quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Palmela. O Espaço e as Gentes. Séculos (XII-XVI). João Tiago S. Costa. «Para além deste ribeiro de Córdova, igualmente denominado na documentação medieval como ribeiro grande ou ribeiro dos Barris…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Com a devida vénia a João Tiago Santos Costa

«(…) Contudo, a sua importância não passava meramente por questões de ordem estratégica em função do contexto de cruzada peninsular, mas também porque as condições geográficas e climáticas da região permitiam afirmá-la como uma zona de grande potencial económico, com elevada aptidão agrícola, cinegética, de exploração de minérios, de recursos piscícolas, entre outros, factores estes que importam agora sistematizar brevemente para que melhor se compreenda a fixação, na longa cronologia, de comunidades humanas neste território.

Na mesma linha do restante Portugal mediterrânico, na expressão de Orlando Ribeiro, o relevo na área ocupada pelo perímetro do termo de Palmela não ultrapassava os 400m de altitude. Aliás, o limite máximo observado diz respeito a um cerro da Serra de S. Luís, junto ao limite Su-sudoeste de Palmela, com 350m de altura. As restantes serranias não atingem sequer os 300m, ficando-se, o Louro, a Oeste do núcleo urbano, a 230m, S. Luís, a Sul do mesmo, a 220m e o cerro do castelo pelos 230m de altitude. Não obstante, esta sucessão de outeiros, pese embora apresentem altitudes relativamente baixas, originou uma variedade de encostas e vales abrigados que apresentam uma grande vocação arbórea, cinegética e agrícola, muitos deles pontuados por cursos de água que irrigavam toda a região.
Para além disso, estas elevações, numa zona que apenas a Sul e a Sudoeste apresenta cumes maiores já na Serra da Arrábida, contígua ao território de Palmela, proporcionavam também um vasto campo visual em seu redor, permitindo mesmo, em certos dias, vislumbrar uma linha do horizonte que se estende até ao Rio Tejo, para Norte, e à costa alentejana, para Su-sueste.

Este relevo é também ele gerenciador do clima, criando zonas abrigadas dos predominantes ventos de Norte e Noroeste e contribuindo também para o elevado potencial agrícola da região. Palmela, mercê de um posicionamento dicotómico, simultaneamente localidade de interior, mas na mesma sujeita à influência do clima litorâneo, apresenta as características dos climas mediterrânico e atlântico: um Verão quente e seco e um Inverno ameno, sujeito a perturbações de influência oceânica, nomeadamente ao nível da precipitação e dos ventos de Oeste, húmidos, facilmente sentidos nos cerros mais altos da região.

Este clima, balanceado entre os calores estivais e as chuvas, se bem que moderadas, do Inverno, contribui para a criação de bacias hidrográficas que dão origem por sua vez a vários cursos de água, alguns deles navegáveis apesar de a tendência no Sul de Portugal ser a de cursos de água com caudais menos fortes e regulares que os do Norte. Esta abundância de água, também ela condicionante dos processos e da intensidade da ocupação humana na região, visível, por exemplo, no fértil Vale de Barris, ao longo do qual corria a Ribeira de Córdova, obrigava na mesma a uma correcta gestão deste recurso que irrigava campos agrícolas, mas que também era usado como força motriz em engenhos moageiros.
Para além deste ribeiro de Córdova, igualmente denominado na documentação medieval como ribeiro grande ou ribeiro dos Barris, encontramos os ribeiros de Águas Bravas, Maldachas e Ervedeira, assim como o do Livramento, também ele navegável, que entroncava com o de Córdova acabando por desaguar no Sado, e o da Marateca, no limite Este do território de Palmela. Podemos assim entrever a presença, em termos tipológicos, de água doce em movimento, ribeiros, que seria também viveiro faunístico, fluindo todo o ano, e de água doce que apenas derivaria em determinadas alturas do ano, águas vertentes, em consequência de períodos de chuvas que formariam os caudais destas que engrossariam os das primeiras». In João Tiago S. Costa, Palmela. O Espaço e as Gentes. Séculos (XII-XVI), Tese de Doutoramento em História Medieval, FCT, FSE, MEC, QREN-POPH, 2016.

Cortesia de FCT/FSE/MEC/JDACT