«(…) Os seus olhos deslocaram-se
para uma fotografia recente, em moldura de prata, que se encontrava num canto
da mesa. A esposa, Miriam, atraente nos seus trinta e poucos anos, o filho
risonho, Jonny, uma fonte de alegria. Freeberg pensou na sua idade; já se
aproximava dos cinquenta anos, um pouco tarde para o primeiro filho..., mas nem
tanto assim. Meneando a cabeça, ele pegou as anotações e tentou-se concentrar
no que escrevera. Reviu tudo depressa, depois largou os papéis. Já sabia tudo
de cor e não precisaria consultar as anotações quando se dirigisse aos novos
suplentes sexuais. Tinha ainda quinze minutos de espera antes que os cinco
aparecessem. Quase como um relaxamento, pôs-se a reconstituir os acontecimentos
dos últimos quatro meses, que o haviam levado àqueles momentos. Reviveu-os no
presente. Duas semanas após o telefonema inicial de Freeberg, Roger Kile
concluíra as suas investigações em Los Angeles, encontrando o local ideal. Só
que não exactamente em Los Angeles. Kile fora informado de que nessa cidade já
havia muitos terapeutas sexuais, e os lugares mais apropriados estavam sendo
vendidos a preços exorbitantes. Mas seguindo os conselhos de especialistas,
Kile sempre fora um investigador sagaz, mesmo na faculdade de direito, em
Columbia, com um conhecimento e interesses amplos, embora fosse um advogado
fiscal, encontrara a comunidade em que o amigo poderia prosperar, a uma hora de
carro de Los Angeles, ao norte. O lugar chamava-se Hillsdale, uma cidade em
expansão, junto à estrada litoral, perto do oceano Pacífico, com 360 mil
habitantes. Havia muitos psiquiatras e psicólogos, mas nenhum terapeuta sexual.
Contactos bem informados garantiram a Roger Kile que uma clínica instalada por
um terapeuta sexual respeitável em Hillsdale, com uma equipa de suplentes
sexuais bem treinados e profissionais, haveria de prosperar. Kile fora
informado por diversos médicos que em Hillsdale havia muitas pessoas
perturbadas, com disfunções sexuais.
Kile procurara dois correctores
bem recomendados, que logo o levaram a quatro prédios de escritórios pequenos,
que pareciam ser boas possibilidades. Freeberg reconhecera o prédio perfeito de
imediato, com dois andares, vazio, desocupado pouco antes por uma cadeia de
lojas de roupas, no meio da Market Avenue, perto da Main Street. Tudo fora se
ajustando rapidamente. Freeberg contratara um jovem e excelente arquitecto para
reformar o prédio nas linhas da sua clínica de Tucson. Depois, Freeberg voltara
de avião a Tucson para liquidar a antiga clínica. Miriam cuidara da venda da
casa de adobe, em estilo de rancho, conseguindo um preço igual ao que haviam
pago. Foram a Hillsdale quatro vezes no período subsequente. Enquanto Freeberg
supervisionava a reforma do prédio da clínica, Miriam procurava uma nova casa.
Encontrara uma residência maravilhosa, de um só andar, a aproximadamente cinco quilómetros
da nova clínica do marido.
Freeberg
começara a recrutar o pessoal necessário para a clínica. Por intermédio de um médico
que tinha um consultório próximo, doutor Stan Lopez, um clínico que lhe
inspirara o maior respeito, Freeberg contratara Suzy Edwards para sua
secretária pessoal. Lopez vinha usando Suzy como segunda secretária em meio
expediente, e sabia que ela desejava um emprego em horário integral. Freeberg
entrevistara Suzy, uma ruiva séria e interessada, com cerca de trinta anos. Ela
mostrara-se ansiosa pelo emprego, e Freeberg já fora informado de que era uma
pessoa de confiança. Depois, ele contratara Norah Ames como enfermeira e Tess
Wilbur como recepcionista. Em seguida, Freeberg enviara cartas pessoais a todos
os médicos e psicólogos da região que conhecera em convenções e seminários,
comunicando a abertura da Clínica Freeberg, em Hillsdale, Califórnia,
oferecendo tratamento intensivo e o uso de suplentes sexuais femininos e masculinos,
quando houvesse necessidade. Enquanto aguardava respostas, Freeberg iniciara a busca
de suplentes sexuais. A fim de encontrar candidatos, escrevera cartas pessoais
para psicanalistas em Hillsdale e terapeutas sexuais em Los Angeles, Santa Barbara,
San Francisco, Chicago e Nova York. Em poucas semanas recebera vinte e três
solicitações de pessoas que desejavam ser suplentes sexuais. Enquanto isso,
recolhera informações a respeito de pacientes que precisavam desesperadamente
daquele tipo de terapia. Com base nessas informações, concluíra que precisaria
de cinco suplentes sexuais, quatro mulheres e um homem, além dos serviços de
Gay le Miller, que em breve deixaria Tucson e viria para Hillsdale». In Irving Wallace, O
Leito Celestial, 1987, Livros do Brasil, colecção Dois Mundos, nº 166, Lisboa,
ISBN 978-972-380-576-5.
Cortesia de LdoBrasil/JDACT