jdact
As bibliotecas populares e a leitura pública. A criação da leitura
pública
«(…) A preocupação com a leitura para benefício do povo é um conceito que
surge integrado nos ideais iluministas do século XVIII, difundidos através da
Revolução Francesa de 1789. Surgem as primeiras bibliotecas populares e o papel
do bibliotecário começa a ser valorizado, porque os livros deviam estar
acessíveis a toda a população. No entanto, é na América do século XIX que este
conceito tem o maior desenvolvimento. Todos, independentemente da sua condição
de nascimento, deviam ser educados para se tornarem bons cidadãos.
Biblioteca pública e escola são conceitos que surgem intimamente ligados.
A biblioteca pública é a escola informal para toda a vida do cidadão, numa
ideia de aprendizagem contínua Em Portugal, as ideias liberais levaram à
criação da primeira biblioteca pública em 1836 no Porto, a partir da
incorporação dos bens das ordens religiosas, facto que se estende às capitais
de distrito a partir de uma Ordem de Agosto daquele ano de 1836. Devido ao carácter
dos seus acervos, estas bibliotecas portuguesas revelaram uma faceta de
conhecimento erudito, pouco acessível a todas as camadas da população com
problemas graves de analfabetismo, e constituíram-se mais como depósitos do
património documental português, do que com o objectivo (então afirmado) de
instruir o povo, permitindo-lhe um livre acesso.
O movimento de criação de bibliotecas populares para combater os
problemas da info-exclusão de grandes franjas da população portuguesa começou
em 1870, pelo Decreto de 2 de Agosto. Os objectivos destas bibliotecas
prendiam-se com a disponibilização do acesso a conhecimentos gerais às camadas
populares da população, com o apoio à sua formação profissional, ou seja, como
complemento do ensino formal, e por fim, facilitar a leitura a mulheres e
crianças. Tratava-se, concretamente, de um público masculino e feminino,
constituído indiscriminadamente por adultos, jovens e crianças, diz-nos
Magalhães (2003). As bibliotecas criadas neste âmbito foram as de Setúbal
(1873), de Santarém (1880), Coimbra (1892), Guimarães (1883). Seguidamente,
aproveitando a situação criada com a extinção das ordens religiosas, outros
municípios de menor dimensão procuraram implementar pequenas bibliotecas
municipais.
De início, as bibliotecas eram uma possibilidade das camadas populares
terem acesso à cultura das classes privilegiadas. Segundo Magalhães (2003):
As bibliotecas públicas de leitura gratuita e domiciliária, eram enquanto
bibliotecas populares, destinadas a um público que, embora mal tivesse
aprendido a ler e a escrever, corria o risco de, por falta de meios, ler ainda
menos do que aquilo que aprendera.
As bibliotecas populares tornam-se assim num factor de coesão social e
de progresso económico e de iniciativa oficial.
Extinção dos conventos e criação do DLEC (Depósito das Livrarias dos
Extintos Conventos)
Com a extinção das Ordens Religiosas em Portugal, em 1833, que formaram
e mantiveram durante séculos as verdadeiras bibliotecas deste país, o
património artístico-cultural português sofrera um grande abalo. Por isso, uma
portaria de 9 de Setembro de 1834 determinou a criação de bibliotecas públicas
com os livros dos conventos e ordens religiosas. Barata (2003) refere:
Ainda antes do Decreto de 28 de Maio de 1834, que extinguiu todos os
conventos, mosteiros, colégios, hospícios e quaisquer casas de religiosos de
todas as ordens regulares (...) adoptaram-se várias medidas legislativas
tendentes a salvaguardar diversas bibliotecas conventuais, tendo elas como
destinatário natural a Biblioteca Pública.
Barata explica que é a partir da Biblioteca Pública que surge a ideia
de criar um depósito geral: é então que do seio da Biblioteca Pública parte a
ideia do estabelecimento de um Depósito Geral… Esta Biblioteca Pública vai
administrar as livrarias provenientes dos conventos extintos, mesmo durante a
vigência do Depósito das Livrarias dos Extintos Conventos (DLEC)». In
Filomena M. F. Sousa Bruno, Mestrado em Formação de Adultos e Desenvolvimento
Local, ESE Portalegre, 2010, As Bibliotecas de Castelo de Vide e a Educação
Popular (1863-1899), CM de Castelo de Vide, Edições Colibri, 2011, ISBN
978-989-689-139-8.
Cortesia Colibri/JDACT