sábado, 4 de abril de 2020

José Augusto Macedo. Maria Ivone O. Andrade. «José Agostinho de Macedo nasce na cidade de Beja em 11 de Setembro no ano da graça de 1761. Nos termos da certidão de baptismo constam os nomes dos pais: Francisco José Tegueira e Angélica dos Serafins Freire»

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Um Iluminista Paradoxal
«José Agostinho de Macedo, nascido após o meridiano de Setecentos, é contemporâneo da grande Revolução. Em Portugal, sob o beneplácito de José I, em pleno consulado pombalino, testemunha o deslocamento de algumas perspectivas económico-sócio-políticas e assiste ao contrito reinado mariano. No apogeu da idade adulta, ao pisar o limiar do século XIX, Macedo transporta consigo os fantasmas do século que o viram nascer. Pela formação eclesiástica ascende a uma ordem hegemónica do reino. Bem naturalizado, vive sob a regência daquele que será o nosso primeiro e desafortunado rei constitucional, João VI. Já com o país em estado predisposto à sublevação, fermento deixado pela primeira experiência liberal, Agostinho atravessa o atribulado reinado de Pedro IV, com a questão sucessória e a abdicação em sua filha Maria I, e, num instaurado clima de pré-guerra, o padre Macedo, já oficialmente arregimentado no movimento miguelista, participa na defesa do status quo absolutista do Portugal Velho, consciente da sua condição de sociedade sitiada.
A primeira fase de um Macedo leitor das Luzes e literato foi muitíssimo prolongada. De que modo terá a cultura clerical estruturado a mentalidade do poeta e do conhecido pregador? Num momento de ruptura, introduzidas novas categorias num mundo em trânsito, onde se postulava outro tipo de sociedade e se impunha a decisão de aderir a uma nova configuração político-cultural, encontrar-se-ia Macedo em condições de actuar independentemente, como aconteceu a algumas grandes figuras do clero lusíada? Ou, penhorado a fidelidades canónicas e a formas implícitas de mecenato, ter-se-á visto coagido a desconhecer alternativas? Procuraremos enquadrar os elementos da ambiência respirada por Macedo, a fim de conhecermos os condicionamentos sócio-culturais que determinaram as suas opções.
José Agostinho de Macedo nasce na cidade de Beja em 11 de Setembro no ano da graça de 1761. Nos termos da certidão de baptismo constam os nomes dos pais: Francisco José Tegueira e Angélica dos Serafins Freire; mas não percebe Inocêncio Francisco Silva, seu principal biógrafo, nem nós, como vem a optar pelo apelido de Macedo. Opção acompanhada de manifesto repúdio pelo verdadeiro nome: que diabo de Teiguera [sic] é este? O que lhe escreve a Carta: assina-se Teiguera, agora diz que eu sou Teiguera? Desentendida a observação feita, e sem documentos para elucidar tal enigma, este comportamento releva possivelmente de um problema de identidade, embora no Breve de Secularização do frade José Agostinho já conste o apelido Macedo. Apresentamos um trecho da cópia do original da certidão do baptismo de Macedo, transcrita pelo tabelião João Silvestre Fonseca de Beja, em 1843: [...] No primeiro dia do mês de Outubro de mil setecentos e sessenta e um anos de minha licença baptizou e pôs os Santos óleos o reverendo padre Pires Nolasco tesoureiro na Colegiada de S. João Baptista desta cidade a José, filho primeiro de Francisco José Tegueíra natural desta Cidade e de sua mulher Angélica dos Serafins Freire natural da Freguesia de S. Julião da Cidade de Lisboa.

Formação Eclesiástica. A memória como talento
Oriundo de uma família de poucos recursos e dotado de excelente memória, desde criança capaz de reproduzir um sermão inteiro, Agostinho parece destinado à vida eclesiástica. Emprego justo para dom tão apreciado e único meio de promoção numa sociedade estratificada em ordens quase incomunicáveis». In Maria Ivone Ornellas Andrade, José Augusto Macedo, Um Iluminista Paradoxal, Edições Colibri, Delegação Regional da Cultura do Alentejo, Ministério da Cultura, CM de Beja, 2001, ISBN 972-772-305-5.

Cortesia de EColibri/JDACT