quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Coimbra. Poesia. Fado. «A criança eterna acompanha-me sempre. A direcção do meu olhar é o seu dedo apontando. O meu ouvido atento alegremente a todos os sons são as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas…»

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Asas Brancas
Quando eu era pequenino, a desventura
trazia-me saudoso e triste o rosto
assim como quem sofre algum desgosto
assim como quem chora de amargura.

Um anjo de asas brancas muito finas ao
ver-me assim tão triste mas inocente
cedeu-me as suas asas pequeninas
para me ver voar e ser contente.

As asas de criança meu tesoiro
ao ver-me assim tão triste, iam ao céu…
Tão brancas, tão macias… Penas d’oiro
tão leves como a aragem… Como eu!

Cresci! Cresceram penas juntamente
já grandes são as mágoas mais pequenas!
[E] As asas brancas vão-se e ficam penas!
Não mais subi ao céu, nem fui contente!

Poema de Afonso Sousa (1906-1993)


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