Cortesia
de wikipedia e jdact
Com
a devida vénia a Vanda Lisa Lourenço Menino
«(…) E, uma vez mais, a imagem que fica da infanta e, depois, da
rainha assenta nos elogios à sua piedade manifestada através das orações e das
devoções, aqui reveladas no acompanhamento que fazia à rainha Santa Isabel, sua
sogra, bem como no temor a Deus e no seu cuidado ao velar pelo bem-estar de
seus filhos. Não deve ser completamente alheio a esta série de elogios o facto
de a Monarquia Lusitana
ser escrita quase três séculos após a rainha ter vivido. Deste modo, temos
de olhar os factos narrados, uns como verídicos, porque a documentação assim o
corrobora, mas outros como verosímeis, porque talvez fossem utilizados pelo
autor para preencher lacunas existentes onde a construção das personagens é
sempre, ou quase sempre, feita
com base em estereótipos. É deste modo que devemos interpretar a descrição da imagem
de dona Beatriz, ao ser-nos apresentada como uma boa rainha e piedosa, quando é
narrado que as casas da rainha Santa Isabel e de sua nora, a rainha dona Beatriz,
[eram] seminários de virtude e boa criação de donzelas. O mesmo se diga da sua
relação com o marido, quando se refere à protecção que dom Afonso dava a sua mulher
e aos seus filhos. De igual modo, apresenta-se a imagem de uma companheira que
está sempre ao lado do seu marido e que o apoia nas suas decisões, segundo o
arquétipo da boa esposa. Estamos, assim, perante a redacção de uma história
apologética, na qual as figuras do rei e da rainha correspondiam a modelos de
virtudes conjugais.
A tradição da obra magna dos
monges cistercienses manter-se-ia no século imediato, com obras históricas de
finalidade distinta. Assim, nos princípios do século XVIII, a História de
Portugal conheceu um período de grande desenvolvimento e actividade sob a égide
da Academia Real de História. Era objectivo da Academia fazer da História o
espelho da grandeza da Pátria. Os arquivos régios e particulares tornaram-se
locais abertos aos historiadores que procuravam os documentos, até então
silenciosos, como fonte de novos conhecimentos. Foi, assim, sob a protecção da
Academia Real de História que se iniciou um notável período de estímulo pela
recolha e publicação de fontes documentais. Neste contexto, as crónicas perdem
grande parte da sua importância para a pesquisa de novos dados, principalmente
ao nível da história política.
A historiografia de Setecentos
procurou elevar a grandeza da Coroa. Deste tempo, destacamos a obra de António
Caetano Sousa, cujos estudos versaram, principalmente, sobre a nobreza
portuguesa e respectiva genealogia. O seu grande trabalho académico foi a História Genealógica da Casa Real Portuguesa
(1735-48), em treze volumes, apoiado em mais seis tomos de Provas. Nesta obra encontramos a
trajectória das grandes figuras do Reino, e onde a Casa Real ocupa um lugar de
destaque, mas descrevem-se também as antigas linhagens, referindo-se, inclusivamente,
os membros menos conhecidos da nobreza. Esta obra é considerada como o guia por
excelência para conhecer os meandros do nosso passado senhorial e deve ser olhada
em função do espírito da época. Ou seja, um tempo em que as monarquias
europeias constituíam o fundamento das mais velhas nações e os seus soberanos
punham em destaque que, tanto eles como as suas famílias, tinham assegurado a
continuidade dinástica. O objectivo era, assim, exaltar um passado heróico e
dá-lo a conhecer ao público em geral. Na História Genealógica da Casa Real Portuguesa, os relatos
sobre a rainha dona Beatriz encontram-se na primeira parte da obra, ou seja,
quando António Caetano Sousa fala sobre a sucessão dos antigos reis. Uma vez
mais, as informações relativas à consorte referem-se aos seus pais, ao seu
casamento com Afonso IV e aos filhos nascidos desta união, mas também ao seu
local de sepultura e ao seu testamento. Quanto aos volumes das Provas, encontramos apenas a
transcrição de dois documentos relativos a dona Beatriz: o codicilo ao seu
testamento, datado de 1354, e o seu testamento do ano de 1358. Esta é uma obra
que podemos considerar como uma ferramenta de consulta indispensável quando se
pretende estudar a Casa Real e a nobreza portuguesa». In Vanda Lisa L. Menino, A Rainha
D. Beatriz e a sua Casa (1293-1359), Tese de Doutoramento em História,
Universidade Nova de Lisboa, FCSHumanas, 2012, Wikipedia.
Cortesia de UNL/FCSH/JDACT