sexta-feira, 3 de abril de 2020

Viagens e Viajantes no Atlântico Quinhentista. Maria Graça Ventura. «Em Outubro, chegou ao local uma caravela que transportava Paulo Nunes, investido por João III no cargo de capitão de Pernambuco»

jdact

A disputa luso-francesa pelo domínio do Brasil até 1580
Jorge Couto
«(…) A embarcação do almirante gaulês, equipada com 18 canhões e transportando 120 homens, atingiu o litoral pernambucano em Março de 1531, altura em que os dois grupos de combate da esquadra portuguesa se encontravam a norte e a sul da região nordestina. Os expedicionários franceses, dirigidos por Jean Duperret, atacaram, saquearam e arrasaram a feitoria lusitana, que contava apenas com seis portugueses e com índios amigos (tabajaras), e construíram um novo entreposto fortificado na ilha de Santo Aleixo, território dos seus aliados caetés, defendido por uma guarnição de 60 a 70 homens. Aquela nau, após ter sido carregada com 5 000 quintais de pau-brasil, 300 de algodão, 3 000 peles, 600 papagaios e grande número de símios, levantou ferro de Pernambuco com destino ao porto de origem.
Na viagem de regresso ao reino, iniciada a 22 de Maio de 1532, a flotilha de Pero Lopes Sousa, que compreendia a nau Nossa Senhora das Candeías, uma das três unidades apreendidas em 1531, e o galeáo São Vicente, detectou na ilha de Santo Aleixo, no início de Agosto, dois navios gauleses, tendo afundado uma das naus e apresado a outra. O forte, dirigido pelo senhor de La Motte, foi atacado, tendo-se a guarnição rendido depois de dezoito dias de bombardeamento. Como represália por uma tentativa de assassinato do capitão português, foram enforcados La Motte e vinte dos seus homens. Depois de ordenar a destruição do estabelecimento gaulês, Pero Lopes dirigiu a reconstrução da feitoria portuguesa, que foi fortificada, no sítio posteriormente designado dos Marcos, na margem direita do canal de ltamaracâ, tendo designado Vicente Martins Ferreira e o bombardeiro Diogo Vaz para as funções, respectivamente, de comandante e condestável. Em Outubro, chegou ao local uma caravela que transportava Paulo Nunes, investido por João III no cargo de capitão de Pernambuco.
A esquadra, acrescida da nau entretanto aprisionada, zarpou do local a 4 de Novembro, tendo aportado a Faro em Janeiro de 1533. O monarca, depois de ter recebido Pero Lopes em audiência, determinou que se encarcerassem os trinta franceses no Limoeiro, que os quatro reys da terra do brasil fossem bem tratados e vestidos de seda, que se anulassem as instruções transmitidas à armada de Duarte Coelho para destruir o forte gaulês em terras pernambucanas e, finalmente, que se procedesse à arrematação na praça lisboeta dos dois navios apresados. A nau marselhesa, que transportava uma carga de produtos brasílicos avaliada em 62 300 cruzados, não teve melhor sorte que a feitoria galo-pernambucana. Já se encontrava em águas mediterrânicas, após ter efectuado uma escala em Málaga, quando foi capturada, em Agosto de 1532, pela armada do Estreito, capitaneada por António Correia, e conduzida a Lisboa. O empreendimento americano do barão de Saint-Blancard redundou, por conseguinte, num completo insucesso.
A coroa gaulesa somente no reinado de Francisco I tomou a iniciativa de procurar ocupar uma parcela do continente americano, organizando, entre 1534 e 1542, quatro expedições com o objectivo de criar a Nova França. No início de 1534, a administração joanina tomou conhecimento de que em França se aprestava uma armada com destino à América. No porto de Saint-Malo, dois navios comandados por Jacques Cartier preparavam-se para partir para a Terra Novale». In Jorge Couto, Viagens e Viajantes no Atlântico Quinhentista, coordenação de Maria da Graça Ventura, Edições Colibri, Faculdade de Letras de Lisboa, Lisboa, 1996, ISBN 972-8288-21-2.

Cortesia de Colibri/JDACT