Cortesia
de wikipedia e jdact
Uma
maneira de morrer
«Um livro revelador que demonstra como o Vaticano
salvou milhares de judeus durante o Holocausto e elucida por que razão a
história deve reabilitar o papa Pio XII. Acusado de não ter condenado
Hitler pelo fanatismo e ódio racial com que o ditador-nazi governava a
Alemanha, o chefe da Igreja Católica Romana ficou conhecido, durante a Segunda
Guerra Mundial, como o Papa que se manteve em silêncio durante o Holocausto.
Contudo, T G apresenta neste livro provas que refutam totalmente essas
acusações. Uma pesquisa minuciosa revela uma rede encoberta de padres, freiras
e cidadãos católicos que diariamente arriscaram as suas vidas para proteger os
judeus. Ao investigar assassinatos, conspirações e conversões secretas, o autor
dá a conhecer as mais extraordinárias acções levadas a cabo por católicos e
pelo Vaticano. Em Os Judeus do Papa encontramos, finalmente, a resposta à
grande questão moral do Holocausto: por que razão o papa Pio XII recusou-se a
condenar o genocídio dos judeus da Europa? Pio XII não foi o papa de
Hitler, mas sim, muito provavelmente, o mais perto que os judeus estiveram
de ter uma voz no Vaticano». In Sinopse
Naquela
desconsolada manhã de Inverno, em 10 de Fevereiro
de 1939, Eugénio Maria Giuseppe Pacelli estava parado no vão da porta do quarto
observando o que se sucedia em volta da cama de bronze. Duas freiras de
meia-idade realizavam seu trabalho em movimentos harmoniosos, exactamente como
se esperava que fosse. Lidar com a morte era algo que os anos de experiência
havia lhes dado. Para Pacelli, morrer era uma garantia de vida após a morte.
Muito tempo antes havia aprendido isso com a sua mãe, Virginia, uma filha
devota da Igreja Católica Apostólica Romana. O filho de Virgínia era Sua Eminência,
o cardeal secretário de Estado da Santa Sé, a segunda figura mais poderosa
dentro da Igreja. Uma hora atrás, logo após a morte do homem idoso na cama,
papa Pio XI, Pacelli se tornara a figura mais importante de todo o mundo católico.
Ele era agora o camerlengo, um posto que combinava o papel do tesoureiro do
Vaticano com o de chefe de gabinete da Santa Sé. Ele seria o responsável pela
organização do funeral do papa Pio XI e pelo conclave para eleger um novo papa.
Pacelli tinha sessenta
e quatro anos de idade e estatura média, era magro, com um nariz tipicamente
romano, recto com narinas estreitas e uma leve saliência no meio da ponte. Por
trás de seus óculos de estilo antiquado, residia o olhar de um homem que
imediatamente sabia reconhecer e entender uma situação. Através da janela
fechada do andar onde estava o quarto do Palácio Apostólico do Vaticano
chegava, de mais de sessenta metros abaixo, o murmúrio da multidão na praça São
Pedro que rezava pela alma do papa Pio XI, o 259º sumo pontífice da Igreja.
Durante vinte anos, ostentara vários títulos, postos e poder, que haviam afectado
directamente a vida de vários milhões de católicos. Pio estava às portas da
morte havia dias, a duras penas era mantido vivo pelos remédios que os seus médicos
lhe administravam. Eles haviam deixado o quarto, o seu trabalho finalmente
estava encerrado. Em breve Pacelli começaria o seu.
Pacelli continuava
a observar o corpo, ainda envolto na sua camisola branca. Uma freira havia
removido as meias de dormir que o papa usava devido à sua circulação sanguínea
insuficiente, um dos muitos problemas médicos por ele enfrentados. Estava com
oitenta e um anos, a pele firme no seu crânio, o seu cabelo delicadamente
grisalho e as veias saltadas no dorso das suas mãos. Os seus olhos foram
fechados; não olhariam mais de maneira afavelmente inquiridora. Poucos dias
antes, ainda haviam olhado para Pacelli, quando este estava sentado ao lado da
cama e conversavam de um assunto familiar, o destino dos judeus ou, mais
precisamente, o de Guido Mendes e sua família. Para o papa e Pacelli, eles
representavam o que estava acontecendo com os judeus na Alemanha e na Itália e
em todos os países onde o antissemitismo se estava espalhando.
Guido Mendes era filho de uma família judia de Roma, cuja
linhagem remetia a Fernando Mendes, médico da corte do rei Carlos II da
Inglaterra. Eugénio se sentava próximo a Guido na escola e, mais tarde, na
faculdade. Com isso, tornaram-se bons amigos; Eugénio tornara-se convidado
regular dos jantares de Shabat dos
Mendes, Guido tinha o seu lugar na mesa de Natal dos Pacelli. Na época em que
Eugénio começava o seu treinamento para o sacerdócio e Guido havia entrado na
escola de medicina, o círculo de amigos judeus de Eugénio já se havia ampliado
para mais de uma dezena. Eles foram à sua ordenação e assistiram à celebração
da sua primeira missa. Ele caminhara com seus amigos em volta da praça São
Pedro, chamando a atenção para as várias estátuas de santos no topo da colunata
de Bernini. Os amigos lhe ensinaram o hebraico básico». In Gordon Thomas, Os
Judeus do Papa, Casa das Letras, 2012, ISBN 978-972-462-137-1.
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