Antes
de Portugal (1816-1836). A família Coburgo
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Francisco José Koháry (1767-1826), casado com a condessa boémia Maria
Antónia Waldstein-Wartenberg (1771-1854), era um nobre e magnata húngaro,
nascido e residente em Viena e dono de imensas propriedades e senhorios na
Áustria, Hungria e actual Eslováquia. Magnata da Hungria, designava os membros
da Câmara Alta do reino, a Fõrendiház ou Casa dos Magnatas.
Francisco Koháry era membro hereditário, detendo, portanto, funções políticas.
O casal só tinha uma filha de 18 anos, herdeira de toda a fabulosa fortuna do
pai, por ter falecido em criança um irmão mais velho (1792-1795).
Embora, por ser mulher, não pudesse suceder no exercício dos poderes políticos,
a filha poderia transmiti-los ao seu marido se o imperador austríaco o
consentisse, o que veio a suceder. Foi com esta herdeira, Maria Antónia de
Koháry, nascida em Buda, que Fernando Jorge Saxe-Coburgo-Saalfeld, de 30 anos,
se casou em Novembro de 1815. A
noiva, sempre tratada por Toni na família, não era princesa ou sequer duquesa,
nunca a sua família fora soberana, mas o casamento de Fernando Jorge era
magnífico para os propósitos da família Coburgo. Aliás, o problema de
precedência nobiliárquica foi resolvido porque o imperador da Áustria concedeu
aos futuros sogros de Fernando Jorge e à sua filha, precisamente em 1815, o título de príncipes. Mas, mais
tarde, a mancha, condal da família
materna do noivo de D. Maria II não deixará de ser evocada. E seria, talvez,
por esses pergaminhos de menor valia que em Março de 1816, quando a duquesa Augusta convidou o jovem casal Fernando e Toni
a passar uma temporada em Coburgo, aconselhou o filho a não levar os sogros.
Nessa
altura, já há muito se projectava um casamento para Leopoldo, o filho mais novo
de Augusta, que excederia todas as expectativas dos ambiciosos Coburgos: uni-lo
a Carlota, de 20 anos, única filha e herdeira do príncipe Jorge de Inglaterra (1762-1830),
regente do reino e filho mais velho do idoso monarca Jorge III (1738-1820). Se
o plano se concretizasse, à morte do sogro Leopoldo seria príncipe consorte ou
rei consorte da Grã-Bretanha. Leopoldo caíra nas boas graças de um tio de
Carlota, Eduardo, duque de Kent, que lhe facilitou a aproximação. O jovem
Coburgo, que era um belo homem muito sedutor e que sabia como a jovem vivia
isolada e em conflito aberto com o pai, conquistou-a sem dificuldade. Mas neste
caso o destino foi adverso aos Coburgos. Leopoldo casou com a princesa inglesa
em Maio de 1816, mas em Novembro de 1817 Carlota faleceu ao dar à luz, morrendo
também o bebé. Leopoldo permaneceu em Inglaterra numa posição algo ingrata,
embora financeiramente muito cómoda. Não ficou quieto, apesar do profundo
desgosto e de nunca ter esquecido Carlota.
Com
a morte desta, o príncipe de Gales ficara sem descendência. Assim, após o
reinado de Jorge IV, sogro de Leopoldo, a sucessão passaria aos irmãos. Estes
eram, por ordem de idades, o duque de York, Frederico Augusto, casado sem
descendência; Guilherme, duque de Clarence, e Eduardo, duque de Kent, ambos
solteiros, com 52 e51 anos de idade. Frederico nada podia fazer, mas os irmãos,
incluindo o mais novo de todos, o duque de Cambridge, também solteiro, trataram
de encontrar noiva o mais depressa que podiam. Casaram os três em 1818. Guilherme, que veio a ser o rei Guilherme
IV, desposou Adelaide, princesa de Saxe-Meiningen. Quanto a Eduardo Kent, o seu
sobrinho Leopoldo Coburgo, de quem era amigo há muito, arquitetou-lhe o
casamento com a irmã Vitória, viúva de 32 anos.
A
união, tal como as outras duas, tinha como único propósito produzir um
descendente, mas esta representaria para os Coburgos o acesso directo à coroa inglesa,
embora as probabilidades de esse futuro príncipe subir ao trono estivessem seriamente
ameaçadas pelo casamento simultâneo de Clarence. Contudo, a boa estrela dos
Coburgos funcionou: dos cinco filhos de Guilherme e Adelaide nenhum sobreviveu
e foi a filha única do segundo casamento de Vitória Coburgo que veio a ser
rainha de Inglaterra. O pai faleceu alguns meses após o seu nascimento, cheio
de dívidas e nenhum património e Vitória de Hanôver (1819-1901) foi criada pela
mãe no palácio de Claremont, propriedade de Leopoldo. Vitória Coburgo não
regressou à Alemanha, onde deixara os dois filhos mais velhos e onde viveria
melhor, a fim de não comprometer as aspirações dinásticas da filha inglesa. Leopoldo
ajudou-a sempre». In Maria Antónia Lopes, D. Fernando II, Um Rei Avesso à Política,
Círculo de Leitores, 2013, ISBN 978-972-42-4894-3.
Cortesia
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