Prólogo
«Olha
a minha Terra Brava!...
Negra
e seca, dura e crua,
onde
o aço da charrua
não
abriu um rego só!
Nem
a sombra dum pinheiro,
nem
o espelho dum regato,
só
pedregulhos e mato,
só
ventanias e pó!..
É
toda um ermo, um deserto,
nem
asa de borboleta,
nem
zumbir de abelha inquieta,
nem
cantar de rouxinol,
como
se toda ela fosse
coberta
pela geada,
e
ainda por cima, queimada
pela
fogueira do Sol!
E
o que há nessa Terra Brava?
Apenas
áridos montes!...
Nem
o marulhar das fontes,
nem
cheiro de rosmaninho...
Tudo
rocha alcantilada
e
nela, uns fraguedos tais,
que
nem as águias reais
lá
querem fazer o ninho.
Quem
olhar p'ra estes versos
onde
eu pus as minhas dores
não
vê o jardim de flores
com
que eu ás vezes sonhava;
mas
a culpa não é minha,
porque
a vida é sempre assim:
onde
eu quis pôr um jardim
só
encontrei Terra Brava...»
Poema de Frederico Brito, in ‘Terra
Brava’
In
J. Frederico Brito, Terra Brava, Versos, Empresa Nacional de Publicidade,
Lisboa, 1932.
Cortesia
ENPublicidade/JDACT