quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Palácio Sousa Calhariz. Palácio Sobral. Edifício da Caixa Geral de Depósitos. CGD do Calhariz. Inês Pais. «A fachada principal, voltada a S., divide-se em três panos. O pano central, enquadrado por pilastras, avança ligeiramente e corresponde ao eixo de ligação entre os dois palácios»

Cortesia de wikipedia, monumentos e jdact

Com a devida vénia à Direcção-Geral do Património Cultural, Ministério da Cultura

Palácio Sobral
«Arquitectura residencial, neoclássica. Palácio urbano de planta rectangular, de cobertura alteada em mansarda, com fachadas rebocadas e pintadas, rematada por cornija sobrepujada por beiral, primeiro piso revestido a placagem de cantaria e restantes três pisos divididos por friso de cantaria. O ritmo de vãos é regular, com molduras de cantaria essencialmente rectilínea. Animação da fachada posterior conseguida mediante introdução de pilastras. O esquema compositivo das fachadas segue moldes neoclássicos, de grande austeridade decorativa, cingindo-se os ornamentos aos portais principais, emoldurados por colunas dóricas, sobre as quais se sustenta o balcão de cantaria do piso superior. Esta atenção dada ao portal e o total despojamento ornamental dos panos de fachada é comum a muitos palácios lisboetas, correspondendo a uma linguagem que remonta ao século XVII.

Descrição
Planta rectangular, de massa paralelepipédica, resultante da junção de dois palácios através de passadiço ao nível dos pisos superiores da fachada principal, sobre arco atravessado pela rua. O edifício O. Ver Observação1, de planta rectangular organiza-se em torno de um pátio central, enquanto que o edifício E. Ver Observação2, de maiores dimensões, se organiza em torno de dois pátios rectangulares. Coberturas diferenciadas, de telhados de quatro águas, alteado em mansarda, onde se abrem, a ritmo regular, águas-furtadas. Fachadas divididas em quatro registos, com excepção da fachada posterior de três registos. Embasamento e primeiro piso revestido a cantaria de calcário e restantes rebocados e pintados de rosa claro. Apresenta marcação de registos através de friso ao nível do terceiro e quarto registos através de frisos de cantaria, e pilastras nos cunhais. Remate em cornija sobrepujada por beiral. A fenestração, correspondente entre andares, faz-se a ritmo regular, apresentando no primeiro piso janelas de peitoril á face, guarnecidas por gradeamento em ferro forjado; no segundo piso janelas de peitoril de moldura de cantaria recta com avental; no terceiro piso janelas de sacada, assente em pequenas mísulas, com gradeamento de ferro forjado e moldura de cantaria recta, rematada por cornija recta; o quarto piso corresponde a andar em sobreloja, com janelas de moldura recta de cantaria. A fachada principal, voltada a S., divide-se em três panos. O pano central, enquadrado por pilastras, avança ligeiramente e corresponde ao eixo de ligação entre os dois palácios. É composto por grande arco, que se prolonga até á altura do segundo piso, sobre o qual se rasga janela de sacada, de moldura recta, rematada por cornija e com balcão em cantaria. Ao nível do quarto piso abre-se sobreloja, sobrepujada por cornija e remate em empena triangular. O pano esquerdo estende-se á largura de sete vãos, com portal principal ao centro, de moldura rectilínea de cantaria, com figuras relevadas no topo, ladeado por colunas dóricas, sobrepujadas por plintos relevados, nos quais assenta o balcão de cantaria do vão correspondente no segundo piso. O pano direito, apresenta composição semelhante, mas estendendo-se á largura de 12 vãos, com pilastra adossada ao centro. O portal principal é análogo, mas ao nível do primeiro piso as janelas de peitoril alteram com portas e portão recortados á face. A fachada lateral esquerda do corpo O. apresenta uma sucessão de 12 vãos, com primeiro piso acompanhando o declive do terreno, com as janelas, guarnecidas por gradeamento em ferro forjado. A fachada lateral direita do corpo E., apresenta os mesmos 12 vãos sucessivos, com o primeiro piso a diminuir paralelamente á subida da cota do terreno, até se confundir com o embasamento e não dispor de janelas. A fachada posterior do corpo E. apresenta três andares, com embasamento em cantaria. No primeiro piso vãos de peitoril, com avental e gradeamento em ferro forjado. No segundo piso vãos de sacada, com guarda em ferro forjado. Sobre este sobreloja rasgada por vãos rectilíneos de moldura rectangular e piso amansardado, rasgado por águas-furtadas. É ritmado por pilastras que enquadram os conjuntos do 3º ao 5º e 8º ao 9º vãos, que dispõem de sacada corrida ao nível do segundo piso, e o último conjunto de porta ao centro, de moldura recta de cantaria, com acesso por três degraus de cantaria. A fachada posterior do corpo O. apresenta esquema análogo, adaptado á largura dos seus 7 vãos, estando os três centrais emoldurados por pilastras, sendo que no primeiro piso dispõe de portas e não janelas de peitoril. As fachadas lateral esquerda do corpo E. e a fachada lateral do corpo O. são semelhantes, dispondo cada uma de 9 vãos sucessivos, sendo que na primeira se abrem 5 vãos ao nível do primeiro piso e na segunda 8. As fachadas são unidas pelo passadiço sobre arco, em cujo intradorso se abrem 3 vãos correspondentes, no primeiro piso, revestido a cantaria, abrem-se 3 janelas cortadas á face. No segundo janelas de peitoril com avental, moldurada a cantaria simples. Na face posterior no passadiço, sobre pedra de fecho do arco abre-se janela geminada de três lumes, assentes e sobrepujada por almofadas de cantaria. O conjunto é rematado por cornija, sobre a qual se rasga novo conjunto de janelas geminadas de três lumes, de menores dimensões. No piso alteado em mansarda abre-se uma água-furtada em eixo.

Enquadramento
Urbano, isolado, formando lote, incluído no conjunto do Bairro Alto. Implantado em zona de declive moderado, estando a fachada principal e posterior em diferente cota do terreno. Todas as fachadas abrindo directamente para a via pública. Nas proximidades do Palácio Valada-Azambuja

Cronologia
Palácio Sousa-Calhariz/ Palmela: 1703 - O palácio foi fundado e mandado construir por D. Francisco de Sousa (1631 - 1711), Senhor do Morgado do Calhariz, em terrenos comprados a D. Inês Margarida de Lencastre, viúva do 9º Barão do Alvito e mantendo-se sempre na posse dos Duques de Palmela; 1803-1806 - entre estes anos esteve instalada no palácio a Academia Real de Fortificações; séc. 19 (finais da década de 20) - palácio esteve alugado á Câmara Eclesiástica de Lisboa; séc. 19 (inícios da década de 30) - está instalada no palácio a Contadoria Fiscal da Tesouraria Geral das Tropas; séc. 19 (década de 40) - D. Pedro da Sousa Holstein, 1º duque de Palmela, chamou o arquitecto Giuseppe Cinatti para dirigir as obras de modernização do palácio que herdara dos Sousa-Calhariz; 1842 / 1844 - remodelação ampliação e restauro de interiores (aplicação de estuques e pinturas decorativas) e exteriores realizados sob orientação de Cinatti e Rambois, construção de um anexo destinado a prolongar para nascente a fachada voltada á rua das Mercês, criação de um jardim (a Nascente) em terrenos adquiridos à Câmara Municipal de Lisboa entre a Travessa da Trombeta e a Rua da Atalaia; 1908 - desde esta data está instalado o estabelecimento de Luiz Vítor Rombert nos nº 30 a 32; 1914 - há referência á instalação da Liga Naval Portuguesa no palácio até 1929; 1914 - esteve instalado no nº 34 a firma A. Figueiredo e Compª; 1927 - esteve instalado até 1947 o estabelecimento de A. Lopes Maia no nº34; 1928 - desde este ano até 1945 esteve instalado nos nº 27 e 28 o estabelecimento de móveis da firma Paixão Carvalho Lda.; 1929 - entre esta data e 1931 há registo de estar instalada no nº29 o estabelecimento de Luiz Borges; 1930 - esteve instalada no nº30 a firma de Marques e Rodrigues; 1933 - esteve instalada até 1944, no nº33, a Barbearia Calharix Lda.; 1935 - a partir desta data e até 1947 há registo de a sede do Automóvel Clube de Portugal estar instalado no nº29; 1942 - Casimiro Braga tomou de trespasse o estabelecimento do Luiz Victor Rombert; 1945 - registo que H. Santos tinha estabelecimento nos nº 30 a 32; 1948, 10 Maio - H. Santos deu baixa do seu estabelecimento; 1948, Maio - as negociações da Casa Palmella com a Caixa Geral de Depósitos foram interrompidas por imposição camarária, uma vez que o imóvel se encontrava em zona em estudo; o negócio compreendia o grupo de prédios com os nº12 a 38 na R. da Rosa, os nº63 a 67 da Travessa dos Fieis de Deus, os nº3 a 11 da R. da Trombeta e os nº 4 a 10 da Tr. Das Mercês, constituindo um bloco independente a ser vendido por 3 mil contos; 1948, 10 Maio - a firma H. Santos deu baixa do seu estabelecimento sito nos nº 30 a 32; 1951, 19 Fevereiro - a administração da Caixa Geral de Depósitos afirma que as obras de grande remodelação no palácio se prevê começarem em Junho ou Julho de 1951, após ter recebido auto de contrafé da Câmara Municipal de Lisboa; 1951, 10 Março - auto de vistoria da Câmara Municipal de Lisboa declara o palácio como exteriormente mal conservado; 1952, Janeiro - encontra-se concluída a primeira fase da empreitada de remodelação e ampliação do edifício sede da Caixa Geral de Depósitos (Palácio Palmela); 1952, Maio - ante-projecto para remodelação e ampliação do palácio Palmela pela Caixa Geral de Depósitos, onde se propõe a substituição de pavimentos, divisórias escadas, a destruição da parede exterior da ala nascente e dos corpos laterais recolhidos, e alinhamento das fachadas, construção de caves para arquivo, da autoria de Cândido Palma Teixeira de Melo; 1955, 23 Junho - o projecto de remodelação pela Caixa Geral de Depósitos está completamente elaborado, aguardando apenas autorização do ministro das Obras Públicas; 1955, Julho - reconhecimento geológico do terreno; 1955, 24 Agosto - concurso público para a empreitada de remodelação e ampliação do palácio Palmela, com base de licitação em 15783461$00; 1956 - saída do último locatário, o Automóvel Clube de Portugal (em 44 já lá estava segundo foto); 1956-1959 - realização de obras no palácio pela Caixa Geral de Depósitos, resultando a anexação ao Palácio Sobral e destruindo as obras oitocentistas, prolongando o corpo principal do edifício até á rua da Atalaia 1959 - remodelação do projecto da Caixa Geral de Depósitos para obter maiores áreas de trabalho e serviços; 1961, Janeiro - está em construção o piso intermédio do e a adaptação do andar amansardado; 1961 - 1961 - Conclusão da construção, pela Comissão Administrativa das Obras da Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência; 1961, 15 Junho - terminada a empreitada de remodelação e ampliação; 1967, Abril - estudo para a ligação dos dois palácios por arco sobre a R. da Rosa; 1967, 28 Setembro - a Câmara Municipal de Lisboa autoriza a ligação por arco dos dois palácios; 1969 - está em curso a obra do arco de ligação entre os dois palácios; PALÁCIO SOBRAL: séc. 18, 2ª metade - reedificação do palácio por Joaquim Inácio da Cruz Sobral (1725 - 1781) sobre uma estrutura existente desde o séc. 17 e que pertencera a Lázaro Leitão Aranha; 1811 - é o Quartel-general do Duque de Wellington; 1812 / 1813 - serve de Quartel-general a Lord Beresford; 1879 - deixa de funcionar no imóvel o Hotel Mata; 1887, é vendido pelos Condes de Sobral ao Estado para instalação da Caixa Geral de Depósitos; de imediato, se iniciam obras de recuperação para instalação do Ministério da Justiça; um incêndio que destruiu os dois últimos pisos, levou ao abandono da ideia; 1894, o edifício estava a ser reconstruído, para a instalação do Ministério das Obras Públicas, projectando-se a existência de três pisos e uma mansarda, ficando, no primeiro, um vestíbulo, recepção e armazéns, surgindo no segudo, uma sala comum a todas as direcções do Ministério, e vários gabinetes; 1896, a obra achava-se bastante adiantada, faltando alguns elementos de estuque e pintura; 1957, 19 Novembro, contrato do arquitecto Cândido Paulo Teixeira de Melo para a remodelação do palácio, pela quantia de 242666$60; 1965, 30 Março, entrega defenitiva do projecto de remodelação do palácio; 1965, na memória descritiva para o projecto de remodelação do palácio estava prevista a ligação ao palácio Palmela por túnel ao nível das caves; 1965, Março, orçamento para o projecto de remodelação do palácio Sobral; 1965, 10 Maio, abertura do concurso público para a empreitada geral de ampliação e remodelação do palácio 1968, Setembro, no primeiro termo adicional ao projecto de remodelação verifica-se que as paredes exteriores não tinham a resistência necessária, optando-se pela sua reconstrução total, nivelamento ao nível do palácio Palmela, uniformização das fachadas e pensa-se a ligação por arco dos dois palácios.

Observações
1. Este edifício corresponde ao antigo palácio Sobral, cuja fachada principal é possível conhecer por fotografias; tratava-se de uma fachada dividida em cinco registos, correspondendo o último a um andar em ático e mansarda; era revestida a cantaria aparente ao nível do primeiro piso, e revestida em alvenaria rebocada e pintada nos seguintes, com divisão de andares através de cornijas, marcação dos ângulos por pilastras de cantaria e remate em platibanda; o pano central avançado, dispunha de galeria no primeiro piso, no segundo de 3 janelas de sacada, guarnecidas de varanda corrida em cantaria, e rematadas por cornija ondulada; ao nível do terceiro de 3 janelas de sacada de cantaria, rematadas por cornija ondulada; o quarto piso dispunha de 3 janelas de peitoril, rematadas por cornija recta;
2. Este edifício corresponde ao antigo palácio Calhariz-Palmela, cujo módulo compositivo se manteve sensivelmente; originalmente o palácio estendia-se á largura de sete vãos por andar, dividindo-se o actual primeiro piso em dois, dispondo no primeiro de uma sequência de portas e no segundo de janelas de peitoril. No andar em sobreloja os actuais vãos rectangulares correspondiam a óculos ovalados; o actual piso em mansarda é também um acrescento posterior; o portal principal manteve-se, mas o motivo nobilitante das armas interrompendo a cornija do vão axial superior perdeu-se; para E. o palácio dispunha de uma ala, com o mesmo número de pisos, rematada por frontão triangular, dispondo-se na fachada S. escadaria de aparato, aberta para jardim;
3. Parte do conjunto está implantado na freguesia de Santa Catarina».
In Inês Pais, Palácio Sousa Calhariz, Palácio Sobral, Edifício da Caixa Geral de Depósitos, CGD do Calhariz, 2001-2016, Direcção-Geral do Património Cultural, Ministério da Cultura, 2006, Nº IPA Antigo PT 031106150908, 2011.

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