Cortesia
de wikipedia e jdact
«(…) É do senso comum afirmarmos
que os séculos finais da Idade Média se caracterizaram por uma profunda e
generalizada crise. As sucessivas análises feitas sobre os documentos sugerem,
embora não de forma pacífica, que o problema fundamental radica numa grave
crise de crescimento, sujeita a constantes reajustamentos demográficos e
reordenações do processo produtivo, que arrastam consigo modificações profundas
nos vários grupos sociais, muitas vezes desenvolvidas de forma violenta e que
desorganizam por completo o tradicional modelo político-económico dos séculos
anteriores. O século XIV conhece fortes contracções demográficas que, aliadas à
consolidação das estruturas urbanas directamente vocacionadas para um modelo de
economia de mercado, condicionam, de forma definitiva, o velho mundo rural. É a
aristocracia um dos grupos sociais mais afectados por estes tempos de crise. A
constante atracção que os núcleos urbanos exercem sobre os trabalhadores rurais
provoca um exaurir de forças no trabalho da terra. Os campos dos nobres vão-se
despovoando, abandonando estes a constante luta pelo arroteamento, garantia do
aumento da produção. Com toda a indiferença, como só a natureza é capaz,
observa-se a vingança do saltus
sobre o ager.
A mancha de terras, arduamente
domesticadas ao longo de todo o século XIII, vai sendo paulatinamente consumida
pelos matos daninhos, afastado que está agora o seu supremo predador: o Homem. Este
abandono dos espaços aráveis precipita a queda dos rendimentos, debilitando os
senhorios, especialmente os eclesiásticos que, não poucas vezes, procuram o
subsídio régio. O que aliás Almoster faz amiúde encontrando quase sempre um
apoio do monarca, gerador de desconforto nas duas comunidades vicinais mais
próximas: Alenquer e Santarém. O desenvolvimento do senhorialismo e das
estruturas municipais precipita, nestes finais do mundo medievo, uma rápida
cristalização da organização social do espaço rural. Privilégios e formas de
dependência são cada vez mais complexos, condicionando os homens e
hierarquizando os espaços. Os homens dos núcleos urbanos, fossem do rei, da
nobreza ou do clero, possuem cada vez mais o poder de intervir e condicionar a
realidade campesina.
Em Portugal são as décadas de
trinta e quarenta que tornam visíveis os sintomas da crise. A grande
pestilência que começa em 1348 e se prolonga até aos primeiros meses do ano
seguinte, teve o especial condão de acelerar a mortalidade por todo o nosso
País. Não é, todavia, o único agente. Deve ser associada a frequentes surtos de
peste surgidos regularmente até ao fim do século XIV. As guerras contra Castela
e desequilíbrios climáticos e ecológicos, que afectaram de forma traumatizante
toda a Europa cristã, são outras variáveis a ter em conta no diagnóstico da
crise. O mosteiro de Almoster é um destes senhorios afectados pela crise que durante
todo o século XIV se abate sobre Portugal procuram formas e processos de
subsistência que lhe permitam lutar contra esta fase de retracção. Visando ser
um estudo sobre a propriedade da casa monacal de Almoster, desde o período da
sua formação até aos primeiros tempos do reinado de João I, este trabalho não
pode, obviamente, ser encarado como uma monografia total sobre a importância
daquele mosteiro medieval, nem sequer, como uma aproximação a tal objectivo.
Tal facto, contudo, não impede que os resultados obtidos, sirvam como
indicadores para um conhecimento, que apesar de relativo, nos pode permitir
sondar os aspectos de uma realidade que se prevê mais complexa». In
José Manuel H Varandas, Monacato Feminino e Domínio Rural, O Património do
Mosteiro de Santa Maria de Almoster no século XIV, 1995, Faculdade de Letras,
Universidade de Lisboa, Wikipédia.
Cortesia de FLetras/ULisboa/JDACT