Cortesia
de wikipedia, monumentos e jdact
Com
a devida vénia à Direcção-Geral do Património Cultural, Ministério da Cultura
Palácio
Sobral
«Arquitectura residencial, neoclássica. Palácio urbano de
planta rectangular, de cobertura alteada em mansarda, com fachadas rebocadas e
pintadas, rematada por cornija sobrepujada por beiral, primeiro piso revestido
a placagem de cantaria e restantes três pisos divididos por friso de cantaria.
O ritmo de vãos é regular, com molduras de cantaria essencialmente rectilínea.
Animação da fachada posterior conseguida mediante introdução de pilastras. O
esquema compositivo das fachadas segue moldes neoclássicos, de grande
austeridade decorativa, cingindo-se os ornamentos aos portais principais,
emoldurados por colunas dóricas, sobre as quais se sustenta o balcão de
cantaria do piso superior. Esta atenção dada ao portal e o total despojamento
ornamental dos panos de fachada é comum a muitos palácios lisboetas,
correspondendo a uma linguagem que remonta ao século XVII.
Descrição
Planta rectangular, de massa paralelepipédica, resultante da
junção de dois palácios através de passadiço ao nível dos pisos superiores da
fachada principal, sobre arco atravessado pela rua. O edifício O. Ver Observação1,
de planta rectangular organiza-se em torno de um pátio central, enquanto que o
edifício E. Ver Observação2, de maiores dimensões, se organiza em torno
de dois pátios rectangulares. Coberturas diferenciadas, de telhados de quatro
águas, alteado em mansarda, onde se abrem, a ritmo regular, águas-furtadas.
Fachadas divididas em quatro registos, com excepção da fachada posterior de
três registos. Embasamento e primeiro piso revestido a cantaria de calcário e
restantes rebocados e pintados de rosa claro. Apresenta marcação de registos
através de friso ao nível do terceiro e quarto registos através de frisos de
cantaria, e pilastras nos cunhais. Remate em cornija sobrepujada por beiral. A
fenestração, correspondente entre andares, faz-se a ritmo regular, apresentando
no primeiro piso janelas de peitoril á face, guarnecidas por gradeamento em
ferro forjado; no segundo piso janelas de peitoril de moldura de cantaria recta
com avental; no terceiro piso janelas de sacada, assente em pequenas mísulas,
com gradeamento de ferro forjado e moldura de cantaria recta, rematada por
cornija recta; o quarto piso corresponde a andar em sobreloja, com janelas de
moldura recta de cantaria. A fachada principal, voltada a S., divide-se em três
panos. O pano central, enquadrado por pilastras, avança ligeiramente e
corresponde ao eixo de ligação entre os dois palácios. É composto por grande
arco, que se prolonga até á altura do segundo piso, sobre o qual se rasga
janela de sacada, de moldura recta, rematada por cornija e com balcão em
cantaria. Ao nível do quarto piso abre-se sobreloja, sobrepujada por cornija e
remate em empena triangular. O pano esquerdo estende-se á largura de sete vãos,
com portal principal ao centro, de moldura rectilínea de cantaria, com figuras
relevadas no topo, ladeado por colunas dóricas, sobrepujadas por plintos
relevados, nos quais assenta o balcão de cantaria do vão correspondente no
segundo piso. O pano direito, apresenta composição semelhante, mas
estendendo-se á largura de 12 vãos, com pilastra adossada ao centro. O portal
principal é análogo, mas ao nível do primeiro piso as janelas de peitoril
alteram com portas e portão recortados á face. A fachada lateral esquerda do
corpo O. apresenta uma sucessão de 12 vãos, com primeiro piso acompanhando o
declive do terreno, com as janelas, guarnecidas por gradeamento em ferro
forjado. A fachada lateral direita do corpo E., apresenta os mesmos 12 vãos
sucessivos, com o primeiro piso a diminuir paralelamente á subida da cota do
terreno, até se confundir com o embasamento e não dispor de janelas. A fachada
posterior do corpo E. apresenta três andares, com embasamento em cantaria. No
primeiro piso vãos de peitoril, com avental e gradeamento em ferro forjado. No
segundo piso vãos de sacada, com guarda em ferro forjado. Sobre este sobreloja
rasgada por vãos rectilíneos de moldura rectangular e piso amansardado, rasgado
por águas-furtadas. É ritmado por pilastras que enquadram os conjuntos do 3º ao
5º e 8º ao 9º vãos, que dispõem de sacada corrida ao nível do segundo piso, e o
último conjunto de porta ao centro, de moldura recta de cantaria, com acesso
por três degraus de cantaria. A fachada posterior do corpo O. apresenta esquema
análogo, adaptado á largura dos seus 7 vãos, estando os três centrais
emoldurados por pilastras, sendo que no primeiro piso dispõe de portas e não
janelas de peitoril. As fachadas lateral esquerda do corpo E. e a fachada
lateral do corpo O. são semelhantes, dispondo cada uma de 9 vãos sucessivos,
sendo que na primeira se abrem 5 vãos ao nível do primeiro piso e na segunda 8.
As fachadas são unidas pelo passadiço sobre arco, em cujo intradorso se abrem 3
vãos correspondentes, no primeiro piso, revestido a cantaria, abrem-se 3
janelas cortadas á face. No segundo janelas de peitoril com avental, moldurada
a cantaria simples. Na face posterior no passadiço, sobre pedra de fecho do
arco abre-se janela geminada de três lumes, assentes e sobrepujada por
almofadas de cantaria. O conjunto é rematado por cornija, sobre a qual se rasga
novo conjunto de janelas geminadas de três lumes, de menores dimensões. No piso
alteado em mansarda abre-se uma água-furtada em eixo.
Enquadramento
Urbano, isolado, formando lote, incluído no conjunto do
Bairro Alto. Implantado em zona de declive moderado, estando a fachada
principal e posterior em diferente cota do terreno. Todas as fachadas abrindo
directamente para a via pública. Nas proximidades do Palácio Valada-Azambuja
Cronologia
Palácio Sousa-Calhariz/ Palmela: 1703 - O palácio foi fundado
e mandado construir por D. Francisco de Sousa (1631 - 1711), Senhor do Morgado
do Calhariz, em terrenos comprados a D. Inês Margarida de Lencastre, viúva do
9º Barão do Alvito e mantendo-se sempre na posse dos Duques de Palmela;
1803-1806 - entre estes anos esteve instalada no palácio a Academia Real de
Fortificações; séc. 19 (finais da década de 20) - palácio esteve alugado á
Câmara Eclesiástica de Lisboa; séc. 19 (inícios da década de 30) - está
instalada no palácio a Contadoria Fiscal da Tesouraria Geral das Tropas; séc.
19 (década de 40) - D. Pedro da Sousa Holstein, 1º duque de Palmela, chamou o
arquitecto Giuseppe Cinatti para dirigir as obras de modernização do palácio
que herdara dos Sousa-Calhariz; 1842 / 1844 - remodelação ampliação e restauro
de interiores (aplicação de estuques e pinturas decorativas) e exteriores
realizados sob orientação de Cinatti e Rambois, construção de um anexo
destinado a prolongar para nascente a fachada voltada á rua das Mercês, criação
de um jardim (a Nascente) em terrenos adquiridos à Câmara Municipal de Lisboa
entre a Travessa da Trombeta e a Rua da Atalaia; 1908 - desde esta data está
instalado o estabelecimento de Luiz Vítor Rombert nos nº 30 a 32; 1914 - há
referência á instalação da Liga Naval Portuguesa no palácio até 1929; 1914 -
esteve instalado no nº 34 a firma A. Figueiredo e Compª; 1927 - esteve
instalado até 1947 o estabelecimento de A. Lopes Maia no nº34; 1928 - desde
este ano até 1945 esteve instalado nos nº 27 e 28 o estabelecimento de móveis
da firma Paixão Carvalho Lda.; 1929 - entre esta data e 1931 há registo de
estar instalada no nº29 o estabelecimento de Luiz Borges; 1930 - esteve
instalada no nº30 a firma de Marques e Rodrigues; 1933 - esteve instalada até
1944, no nº33, a Barbearia Calharix Lda.; 1935 - a partir desta data e até 1947
há registo de a sede do Automóvel Clube de Portugal estar instalado no nº29;
1942 - Casimiro Braga tomou de trespasse o estabelecimento do Luiz Victor
Rombert; 1945 - registo que H. Santos tinha estabelecimento nos nº 30 a 32;
1948, 10 Maio - H. Santos deu baixa do seu estabelecimento; 1948, Maio - as
negociações da Casa Palmella com a Caixa Geral de Depósitos foram interrompidas
por imposição camarária, uma vez que o imóvel se encontrava em zona em estudo;
o negócio compreendia o grupo de prédios com os nº12 a 38 na R. da Rosa, os
nº63 a 67 da Travessa dos Fieis de Deus, os nº3 a 11 da R. da Trombeta e os nº
4 a 10 da Tr. Das Mercês, constituindo um bloco independente a ser vendido por
3 mil contos; 1948, 10 Maio - a firma H. Santos deu baixa do seu
estabelecimento sito nos nº 30 a 32; 1951, 19 Fevereiro - a administração da
Caixa Geral de Depósitos afirma que as obras de grande remodelação no palácio
se prevê começarem em Junho ou Julho de 1951, após ter recebido auto de
contrafé da Câmara Municipal de Lisboa; 1951, 10 Março - auto de vistoria da
Câmara Municipal de Lisboa declara o palácio como exteriormente mal conservado;
1952, Janeiro - encontra-se concluída a primeira fase da empreitada de
remodelação e ampliação do edifício sede da Caixa Geral de Depósitos (Palácio
Palmela); 1952, Maio - ante-projecto para remodelação e ampliação do palácio
Palmela pela Caixa Geral de Depósitos, onde se propõe a substituição de
pavimentos, divisórias escadas, a destruição da parede exterior da ala nascente
e dos corpos laterais recolhidos, e alinhamento das fachadas, construção de
caves para arquivo, da autoria de Cândido Palma Teixeira de Melo; 1955, 23
Junho - o projecto de remodelação pela Caixa Geral de Depósitos está
completamente elaborado, aguardando apenas autorização do ministro das Obras
Públicas; 1955, Julho - reconhecimento geológico do terreno; 1955, 24 Agosto -
concurso público para a empreitada de remodelação e ampliação do palácio
Palmela, com base de licitação em 15783461$00; 1956 - saída do último
locatário, o Automóvel Clube de Portugal (em 44 já lá estava segundo foto);
1956-1959 - realização de obras no palácio pela Caixa Geral de Depósitos,
resultando a anexação ao Palácio Sobral e destruindo as obras oitocentistas,
prolongando o corpo principal do edifício até á rua da Atalaia 1959 -
remodelação do projecto da Caixa Geral de Depósitos para obter maiores áreas de
trabalho e serviços; 1961, Janeiro - está em construção o piso intermédio do e
a adaptação do andar amansardado; 1961 - 1961 - Conclusão da construção, pela
Comissão Administrativa das Obras da Caixa Geral de Depósitos, Crédito e
Previdência; 1961, 15 Junho - terminada a empreitada de remodelação e
ampliação; 1967, Abril - estudo para a ligação dos dois palácios por arco sobre
a R. da Rosa; 1967, 28 Setembro - a Câmara Municipal de Lisboa autoriza a
ligação por arco dos dois palácios; 1969 - está em curso a obra do arco de
ligação entre os dois palácios; PALÁCIO SOBRAL: séc. 18, 2ª metade -
reedificação do palácio por Joaquim Inácio da Cruz Sobral (1725 - 1781) sobre
uma estrutura existente desde o séc. 17 e que pertencera a Lázaro Leitão
Aranha; 1811 - é o Quartel-general do Duque de Wellington; 1812 / 1813 - serve
de Quartel-general a Lord Beresford; 1879 - deixa de funcionar no imóvel o
Hotel Mata; 1887, é vendido pelos Condes de Sobral ao Estado para instalação da
Caixa Geral de Depósitos; de imediato, se iniciam obras de recuperação para
instalação do Ministério da Justiça; um incêndio que destruiu os dois últimos
pisos, levou ao abandono da ideia; 1894, o edifício estava a ser reconstruído,
para a instalação do Ministério das Obras Públicas, projectando-se a existência
de três pisos e uma mansarda, ficando, no primeiro, um vestíbulo, recepção e
armazéns, surgindo no segudo, uma sala comum a todas as direcções do
Ministério, e vários gabinetes; 1896, a obra achava-se bastante adiantada,
faltando alguns elementos de estuque e pintura; 1957, 19 Novembro, contrato do
arquitecto Cândido Paulo Teixeira de Melo para a remodelação do palácio, pela
quantia de 242666$60; 1965, 30 Março, entrega defenitiva do projecto de
remodelação do palácio; 1965, na memória descritiva para o projecto de
remodelação do palácio estava prevista a ligação ao palácio Palmela por túnel
ao nível das caves; 1965, Março, orçamento para o projecto de remodelação do
palácio Sobral; 1965, 10 Maio, abertura do concurso público para a empreitada
geral de ampliação e remodelação do palácio 1968, Setembro, no primeiro termo
adicional ao projecto de remodelação verifica-se que as paredes exteriores não
tinham a resistência necessária, optando-se pela sua reconstrução total,
nivelamento ao nível do palácio Palmela, uniformização das fachadas e pensa-se
a ligação por arco dos dois palácios.
Observações
1. Este edifício corresponde ao antigo palácio Sobral, cuja
fachada principal é possível conhecer por fotografias; tratava-se de uma
fachada dividida em cinco registos, correspondendo o último a um andar em ático
e mansarda; era revestida a cantaria aparente ao nível do primeiro piso, e
revestida em alvenaria rebocada e pintada nos seguintes, com divisão de andares
através de cornijas, marcação dos ângulos por pilastras de cantaria e remate em
platibanda; o pano central avançado, dispunha de galeria no primeiro piso, no
segundo de 3 janelas de sacada, guarnecidas de varanda corrida em cantaria, e
rematadas por cornija ondulada; ao nível do terceiro de 3 janelas de sacada de
cantaria, rematadas por cornija ondulada; o quarto piso dispunha de 3 janelas
de peitoril, rematadas por cornija recta;
2. Este edifício corresponde ao antigo palácio
Calhariz-Palmela, cujo módulo compositivo se manteve sensivelmente;
originalmente o palácio estendia-se á largura de sete vãos por andar,
dividindo-se o actual primeiro piso em dois, dispondo no primeiro de uma
sequência de portas e no segundo de janelas de peitoril. No andar em sobreloja
os actuais vãos rectangulares correspondiam a óculos ovalados; o actual piso em
mansarda é também um acrescento posterior; o portal principal manteve-se, mas o
motivo nobilitante das armas interrompendo a cornija do vão axial superior
perdeu-se; para E. o palácio dispunha de uma ala, com o mesmo número de pisos,
rematada por frontão triangular, dispondo-se na fachada S. escadaria de
aparato, aberta para jardim;
3. Parte do conjunto está implantado na freguesia de Santa
Catarina».
In
Inês Pais, Palácio Sousa Calhariz, Palácio Sobral, Edifício da Caixa Geral de
Depósitos, CGD do Calhariz, 2001-2016, Direcção-Geral do Património Cultural,
Ministério da Cultura, 2006, Nº
IPA Antigo PT 031106150908, 2011.
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