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de wikipedia e jdact
Com
a devida vénia a Vanda Lisa Lourenço Menino
«(…) Durante o século XVIII, o
cronista-mor da Casa de Bragança, Jozé Barbosa, sob o signo da Academia Real da
História, redigiu o seu Catalogo
chronologico, histórico, genealógico e critico, das rainhas de Portugal e seus
filhos. Aqui, o autor preferiu trilhar um caminho muito próximo do
genealógico, onde princesas e rainhas se sucediam em referências breves. Deste
modo, é relatada a ascendência desta princesa castelhana (com menção aos pais,
avós e bisavós), o seu casamento com Afonso IV e os filhos que teve. Para este
autor, a acção mais ilustre de dona Beatriz foi instituir, juntamente com seu
marido, as capelas e mercearias na Sé de Lisboa. Apesar da entrada ser relativa
a dona Beatriz, Jozé Barbosa dá mais ênfase à questão que era discutida naquele
tempo, sobre se a infanta dona Maria, filha de Afonso IV, mulher de Afonso XI e
mãe do castelhano Pedro, o Cruel,
teria sido ou não mulher legítima de Afonso XI de Castela. Toda a informação compilada
por Jozé Barbosa não veio contribuir para ampliar o conhecimento que se tinha
da soberana, o qual nos foi legado não só pelas crónicas dos reinados de seu marido
e sogro, mas também pela historiografia do século XVII.
Já no último quartel do século
XIX, Francisco Fonseca Benevides publicou os dois volumes intitulados Rainhas de Portugal (1878-1879).
Este professor de Física e de Hidrografia do Instituto Industrial de Lisboa
escreveu vários livros, dedicando, também, parte da sua investigação à História
nacional. Para a realização deste estudo sobre as rainhas, pesquisou e compilou
documentos que se encontravam guardados no arquivo da Torre do Tombo. Esta obra
lançava, assim, as bases para uma narrativa biográfica dedicada às rainhas de
Portugal, dando uma visão de conjunto, mas também personalizada sobre as nossas
rainhas. Pela mão de Francisco Fonseca Benevides somos conduzidos através de
uma viagem no tempo, em que as Rainhas de Portugal possuem um papel central na
sociedade da sua época. Apesar da importância deste trabalho, ele não teve
seguidores imediatos que o completassem, não existindo, até aos nossos dias,
uma obra congénere que a superasse.
No que concerne à rainha dona
Beatriz, inicia-se a narrativa dizendo que foi casada com dom Afonso, esse
malvado que foi fruto do consórcio da santa rainha dona Isabel, e do sábio e
generoso rei Dinis I. Segundo Benevides, a rainha dona Beatriz não figura, com
frequência, nos documentos do seu tempo. Talvez por isso, a narrativa sobre a
rainha é toda ela imbricada nas acções de Afonso IV. Termina referindo que
existem apenas dois actos de maior importância na vida desta consorte. Um, o
seu encontro em Badajoz com o genro, Afonso XI, com o objectivo de colocar
termo à guerra entre Portugal e Castela; e o segundo, a intervenção que a rainha
teve na reconciliação entre Afonso IV e o seu filho Pedro, após as discórdias
suscitadas devido à morte de dona Inês de Castro. Como já sublinhámos, são
sempre estas as duas acções referidas, ao longo dos tempos, pelos diversos autores,
a propósito de dona Beatriz.
No final do século XIX, Anselmo
Braamcamp Freire, precursor da genealogia científica em Portugal, publicou os
seus três volumes dos Brasões da
Sala de Sintra. No primeiro volume, publicado em 1899, faz o elenco
das famílias nobres, dando informações circunstanciadas para cada um dos seus
elementos. Porém, a sua contribuição procurou, essencialmente, estudar e
esclarecer os problemas históricos relacionados, sobretudo, com aspectos e
personagens da segunda dinastia. De salientar que a sua pesquisa é baseada em
fontes fidedignas. Nesta obra, as informações relacionadas com a rainha dona
Beatriz estão, fundamentalmente, associadas à doação de Viana do Alentejo, que
pertenceu à capela dos reis Afonso IV e sua mulher, devido ao facto desta vila
ter sido, por várias vezes, retirada à gestão da capela.
No inicio do século XX surgem
algumas obras que tiveram clara influência na difusão da memória histórica.
Sendo praticamente impossível reconstituir exaustivamente a lista de todos os
trabalhos que possam interessar para a história da nossa rainha, e não sendo
esse o objectivo destas nossas linhas, fixemo-nos apenas nas obras de maior
vulto e repercussões. Neste sentido, para muito contribuíram as Histórias de
Portugal que, no inicio do século passado, seguiam um esquema tradicional de
análise dos acontecimentos por reinado, e onde, na maioria dos casos, a rainha Beatriz
não era mencionada, o mesmo se verificando em obras mais recentes, de meados do
século XX. Porém, dona Beatriz é por vezes referida em algumas obras, tanto em
manuais escolares como em Histórias de Portugal de maior fôlego. Quando isso
acontece, é focada no âmbito do Tratado de Alcañices, devido ao acordo de
casamento com o futuro Afonso IV, e da necessária dispensa pontifícia para o
projecto deste consórcio; é feita, também, uma breve referência aos filhos
nascidos deste matrimónio, assim como a identificação dos seus pais, sendo, igualmente,
relatada a sua intervenção na reconciliação, estabelecida em 1355, em Canaveses,
entre Afonso IV e o infante Pedro, após a morte de dona Inês de Castro». In
Vanda Lisa L. Menino, A Rainha D. Beatriz e a sua Casa (1293-1359), Tese de
Doutoramento em História, Universidade Nova de Lisboa, FCSHumanas, 2012,
Wikipedia.
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