segunda-feira, 6 de abril de 2020

Odes Modernas. Antero de Quental. «E todavia ardente... , eterno alento! Teu sopro é que fecunda a esfera vasta... Choras na voz do mar..., cantas no vento...»

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Panteísmo
[…]
«Ide! Crescei sem medo! Não e avara
A alma eterna que em vós anda e palpita...
Onda, que vai e vem e nunca pára!
Em toda a forma o Espírito se agita!
O imóvel é um deus, que está sonhando
Com não sei que visão vaga, infinita...

Semeador de mundos, vai andando
E a cada passo uma seara basta
De vidas sob os pés lhe vem brotando!
Essência tenebrosa e pura..., casta
E todavia ardente... , eterno alento!
Teu sopro é que fecunda a esfera vasta...
Choras na voz do mar..., cantas no vento...

II
Porque o vento, sabei-o, é pregador
Que através das soidões vai missionando
A eterna Lei do universal Amor.
Ouve-o rugir por essas praias, quando,
Feito tufão, se atira das montanhas,
Como um negro Titã, e vem bradando...

Que imensa voz! que prédicas estranhas!
E como freme com terrível vida
A asa que o libra em extensões tamanhas!
Ah! quando em pé no monte, e a face erguida
Para a banda do mar, escuto o vento
Que passa sobre mim a toda a brida,

Como o entendo então! e como atento
Lhe escuto o largo canto! e, sob o canto,
Que profundo e sublime pensamento!
Ei-lo o Ancião-dos-dias! ei-lo, o Santo,
Que já na solidão passava orando,
Quando inda o mundo era negrume e espanto!

Quando as formas o orbe tateando
Mal se sustinha e, incerto, se inclinava
Para o lado do abismo, vacilando;
Quando a Força, indecisa, se enroscava
Às espirais do Caos, longamente,
Da confusão primeira ainda escrava;

Já ele era então livre! e rijamente
Sacudia o Universo, que acordasse...
Já dominava o espaço, onipotente!
Ele viu o Princípio. A quanto nasce
Sabe o segredo, o gérmen misterioso.
Encarou o Inconsciente face a face,
Quando a Luz fecundou o Tenebroso».
[…]
In Antero de Quental, Antologia, Odes Modernas
Organizacao de José Lino Grunewald e Maria Fernanda AM Andrade

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