No topo do vulcão
«(…) Mostra
concretamente que, em tempos pré-históricos, este vulcão, dentro do Mar Egeu,
experimentou uma explosão para a qual não há paralelo, na extensão de sua
violência e danos potenciais, muito além de seus horizontes. Há evidências
suplementares, a partir de escavações que principiaram em 1967 em Santorini mesmo, na vila
de Acrotirí. Estas escavações demonstraram que a ilha era parte activa e
culturalmente avançada da civilização minóica, da qual o palácio de Cnossos, em
Creta, ao sul daqui, é o exemplo mais amplamente conhecido. Sob a direcção do
professor Spiridion Marinatos, que morreu num acidente no local da escavação,
em 1973, Acrotirí tem fornecido
obras de arte, ferramentas, edifícios e outros elementos da civilização que
colocam seu papel cultural firmemente dentro da vida minóica. Marinatos
adiantou a hipótese de que a explosão do Santorini causou tamanha inundação nas
costas cretenses que segmentos inteiros de seu litoral foram destruídos; ao
mesmo tempo, o vulcão deve ter cuspido cinzas e pomes sobre Creta em tal quantidade
e densidade, de modo a enterrar a civilização minóica, inclusive o palácio de
Cnossos, e expulsar seus habitantes. Exactamente qual a cronologia destes
cataclismas, ou se Santorini (Thera) era a Atlântida de que
falava Platão, ninguém pode dizer com certeza. Arqueólogos, geólogos,
vulcanólogos, e uma nova geração de cientistas, arqueólogos submarinos, podem
trazer diferentes factos para sustentar diferentes visões. Mesmo a ciência de
datação dos artigos encontrados em escavações é ainda relativamente jovem, e os
especialistas polemizam sobre seus tópicos, nas publicações especializadas. O
assunto torna-se ainda mais complicado quando se encontram restos de
civilizações que foram submersas pelo mar por séculos, ou milênios; água, areia
e marés tornam a datação extremamente difícil, e a erosão submarina comporta-se
diversamente da que se dá em terra emersa.
Se a
vasta erupção do Santorini, cerca de 1.500 a.C. está no cerne da
ideia da Atlântida, que dizer de relatos dos restos da Atlântida em outros lugares? Afinal, algumas
autoridades sustentam que a Atlântida era um continente no Oceano Atlântico,
sendo ilhas assim como os Açores, meros remanescentes dele. E também, muito
recentemente, expedições submarinas perto de Bimini, no Caribe, apontaram para
uma civilização submergida; evidências associadas com a Atlântida foram
relatadas nas costas da Espanha e Irlanda, no Mar do Norte, e ainda alhures. Não
precisamos desencorajar explorações actuais e futuras, sob os mares, quando
presumimos que, presentemente, as novas evidências de Santorini são
provavelmente os mais persuasivos dos dados ora disponíveis relacionados com os
textos de Platão. O que torna esta evidência persuasiva é a própria natureza
das escavações de Acrotiri; aqui podemos medir evidências de campo contra
controvérsias académicas e alegações coloridas, mas fracamente documentadas. Andei
pelas escavações de Acrotiri uma década depois de terem principiado. O que Marinatos e seus colegas desenterraram era
uma cidade suficientemente acessível, isto é, não muito profundamente coberta
por detritos vulcânicos, de modo que as ferramentas e técnicas modernas podem
preservá-la consideravelmente. Ao passo que os afrescos delicadamente coloridos
e traçados estão agora em exposição no Museu Arqueológico de Atenas, o
sítio de Acrotiri é claramente visível como uma série de casas, ruas, centros
artesanais e armazéns. Não há praticamente dúvida nenhuma de que o povo que
viveu aqui por volta de 1.500 a.C. foi inicialmente expulso
de suas habitações por uma perturbação que pode ter sido um forte terremoto;
depois, a explosão vulcânica cobriu o povoado com detritos.
A controvérsia sobre a Atlântida deve ser considerada à luz
da moderna arqueologia, seus feitos e limitações. Três nomes agora se destacam,
nomes que são marcos na estrada que nos leva de volta à antiga Grécia. Um é
Heinrich Schliemann, que descobriu Tróia e Micenas; o outro, é Arthur Evans, que desenterrou e
reconstruiu o palácio de Cnossos, em Creta, e cunhou o termo civilização minóica; o terceiro,
é Marinatos, que primeiro chamou a atenção à presença de pedra-pomes na cidade
cretense de Amnissos, que ele atribuiu a emanações vulcânicas do Santorini.
Spiridion Marinatos publicou os resultados deste trabalho arqueológico de detective
no trabalho Sobre a Lenda da Atlântida,
no jornal especializado Creta Chronica, em 1950. A Segunda Guerra Mundial interrompera seu
trabalho. Marinatos e seus colegas engajaram-se em outras escavações durante o
período imediatamente após a guerra». In Martin
Ebon, Atlantis, The New Evidence, 1977, Atlântida, As Novas Provas, tradução de
Márcio Pugliesi, Editora Pensamento, Brasil.
Cortesia
de EPensamento/JDACT