sexta-feira, 3 de agosto de 2018

O Manuscrito. John Grisham. «Claro. Bem, vamos ao trabalho. O assistente abriu duas das grandes gavetas, ambas etiquetadas com o nome This Side of Paradise, e retirou uns cadernos volumosos»

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O Assalto
«(…) O homem que se fazia passar pelo professor Neville Manchin chegou a Princeton num bonito dia de Outono, no início de Outubro. Foi encaminhado para o Departamento de Livros Raros e colecções Especiais, onde conheceu Ed Folk, que o passou depois para outro bibliotecário assistente, que examinou e fotocopiou a sua carta de condução do Oregon. É claro que era uma falsificação, mas perfeita. O falsificador, que era também o pirata informático, tinha sido treinado pela CIA e tinha uma longa história no mundo obscuro da espionagem privada. Romper a pouca segurança do campus não era propriamente um grande desafio. O professor Manchin foi depois fotografado e deram-lhe um cartão de identificação que tinha de estar visível o tempo todo. Seguiu o bibliotecário assistente até ao segundo piso e entrou numa grande sala com duas mesas compridas e paredes forradas com gavetas de aço retráteis, todas elas fechadas à chave. Manchin identificou pelo menos quatro câmaras de vigilância aos cantos, junto ao tecto, câmaras que estavam ali para serem vistas. Desconfiava que houvesse outras, bem escondidas. Tentou conversar com o bibliotecário assistente, mas não conseguiu grande coisa. Perguntou em tom de brincadeira se podia ver o manuscrito original de This Side of Paradise. O bibliotecário assistente esboçou um sorriso presunçoso e disse que não seria possível. Alguma vez viu os originais?, perguntou Manchin. Uma única vez.
Seguiu-se uma pausa enquanto Manchin esperava por mais informação, mas acabou por perguntar: e qual foi a ocasião? Bem, um académico famoso gostava de vê-los. Acompanhámo-lo até ao cofre-forte e deixámo-lo dar uma vista de olhos. Mas não tocou nos papéis. Só o bibliotecário-chefe está autorizado a fazê-lo, e apenas com luvas especiais.
Claro. Bem, vamos ao trabalho. O assistente abriu duas das grandes gavetas, ambas etiquetadas com o nome This Side of Paradise, e retirou uns cadernos volumosos e muito grandes. Aqui estão as críticas que o livro recebeu quando foi publicado, disse ele. Temos muitas outras amostras de críticas posteriores. Perfeito, disse Manchin com um sorriso. Abriu a sua pasta, tirou um bloco de notas e mostrou-se pronto para atacar todo o material disposto sobre a mesa. Meia hora mais tarde, com Manchin embrenhado no seu trabalho, o bibliotecário assistente pediu licença e desapareceu. Manchin nunca olhou para cima, por causa das câmaras. Por fim, precisou de ir à casa de banho e saiu dali. Virou uma vez no sentido errado e voltou a fazê-lo, perdeu-se propositadamente e foi avançando pelas Colecções, evitando o contacto com quem quer que fosse. Havia câmaras de vigilância por todo o lado. Duvidava que alguém estivesse naquele momento a observar as imagens, mas podiam sempre recuperá-las, se necessário. Encontrou um elevador, evitou-o e desceu pela escada adjacente. O piso imediatamente abaixo era semelhante ao do rés do chão. A seguir, a escada terminava no C2 (Cave 2), onde havia uma porta grande e maciça com os dizeres Só em caso de emergência pintados em letra destacada. Junto à porta, havia um teclado e outra placa que alertava para o facto de soar um alarme assim que a porta fosse aberta sem a devida autorização. Duas câmaras de segurança vigiavam a porta e a área circundante.
Manchin recuou e regressou pelo mesmo caminho. Quando voltou à sala de trabalho, o assistente estava à sua espera. Está tudo bem, professor Manchin?, perguntou. Oh, sim! Receio apenas estar com um princípio de virose. Espero que não seja nada contagioso». In John Grisham, O Manuscrito, 2017, Bertrand Editores, 2018, ISBN 978-972-253-544-1.

Cortesia de BertrandE/JDACT