segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

A Rainha D. Beatriz e a sua Casa. Vanda Lisa L. Menino. «A historiografia de Setecentos procurou elevar a grandeza da Coroa. Deste tempo, destacamos a obra de António Caetano Sousa, cujos estudos versaram, principalmente, sobre a nobreza portuguesa…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Com a devida vénia a Vanda Lisa Lourenço Menino

«(…) E, uma vez mais, a imagem que fica da infanta e, depois, da rainha assenta nos elogios à sua piedade manifestada através das orações e das devoções, aqui reveladas no acompanhamento que fazia à rainha Santa Isabel, sua sogra, bem como no temor a Deus e no seu cuidado ao velar pelo bem-estar de seus filhos. Não deve ser completamente alheio a esta série de elogios o facto de a Monarquia Lusitana ser escrita quase três séculos após a rainha ter vivido. Deste modo, temos de olhar os factos narrados, uns como verídicos, porque a documentação assim o corrobora, mas outros como verosímeis, porque talvez fossem utilizados pelo autor para preencher lacunas existentes onde a construção das personagens é sempre, ou quase sempre, feita com base em estereótipos. É deste modo que devemos interpretar a descrição da imagem de dona Beatriz, ao ser-nos apresentada como uma boa rainha e piedosa, quando é narrado que as casas da rainha Santa Isabel e de sua nora, a rainha dona Beatriz, [eram] seminários de virtude e boa criação de donzelas. O mesmo se diga da sua relação com o marido, quando se refere à protecção que dom Afonso dava a sua mulher e aos seus filhos. De igual modo, apresenta-se a imagem de uma companheira que está sempre ao lado do seu marido e que o apoia nas suas decisões, segundo o arquétipo da boa esposa. Estamos, assim, perante a redacção de uma história apologética, na qual as figuras do rei e da rainha correspondiam a modelos de virtudes conjugais.
A tradição da obra magna dos monges cistercienses manter-se-ia no século imediato, com obras históricas de finalidade distinta. Assim, nos princípios do século XVIII, a História de Portugal conheceu um período de grande desenvolvimento e actividade sob a égide da Academia Real de História. Era objectivo da Academia fazer da História o espelho da grandeza da Pátria. Os arquivos régios e particulares tornaram-se locais abertos aos historiadores que procuravam os documentos, até então silenciosos, como fonte de novos conhecimentos. Foi, assim, sob a protecção da Academia Real de História que se iniciou um notável período de estímulo pela recolha e publicação de fontes documentais. Neste contexto, as crónicas perdem grande parte da sua importância para a pesquisa de novos dados, principalmente ao nível da história política.
A historiografia de Setecentos procurou elevar a grandeza da Coroa. Deste tempo, destacamos a obra de António Caetano Sousa, cujos estudos versaram, principalmente, sobre a nobreza portuguesa e respectiva genealogia. O seu grande trabalho académico foi a História Genealógica da Casa Real Portuguesa (1735-48), em treze volumes, apoiado em mais seis tomos de Provas. Nesta obra encontramos a trajectória das grandes figuras do Reino, e onde a Casa Real ocupa um lugar de destaque, mas descrevem-se também as antigas linhagens, referindo-se, inclusivamente, os membros menos conhecidos da nobreza. Esta obra é considerada como o guia por excelência para conhecer os meandros do nosso passado senhorial e deve ser olhada em função do espírito da época. Ou seja, um tempo em que as monarquias europeias constituíam o fundamento das mais velhas nações e os seus soberanos punham em destaque que, tanto eles como as suas famílias, tinham assegurado a continuidade dinástica. O objectivo era, assim, exaltar um passado heróico e dá-lo a conhecer ao público em geral. Na História Genealógica da Casa Real Portuguesa, os relatos sobre a rainha dona Beatriz encontram-se na primeira parte da obra, ou seja, quando António Caetano Sousa fala sobre a sucessão dos antigos reis. Uma vez mais, as informações relativas à consorte referem-se aos seus pais, ao seu casamento com Afonso IV e aos filhos nascidos desta união, mas também ao seu local de sepultura e ao seu testamento. Quanto aos volumes das Provas, encontramos apenas a transcrição de dois documentos relativos a dona Beatriz: o codicilo ao seu testamento, datado de 1354, e o seu testamento do ano de 1358. Esta é uma obra que podemos considerar como uma ferramenta de consulta indispensável quando se pretende estudar a Casa Real e a nobreza portuguesa». In Vanda Lisa L. Menino, A Rainha D. Beatriz e a sua Casa (1293-1359), Tese de Doutoramento em História, Universidade Nova de Lisboa, FCSHumanas, 2012, Wikipedia.

Cortesia de UNL/FCSH/JDACT