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Os
cinco cavaleiros
«(…) Acompanhou-nos sem
entusiasmo, meu amigo. Ao contrário! Mas confesso que sinto saudades de Hélène,
a minha jovem esposa. Quanto mais rápido terminarmos, mais rápido estarei nos
braços dela. Ele sabia muito bem que Hélène seria paciente. Ela lhe dera o seu
amor e a sua adolescência. Ela o presenteara com os seus dezasseis anos, para
recebê-lo no seu corpo e no seu coração, como um amante paternal. Venha, Payns,
vamos descer. Payns não pôde deixar de perscrutar o convés uma última vez,
certo de que não fora vítima de uma miragem. Havia, realmente, alguém atrás da
porta da cabine. Alguém que, certamente, escutara o juramento. Payns seguiu
Arcis, que iluminava a escada com a lanterna. Uma presença nefasta... O
cavaleiro não quis confessar ao companheiro que, muitas vezes, era capaz de perceber
o que os seus semelhantes ignoravam. A sua mente conseguia vasculhar a malha
invisível das almas que o cercavam. No impalpável tecido do presente, às vezes,
isolava uma impressão externa, um sentimento longínquo... E ali, naquela noite,
ele sentiu o Mal tocá-lo.
Nove dias depois, a maioria dos
peregrinos se apertava no lado leste do convés da nau para ver Ascalão emergir
de uma bruma de calor que a tornava quase irreal. Dizem que os francos de
Godofredo de Bulhão massacraram mais de dez mil pessoas no primeiro ataque à
cidade, declarou Arcis de Brienne, que se havia reunido a Geoffroy de
Saint-Omer perto do castelo de proa, de onde o capitão do navio comandava a
manobra de aproximação. É, ouvi falar sobre isso, disse Geoffroy, novamente
invadido pela náusea, menos incómoda depois que Payns passara a tratá-lo,
massageando-lhe o abdómen e salmodiando as misteriosas fórmulas. Actualmente, a
cidade é governada por um tal de Chams al-Khilafa, que só a tem sob controle devido
à ajuda de Balduíno. Um equilíbrio precário que corre o risco de desabar de um
dia para o outro.
O conde Hugues interveio: o rei
de Jerusalém instalou uma guarnição de trezentos homens para apoiar Chams
al-Khilafa, que se vendeu por setecentos dinares. A população nunca lhe perdoou
essa traição. Aliás, ele escapou de inúmeras tentativas de assassinato e,
agora, está recluso no seu palácio. Arcis retomou a palavra: esta cidade está
prestes a se incendiar, não vamos nos demorar por aqui. Os egípcios ainda são
muito numerosos e é entre eles que os fatímidas formam grupos armados prontos
para cercar o refúgio do seu governante. A política!, suspirou Geoffroy. Não
entendo muito do assunto. Ascalão é um ponto estratégico importante, meu amigo,
esclareceu Hugues. Ela representa, sobretudo, a terra firme!, exclamou
Geoffroy, observando a bruma a dissipar-se no porto.
Payns e Basile também subiram
para o convés. Mais abaixo, no porão, os escudeiros dos cinco cavaleiros
terminavam de reunir as bagagens dos patrões: alforjes de tecido grosso,
bornais de pele de carneiro, sacos de couro... Payns abriu bem os braços e
aspirou longamente o ar morno e salgado, enchendo generosamente os pulmões. Como
isso cheira bem!, disse ele. Como é diferente da nossa fria Champagne! Imediatamente,
Arcis atenuou o entusiasmo do amigo: quanto a mim, acho que cheira mais a
sangue! Dos árabes, dos judeus e dos francos. Sem dúvida, meu amigo, prosseguiu
Payns, mas é com sangue que se escreve a História. Estou falando da história
verdadeira e que se deve tomar como religião. Temos de nos adequar a ela se
fazemos questão de desmantelar a mentira da Igreja. Em seguida, Payns abaixou
os braços. Ele se virou para os peregrinos, impacientes para chegar ao porto,
descer do navio e pisar na Terra Santa. O Mal..., está entre eles! Escondido na
multidão!» In Didier Convard, O Triângulo Secreto, Os Cinco Templários de Jesus, 2006,
Editora Bertrand Brasil, 2013, ISBN 978-852-861-663-7.
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