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de wikipedia e jdact
«(…) Cada
época valoriza diferentes objectivos de aprendizagem dos alunos, que variam à
medida que variam as grandes finalidades da educação. Não é a mesma coisa
preparar elites para frequentar o ensino superior numa sociedade obscurantista
e ditatorial ou proporcionar uma educação para todos visando o exercício da
cidadania numa sociedade democrática. Mas será de ter presente que o discurso
sobre os maus resultados dos alunos no ensino básico e secundário não é de
hoje. Ainda nos anos 40, num pequeno artigo de opinião, em que analisa o
desempenho dos candidatos às provas de admissão à universidade, Bento Jesus
Caraça (1943) afirma que muitos deles manifestam certos hábitos e vícios de
raciocínio (...) altamente perniciosos, destacando erros persistentes em
questões de Matemática elementar como operações aritméticas e cálculo de áreas
e volumes.
Bento de Jesus Caraça é uma daquelas grandes
figuras que vêem muito para além do seu tempo, identificando os grandes
problemas e apontando os caminhos do futuro. Um aspecto onde isso se manifesta
com clareza diz respeito ao uso das tecnologias no ensino da Matemática. Em
contraste com as posições atávicas que continuam a ouvir-se ainda hoje, em
pleno século XXI, diabolizando as novas tecnologias como promotoras da preguiça
mental, é com uma visão positiva que Bento Caraça perspectiva o seu uso na escola
no quadro de um ensino para todos:
Duvidamos que as tábuas
de logaritmos, como instrumento de trabalho, conservem por muito tempo a
soberania que tiveram. Em certos ramos de aplicação da Matemática à vida
corrente, a tábua de logaritmos está hoje de largo ultrapassada pela máquina de
calcular (…) Cada época cria e usa os seus instrumentos de trabalho conforme o
que a técnica lhe permite; a técnica do século XX é muito diferente da do
século XVI, quando os logaritmos apareceram como necessários para efectuar
certos cálculos. O ensino do liceu que é, ou deve ser, para todos, deve ser orientado no sentido de
proporcionar a todos o manejo do instrumento que a técnica nova
permite.
É claro que toda a tecnologia pode ser bem ou mal usada. Um ensino
desastrado, cheio de tecnologia, não promove a aprendizagem. Disso não têm as
tecnologias culpa nenhuma. Mas uma coisa é certa: as tecnologias têm hoje um
papel fundamental na sociedade e a tarefa dos educadores é tirar delas o melhor
partido, conservando, como em relação a tudo, o sentido crítico. Em
circunstâncias extremamente difíceis, Bento Caraça, coordenador da Secção
Pedagógica da Gazeta de Matemática, procurou questionar a tradição da memorização
e mecanização. São bem conhecidos os seus comentários mordazes sobre os
professores que actuam como sacerdotes do manipanso e a sua condenação
de um ensino incapaz de promover o espírito crítico dos alunos. Bento Caraça
deixou-nos importantes reflexões sobre os problemas do ensino da Matemática, as
aprendizagens, os métodos e as finalidades do ensino, muitos dos quais
conservam plena actualidade ainda hoje.
A matemática moderna (anos
60)
Os anos 60 ficaram marcados pelo movimento internacional da
Matemática moderna. Os currículos de Matemática foram profundamente
reformulados, tendo-se introduzido novas matérias, eliminado matérias
tradicionais e, sobretudo, introduzido uma nova abordagem da Matemática e uma
nova linguagem pontuada pelo simbolismo da Lógica e da Teoria dos Conjunto.
Na origem deste movimento, que teve um paralelo no ensino das ciências, estava
a insatisfação crescente dos matemáticos com a preparação dos jovens que então
chegavam à universidade. Um dos principais líderes deste movimento, Jean
Dieudonné, afirmou na sua célebre conferência no Seminário de Royamont:
[No que diz respeito] ao problema estritamente prático da passagem
dos estabelecimentos escolares à universidade (…) a maior parte dos professores
da faculdade estão de acordo, creio eu, em pensar que a situação actual é neste
campo infelizmente muito má e que se agrava de ano para ano (1961)
Neste
movimento foi determinante a influência da perspectiva formalista da
Matemática, particularmente na sua versão bourbakista. Para o
formalismo, o que conta é o modo como se manuseiam os símbolos e não o seu
significado. Ganha-se em rigor mas perde-se na compreensão das ideias e dos
conceitos matemáticos. O formalismo foi um programa ambicioso que visava
construir uma fundamentação inatacável para a Matemática, objectivo que não
conseguiu alcançar. No entanto, viria a consagrar-se como estilo de discurso
matemático. Como doutrina para sustentar a didáctica da Matemática, revelou-se
completamente inadequado». In João
Pedro Ponte, O ensino da Matemática em Portugal, Uma prioridade educativa?, Conferência realizada no Seminário sobre O Ensino da
Matemática: Situação e Perspectivas, promovido pelo Conselho Nacional de
Educação, em Lisboa, no dia 28 de Novembro de 2002, Wikipédia.
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