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Com
a devida vénia ao Doutor Douglas Xavier Lima
«(…) Stéphane Péquignot lembra que foi na sociedade
oitocentista que as pesquisas, tomando como base os trabalhos de Otto Krause e
Adolf Schaube, inclinaram-se ao problema das origens do direito internacional
e, principalmente, das embaixadas permanentes. Formou-se, segundo o autor, o
ponto de ruptura entre a diplomacia medieval, caracterizada pelas embaixadas ad hoc, e a diplomacia moderna,
marcada pelas representações permanentes. A partir destas delimitações e
pautada numa história événementielle
a área afirmou-se e fundou as bases que seriam alvo de crítica após a
Primeira Guerra Mundial. Foi em plenas Grandes Guerras que as Relações Internacionais
se estruturaram como campo académico e desprenderam-se da História Diplomática.
Tal movimento direccionou a área aos problemas da contemporaneidade, em
especial à compreensão da natureza da guerra a fim de promover a paz entre as
nações. Esse período pode ser sintetizado na criação da cátedra Woodrow Wilson
de Política Internacional, em 1919, na Universidade de Gales, com académicos
preocupados em livrar a humanidade de novas guerras e promover a paz através do
estudo das relações internacionais, e nas publicações de Edward Carr, The Twenty Year’s Crisis – 1919-1939 (1939),
e Hans Morgenthau, Politics Among
Nations (1948), que sustentavam que a nova área deveria se concentrar
no estudo das relações de poder entre os Estados, perspectiva que fundamentaria
a teoria realista das Relações Internacionais.
Ao analisar o período do pós-guerra, Jean Thobie assinalou que
na França a área assumiu a influência do método marxista aplicado à história,
as críticas do movimento dos Annales,
e os debates sobre as origens da guerra. Nesse contexto francês destacam-se
dois aspectos que tiveram impacto na historiografia e implicações nos estudos
medievais. Em primeiro lugar, a ascensão dos Annales. Lucien Febvre, em Contra a história
diplomática em si. História ou Política? Duas reflexões: 1930, 1945, favoreceu
o recuo da temática entre os historiadores, formulando as bases da crítica a
uma História Diplomática restrita aos documentos oficiais e aos usos
protocolares, caracterizada por não avançar em problemas mais profundos, a
mesma profundidade proposta pelos Annales.
No bojo desse movimento lembra-se ainda da centralidade adquirida pela
história económico-social entre os anos 30 e 60, expressa na produção de
Braudel e Labrousse, na qual as anteriores preocupações da diplomacia são
deixadas de lado.
Em seguida, recupera-se a senda aberta por Pierre Renouvin,
que se inclinou a reflectir acerca das forças profundas, por exemplo,
geografia, demografia, economia e mentalidades colectivas, envolvidas nas
relações internacionais. O autor, ao organizar a colecção Histoire des Relations Internationales,
nos anos 50, e, juntamente com Jean-Baptiste Duroselle, publicar a obra Introduction à l’histoire des Relations
Internationales (1964), favoreceu a aproximação entre o
movimento francês de mudanças historiográficas e o campo das RI. Acrescenta-se
que Renouvin confiou a François Ganshof a redacção do primeiro volume da Histoire des Relations Internationales,
permitindo que o medievalista desenvolvesse um expressivo ensaio acerca da
Idade Média, estudo esse que permanece um clássico na historiografia e será
retomado mais à frente. Num balanço recente das correntes historiográficas
francesas dos séculos XIX e XX, Pierre Renouvin aparece descrito como o
terceiro grande mestre da história do pós-guerra [ao lado de Braudel e
Labrousse] (...). O verdadeiro fundador de uma história renovada das relações
internacionais, especialmente por sua noção de forças profundas. No que pese os
limites de tal afirmação fora do ambiente académico francês, observa-se que a
inclinação de Renouvin reorientou as preocupações de pesquisa na França,
contribuindo para a passagem da História Diplomática para a história das Relações
Internacionais, assim como constituiu o campo das RI através do diálogo com as
demais ciências sociais, com ênfase especial nos problemas económico-sociais». In Douglas
M. Xavier Lima, A Diplomacia Portuguesa no Reinado de D. Afonso V (1448-1481),
Tese de Doutoramento História Medieval, Universidade Federal Fluminense, Departamento
de História, Niterói, 2016.
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