quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Evocação de Maria Lúcia Lepecki. Beatriz Weigert. «… pela dedicação cultivada por ela, aos valores da Língua Portuguesa. Instituições de ensino e personalidades do mundo das letras sinalizam o testemunho de reconhecimento. Absorvida pelas Literaturas da Língua Portuguesa, Maria Lúcia inaugura sua obra com a edição de estudos sobre Camilo Castelo Branco…»

Cortesia de wikipedia

Escritora, investigadora, ensaísta, crítica literária, professora.
«Maria Lúcia Lepecki, professora catedrática da Universidade de Lisboa, distingue-se como voz actuante em várias áreas da cultura da Língua Portuguesa. Sua palavra veicula-se em modalidades editoriais da imprensa escrita e falada, contando-se a publicação em livros e periódicos, gravação de programas radiofónicos e televisivos. Nascida em Araxá, Minas Gerais, a 27 de fevereiro de 1940. Realiza pesquisas, principalmente relacionadas com a Literatura Portuguesa, na Sorbonne e na École Pratique de Hautes Études. Em Lisboa, faz estágios como bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian. Lecciona matérias da sua área científica de eleição, Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea e Teoria Literária, na Universidade de Lisboa (1970-2008) e em Universidades estrangeiras, orientando teses de Doutoramento. Colabora com a Escola de Formação de Professores do Ensino Secundário da Cidade da Praia, sendo uma das responsáveis pela criação da licenciatura em Estudos Cabo-verdianos e Portugueses, embrião da Universidade de Cabo Verde. No CLEPUL, Centro de Literaturas de Culturas Lusófonas e Europeias da Universidade de Lisboa, tanto como Directora, tem a seu cargo a coordenação de linhas de investigação.
Distingue-se na imprensa periódica, mantendo coluna de Crítica Literária no Diário de Notícias, participando na Revista Colóquio-Letras, colaborando em revistas e jornais portugueses e estrangeiros. Na revista Super Interessante, mantém, de 1998 a 2011, a página A vida íntima das palavras. Na programação radiofónica e televisiva, marcam-se suas intervenções culturais, em forma de entrevista (Antena 2), Revista feminina Frou-Frou (1995-RTP) e a rubrica Travessa do Cotovelo (2006- RTP2).
Maria Lúcia Lepecki integra-se em entidades associativas e obtém distinções. Recebe, em 1977, o Prémio Nacional da Crítica, da Fundação Cultural do Distrito Federal, Brasília, pelo ensaio Autran Dourado: Uma Leitura Mítica. Em 2000, é condecorada, pelo Presidente da República de Portugal, como comendadora da Ordem de Sant’Iago da Espada. Em 2004, é agraciada, pela Associação Portuguesa de Escritores, com o Grande Prémio de Ensaio Literário pelo livro Uma questão de Ouvido: Ensaios de Retórica e de Interpretação.
Ao seu falecimento, ocorrido a 24 de Julho de 2011, publicam-se homenagens a Maria Lúcia, pela dedicação cultivada por ela, aos valores da Língua Portuguesa. Instituições de ensino e personalidades do mundo das letras sinalizam o testemunho de reconhecimento. Absorvida pelas Literaturas da Língua Portuguesa, Maria Lúcia inaugura sua obra com a edição de estudos sobre Camilo Castelo Branco, seguindo-se-lhe os livros sobre Fernanda Botelho, Eça de Queirós, Autran Dourado, José Cardoso Pires e Júlio Dinis. O conjunto dos ensaios críticos, abrangendo as datas de 1970 a 2002, vêm com os títulos de Meridianos do Texto, Sobreimpressões e Uma questão de ouvido: Ensaios de Retórica e de Interpretação. Essas colecções reúnem trabalhos divulgados em diferentes órgãos de comunicação. São as lições de Maria Lúcia, que se estendem para a crónica. São ensaios que brotam da experiência de sala-de-aula, do diálogo com os alunos, da elaboração da escrita científica: Lepecki ressalta a busca do sentido, demonstrando que o trabalho da crítica literária se faz de palavras ditas por causa de outras. O contexto do livro marca as palavras e essas encaixam-se no contexto da nossa imaginação. Há, por aqui, uma espécie de território intermédio habitado pelo que o livro diz e pelo que nós nos vamos dizendo por causa do livro.

Como se fosse para seu irmão de doze anos. Zonas de obscuridade semântica admitem questões que se esclarecem. Ressalta-se, por essa via, na prática, o princípio básico da vida intelectual, que exige do emissor a elaboração da mensagem em adequação ao alcance do receptor. O propósito de ensinar firma-se no modo como Maria Lúcia desenvolve seu trabalho. Estrutura rigorosa, a clareza estabelece-se já nos textos preambulares. Posiciona-se o Eu-emissor do discurso, diante do Tu-receptor com a finalidade de conduzir o curso da leitura, antecipando as linhas da reflexão. Compare-se com Intróito ao que há-de ser, ou onde o desejo espera, em Ideologia e Imaginário (ensaio sobre José Cardoso Pires). A seguir Prefácio: o Centro da Mente, de Sobreimpressões e Introdução: Retórica, Interpretação, Espírito, de Uma Questão de Ouvido: Ensaios de Retórica e de Interpretação Literária. Os títulos podem conter o chamamento afectivo, o vezo emocional que dispara o entendimento com o leitor, diga-se, a aproximação entre orador e ouvinte. É recado ao leitor, mas em jeito de comunicação-historieta, que pretende ser narrativa. É promessa ao que há-de ser, é provocação da curiosidade para o centro da mente, ou para a relação entre os conceitos que unem retórica a espírito». In Beatriz Weigert, Evocação de Maria Lúcia Lepecki Revista Letras Com Vida, Literatura, Cultura e Arte,  nº 4, 2011, CLEPUL, Gradiva.


Cortesia de CLEPUL/JDACT