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A Piazza Pizzo di Merlo
«(…) Você diz coisas deliciosas…, deliciosamente, disse Rodrigo.
Eles são meus filhos, e eu os adoro. Nunca me esquecerei do grande serviço que V
me prestou ao dá-los a mim, minha adorada. Meu senhor... As lágrimas lhe
afloraram aos olhos e ela afastou-as depressa, mas Rodrigo estava olhando para
o céu, tamanha era a sua determinação de não as ver. Mas não é bom V morar
nesta casa..., uma mulher bela e ainda jovem, com os filhos à sua volta, e só o
tio dessas crianças para visitá-la. Meu senhor, se o ofendi de alguma maneira,
rogo-lhe que me diga depressa onde foi que errei. V não cometeu falta alguma,
minha cara Vannozza. Só fiz esses planos para tornar a vida mais fácil para si.
Não quero que ninguém aponte para si e diga: ah, lá vai Vannozza Catanei, a
mulher que tem filhos mas não tem marido. Foi por isso que arranjei um marido
para si. Um marido! Mas, meu senhor... Rodrigo silenciou-a com um sorriso
autoritário. V tem uma filhinha nesta casa, Vannozza; ela está com seis meses.
Portanto, tem que ter um marido. Aquilo era o fim. Ela sabia. Ele não teria
arranjado um marido para ela se não estivesse cansado dela.
Ele
leu os seus pensamentos. Mas não era de todo verdade que ele estivesse cansado
dela; ele sempre teria um certo afecto por ela e continuaria a visitar a sua
casa, mas seria com o objectivo principal de ver os filhos; havia mulheres mais
jovens com quem ele desejava passar as suas horas de lazer. Havia um certo grau
de verdade no que ele lhe estava dizendo; achava realmente aconselhável que ela
fosse conhecida como uma mulher casada, porque ele não podia admitir que
dissessem que os seus pequeninos eram filhos de uma cortesã. Ele disse, rápido:
os deveres do seu marido são viver nesta casa, aparecer consigo em público.
Acabam aí, Vannozza. O senhor quer dizer? Acha que eu poderia referir-me a
qualquer outra coisa mais? Eu sou um amante ciumento, Vannozza. Ainda não
aprendeu isso? Eu sei que o senhor é ciumento quando é amante, meu senhor. Ele
colocou uma das mãos no ombro dela. Não tenha medo, Vannozza. Nós ficamos
juntos por um tempo longo demais para nos separarmos agora. É unicamente pelo
bem dos nossos filhos que tomo essa providência. E escolhi um homem tranquilo
para ser seu marido. É um bom homem, um homem de grande respeitabilidade, e
está preparado para ser o único tipo de marido ao qual eu daria sem me
preocupar.
Ela
segurou-lhe a mão e beijou-a. E Vossa Eminência virá visitar-nos de vez em
quando? Como sempre, minha cara. Como sempre. Agora venha conhecer Giorgio di
Croce. Vai ver que ele é um homem de bom temperamento; eu lhe asseguro que não
vai ter dificuldades com um homem assim. Ela seguiu-o para dentro de casa,
imaginando que tipo de estímulo tinha sido oferecido àquele homem para fazê-lo
concordar em casar-se com ela. Não era difícil adivinhar. Praticamente não
haveria um homem em Roma que se recusasse a casar-se com uma mulher que o
influente cardeal escolhera para si.
Vannozza
estava aflita. Não gostava de ser negociada assim, como se fosse uma escrava.
Sem dúvida iria manter Giorgio di Croce no lugar dele. Na sala que dava para a
praça, ele estava esperando. Levantou-se quando eles entraram, e o cardeal fez
as apresentações. O homem de bom temperamento tomou as mãos dela e as beijou;
ela o estudou e viu que os olhos lívidos brilharam enquanto ele assimilava o
seu voluptuoso encanto. Será que o cardeal percebeu? Se percebeu, não
demonstrou.
Da
loggia da casa de sua mãe, Lucrécia olhava a praça e observava com um prazer
tranquilo as pessoas que passavam. A cidade das sete colinas, lá fora da casa
de sua mãe, a deixava fascinada, e seu prazer favorito era escapar para a
Iqggia e ficar vendo as pessoas passando pela ponte de Santo Ângelo. Havia
cardeais montados em mulas brancas, cujos bridões de prata brilhavam à luz do
sol; havia damas e cavalheiros mascarados; havia liteiras, com as cortinas
cerradas de modo a tornar impossível ver os seus ocupantes.
Os
grandes olhos curiosos de Lucrécia olhavam através de fendas na alvenaria,
enquanto os seus dedinhos gordos se enroscavam nos pilares. Ela estava com dois
anos, mas a vida com os irmãos fizera com que parecesse mais velha. As mulheres
da ala infantil a adoravam porque, embora ela se parecesse com os irmãos, era
completamente diferente deles no carácter. A índole de Lucrécia era
resplandecente; quando era repreendida por uma falta cometida, ouvia séria e
não guardava rancor de quem a repreendia. Não era de admirar que naquela ala
infantil, tornada turbulenta pelos dois meninos, Lucrécia fosse considerada uma bênção». In Jean
Plaidy, Lucrécia Borgia, Edição Record, 1996, ISBN
978-850-104-410-5.
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