segunda-feira, 6 de abril de 2020

As Bibliotecas de Castelo de Vide. A Educação Popular (1863-1899). Filomena Bruno. «As bibliotecas públicas de leitura gratuita e domiciliária, eram enquanto bibliotecas populares, destinadas a um público que, embora mal tivesse aprendido a ler e a escrever…»

jdact

As bibliotecas populares e a leitura pública. A criação da leitura pública
«(…) A preocupação com a leitura para benefício do povo é um conceito que surge integrado nos ideais iluministas do século XVIII, difundidos através da Revolução Francesa de 1789. Surgem as primeiras bibliotecas populares e o papel do bibliotecário começa a ser valorizado, porque os livros deviam estar acessíveis a toda a população. No entanto, é na América do século XIX que este conceito tem o maior desenvolvimento. Todos, independentemente da sua condição de nascimento, deviam ser educados para se tornarem bons cidadãos.
Biblioteca pública e escola são conceitos que surgem intimamente ligados. A biblioteca pública é a escola informal para toda a vida do cidadão, numa ideia de aprendizagem contínua Em Portugal, as ideias liberais levaram à criação da primeira biblioteca pública em 1836 no Porto, a partir da incorporação dos bens das ordens religiosas, facto que se estende às capitais de distrito a partir de uma Ordem de Agosto daquele ano de 1836. Devido ao carácter dos seus acervos, estas bibliotecas portuguesas revelaram uma faceta de conhecimento erudito, pouco acessível a todas as camadas da população com problemas graves de analfabetismo, e constituíram-se mais como depósitos do património documental português, do que com o objectivo (então afirmado) de instruir o povo, permitindo-lhe um livre acesso.
O movimento de criação de bibliotecas populares para combater os problemas da info-exclusão de grandes franjas da população portuguesa começou em 1870, pelo Decreto de 2 de Agosto. Os objectivos destas bibliotecas prendiam-se com a disponibilização do acesso a conhecimentos gerais às camadas populares da população, com o apoio à sua formação profissional, ou seja, como complemento do ensino formal, e por fim, facilitar a leitura a mulheres e crianças. Tratava-se, concretamente, de um público masculino e feminino, constituído indiscriminadamente por adultos, jovens e crianças, diz-nos Magalhães (2003). As bibliotecas criadas neste âmbito foram as de Setúbal (1873), de Santarém (1880), Coimbra (1892), Guimarães (1883). Seguidamente, aproveitando a situação criada com a extinção das ordens religiosas, outros municípios de menor dimensão procuraram implementar pequenas bibliotecas municipais.
De início, as bibliotecas eram uma possibilidade das camadas populares terem acesso à cultura das classes privilegiadas. Segundo Magalhães (2003):

As bibliotecas públicas de leitura gratuita e domiciliária, eram enquanto bibliotecas populares, destinadas a um público que, embora mal tivesse aprendido a ler e a escrever, corria o risco de, por falta de meios, ler ainda menos do que aquilo que aprendera.

As bibliotecas populares tornam-se assim num factor de coesão social e de progresso económico e de iniciativa oficial.

Extinção dos conventos e criação do DLEC (Depósito das Livrarias dos Extintos Conventos)
Com a extinção das Ordens Religiosas em Portugal, em 1833, que formaram e mantiveram durante séculos as verdadeiras bibliotecas deste país, o património artístico-cultural português sofrera um grande abalo. Por isso, uma portaria de 9 de Setembro de 1834 determinou a criação de bibliotecas públicas com os livros dos conventos e ordens religiosas. Barata (2003) refere:

Ainda antes do Decreto de 28 de Maio de 1834, que extinguiu todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios e quaisquer casas de religiosos de todas as ordens regulares (...) adoptaram-se várias medidas legislativas tendentes a salvaguardar diversas bibliotecas conventuais, tendo elas como destinatário natural a Biblioteca Pública.

Barata explica que é a partir da Biblioteca Pública que surge a ideia de criar um depósito geral: é então que do seio da Biblioteca Pública parte a ideia do estabelecimento de um Depósito Geral… Esta Biblioteca Pública vai administrar as livrarias provenientes dos conventos extintos, mesmo durante a vigência do Depósito das Livrarias dos Extintos Conventos (DLEC)». In Filomena M. F. Sousa Bruno, Mestrado em Formação de Adultos e Desenvolvimento Local, ESE Portalegre, 2010, As Bibliotecas de Castelo de Vide e a Educação Popular (1863-1899), CM de Castelo de Vide, Edições Colibri, 2011, ISBN 978-989-689-139-8.

Cortesia Colibri/JDACT