sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Esplendor da Honra. Julie Garwood. «Enquanto a sua ávida audiência olhava, o cativo podia dedicar-se a contemplar os seus objectos enquanto ia congelando pouco a pouco até morrer»

Cortesia de wikipedia e jdact

Inglaterra 1099
«Pretendiam matá-lo. O guerreiro estava de pé no centro do pátio deserto, com as mãos atadas as costas e sujeita por uma corda a um poste que tinha sido fincado no chão detrás de suas costas. A sua expressão achava-se desprovida de qualquer emoção, enquanto olhava para diante, sem fazer aparentemente caso de seus inimigos. O cativo não tinha oferecido nenhuma classe de resistência, permitindo que os seus captores o despissem até à cintura sem nem sequer levantar um punho ou pronunciar uma palavra de protesto. A sua magnífica capa para o Inverno forrada de pele, a sua grossa cota, a sua camisa de algodão, as suas meias e as suas botas de couro tinham-lhe sido arrancadas e jogadas no chão gelado, diante dele. A intenção que guiava os seus inimigos não podia ser mais clara. O guerreiro morreria, mas sem que a sua morte chegasse a trazer consigo nenhuma nova marca para acrescentá-la ao seu corpo, já famoso pelas cicatrizes da batalha. Enquanto a sua ávida audiência olhava, o cativo podia dedicar-se a contemplar os seus objectos enquanto ia congelando pouco a pouco até morrer.
Doze homens o rodeavam. Com as facas desembainhadas para dar-se valor, aqueles homens andavam em círculos ao redor do cativo, zombando-se dele e gritando insultos e obscenidades enquanto os seus pés calçados com botas chutavam o chão num esforço por manter afastada, a gélida temperatura. Mesmo assim, todos e cada um deles se mantinham a uma prudente distância dele, se por acaso chegasse a dar o caso de que, no momento o dócil cativo trocasse subitamente de parecer e, decidisse liberar-se das suas ataduras e atacá-los. Não lhes cabia nenhuma dúvida de que era perfeitamente capaz de tal façanha, porque todos tinham escutado as histórias que se contavam da sua hercúlea força. Alguns inclusive tinham podido presenciar numa ou duas ocasiões as tremendas proezas que era capaz de levar a cabo no curso da batalha. E se o cativo se liberava das cordas que o sujeitavam ao poste, os homens se veriam obrigados a utilizar as suas facas, mas não antes de que o guerreiro tivesse enviado a três, ou possivelmente quatro deles, à morte.
O líder daquele grupo de doze homens, não podia acreditar na sua boa sorte. Tinham capturado Wolf e não demorariam para presenciar sua morte. Que engano tão terrível tinha cometido o seu cativo ao deixar-se arrastar pela temeridade! Sim, Duncan, o poderoso barão dos feudos do Wexton, tinha entrado na fortaleza do seu inimigo cavalgando completamente só, e sem levar consigo nenhuma única arma com a qual pudesse defender-se. Tinha cometido a insensatez de acreditar que Louddon, um barão que era igual a ele no título, faria honra à trégua temporária que havia entre eles. Tem que estar muito convencido da sua própria reputação, pensou o homem que mandava. Realmente, deve se ter por tão invencível como asseguravam que era naquelas histórias de grandes batalha que tanto tinham chegado a exagerar. Sem dúvida essa era a razão para que o barão do Wexton parecesse sentir-se tão pouco preocupado pelas terríveis circunstâncias nas quais se encontrava agora.
Uma vaga sensação de inquietação foi infiltrando-se pouco a pouco na mente do líder daqueles homens, enquanto contemplava o seu cativo. Tinham-no despojado de toda a sua valia, fazendo farrapos o emblema que proclamava o seu título e a sua dignidade, e assegurando-se de que não ficasse nem um só vestígio do nobre civilizado. O barão Louddon queria que o seu cativo morresse sem nenhuma dignidade ou honra. E entretanto, o guerreiro quase nu que tão orgulhosamente se elevava ante eles não estava respondendo no mais mínimo desejos do Louddon. O barão do Wexton não se estava comportando como teria esperado de um homem que vai morrer. Não! O cativo não suplicava pela sua vida ou choramingava pedindo um rápido final. Tampouco tinha o aspecto de um agonizante. Não lhe tinha colocado a pele arrepiada, e esta, não havia empalidecido, mas sim estava bronzeada pelo sol e curtida pela exposição ao mau tempo. Maldição! Mas se nem sequer tremia! Sim, eles tinham despido o nobre, e entretanto debaixo de todas as capas de refinamento achava-se presente o orgulhoso senhor da guerra, mostrando-se tão primitivo e carente de medo como contavam todas aquelas histórias que corriam a respeito dele. O Wolf tinha ficado subitamente revelado ante os seus olhos.
As brincadeiras dos primeiros momentos já tinham cessado. Agora só se podia ouvir o estrondo do vento que uivava através do pátio. O líder dirigiu a sua atenção para os seus homens, os quais permaneciam imóveis formando uma roda de pessoas a escassa distância dele. Todos mantinham os olhos cravados no chão. Ele sabia que evitavam olhar o cativo. Não podia culpá-los por aquela exibição de covardia, também lhe estava muito árduo o trabalho de olhar directamente aos olhos do guerreiro. O barão Duncan das terras do Wexton era ao menos uma cabeça mais alto que o mais corpulento de todos os soldados presentes. Com os seus grossos e musculosos ombros e coxas, e com as suas largas e robustas pernas bem separadas e firmemente plantadas no chão, a sua postura indicava que era capaz de matar a todos... No caso de que se sentisse inclinado a isso». In Julie Garwood, Esplendor da Honra, Universo dos Livros, ISBN 978-855-030-137-2.

Cortesia de UniversodosL/JDACT