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Como a habitual sopa de legumes, vitaminada e suculenta; ingiro, por fim, a
salada de frutas, aromatizada e fresca. Puxo para o sovaco a cadeira de praia e
arrasto-me com ela até à sombra do pinheirinho manso e aqui me sento, de gazeta
aberta e olhos sequiosos de notícias, nesta tarde de Agosto escaldante. As
copas imóveis dos pinhos bravos envolventes ostentam os seus candelabros
lenhosos ,que o calor faz estalar e libertar os peniscos, num brando rodopiar
de sementeira alada.
Sob
a carícia de outras sombras, dispersas pela relva, outras leituras se mostram,
neste espaço cultural da Casa da Cerca, agora toda ela vestida de noiva,
gritante de pérolas, esmeraldas e coral: a dos Escombros paternos e a do
Memorial
do Convento, de José Saramago. Na minha repousante leitura,
descubro a seguinte notícia desoladora: Em
S. Vítor, queda de granizo causa estragos. Na rua de D. Pedro V, a queda de muro provocou inundação, de lama em
algumas moradias. Entretanto, automóveis estacionados um pouco por toda a
cidade, foram também atingidos pelo granizo, que esfarrapou a flora e quebrou
alguns vidros.
Poiso
o jornal nos joelhos, e medito deste jeito: Em Braga, o ribombar dos trovões
faz cair granizo sobre os veículos e as árvores, danificando-os. No pinhal de
Ofir é o calor que estala as pinhas e dispersa peniscos por todo lado! Como é
preferível viver aqui, sob o volitar das sementes aladas, do que em Braga,
encandecidos pelos relâmpagos e varridos por fortes granizadas! Em boa verdade
este cantinho do pinhal é, na sua quietude viridente de austrálias e relva, um
edénico oásis, sem cotejo com as malévolas meteorologias da cidade dos Primazes!
Na
última página da Gazeta, atrasada de três dias, enlevo-me com esta notícia
promissora de longeva vivência humana: Em
Jerusalém, israelita de 120 anos deixou quinhentos descendentes, entre eles um
filho menor de 17 anos. Nasceu no Egipto e aos 80 anos emigrou para a
cidade de Tiberíades, junto ao Mar da Galileia. Segundo informa um dos seus
filhos, o segredo da longevidade de seu pai é este: não fumava, não bebia, não tomava
medicamentos, apenas muito azeite.
Em
meu entender de biótopo aposentado, o segredo de tão longa macro vivência está
no suco da oleaginosa que ele tomava, o qual lhe alimentou a lamparina da vida.
Transcrevo da Monografia de Esposende, de Manuel Ayres Machado, 1951, o seguinte trecho de Vila Chã: A freguesia tem apenas uma capela, no cimo
do monte de S. Lourenço, sob a invocação deste santo, e onde, no dia 10 de
Agosto de cada ano, se realiza a concorrida romaria. A capelinha sobressai, na
sua alvura no alto daquele monte, que se levanta a poente. Neste monte existe
um pequeno penedo com uma cavidade, onde se deposita água que o povo diz ser do
influxo das marés. O povo atribui a esta água, entre outras, a qualidade de
sarar as feridas crónicas, como a inflamação dos olhos e a de curar as cólicas a
quem a beba. Tal depósito é conhecido pelo nome de Fonte da Virtude.
O
autor da monografia refere-se a vestígios de um castro romano, antas e antelas,
moinhos de mão, moedas romanas de oiro e cobre, aí encontradas, bem como
fragmentos de ânforas, telha de rebordo, tijolos, etc. Fala-nos também de uma
gruta, a meio do monte, sob um penedo, onde, segundo a crença popular, vive a
feiticeira que torna assustada para sempre a pessoa que tenha a desdita de lhe
pôr os olhos em cima. Além desta lenda do Penedo da Feiticeira, outras a
crendice popular tem forjado expectativas e traços lendários». In
Manuel O. Faria, Terra Inquieta, APPACDM, Braga, 1994, ISBN 972-8195-10-9.
Cortesia
de APPACDM/JDACT