no chão da vida,
desta agreste arena,
no céu azul tens que procurar.
Procura bem ao longo do dia,
desfolha os tempos
sem te fatigar,
prossegue a busca
neste sol sem medo,
procura sempre, até encontrar.
Há uma alma
semelhante à tua
muito p’ra lá deste longo mar
e não te percas, nesta vida dura,
e não te esqueças de a procurar.
E ela sofre, louca, à tua espera
e ela anseia que a vás buscar.
Não te percas por esses caminhos,
não te distraias com coisas banais,
é muito longo o tempo da espera,
e muito sofre quem espera demais.


E de repente
ao voltar a lua
esta visão que o tempo alonga
voltou ao mar,
mergulhou na espuma,
e engolida por uma alta onda.

Mais uma vez eu fiquei sozinha,
acompanhada da solidão,
mas uma luz para mim caminha
e lá de longe me estende a mão.
Parto à procura da promessa linda,
que a sereia acaba de ditar
e com coragem
e passo firme ainda
vou correr mundo até te encontrar.
Poema de Maria Mar de Carvalho, in ‘Lágrimas de Ametista’, 1 de Fevereiro de 1989

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