sábado, 9 de agosto de 2014

Mulher de Ferro. D. Brites (Beatriz). 1429-1506. Maria Odete Martins. «… sem esquecer o velho livro ‘roto em partes’, com sua funda de chamalote azul. O breviário de pergaminho, de letra de pena, com brochas de prata com as divisas de D. Brites; […] o caderno de pergaminho, anotado, em que ‘estam certas misas d’oficio do amjo’»

jdact e cortesia do mrbeja

Duquesa de Viseu e duquesa de Beja. Uma rica e poderosa dona
«(…) A capela, iluminada por castiçais e lâmpadas de prata, adornar-se-ia com ricas alfaias sagradas, entre as quais uma ara de jaspe verde, encastoada num castão de marfim; um porte-paz de prata com sua caldeira de água benta e palea da Holanda lavrada a ouro e aljôfar; um cálice grande de prata dourada cinzelada, com seis campainhas de prata pendentes e respectiva patana, com um esmalte no centro; duas galhetas de prata dourada, em forma de gomis; uma naveta de prata dourada; paramentos de brocado, de damasco, de veludo, de pano da Índia, muitos deles lavrados e ouro. Nas estantes, recobertas com panos de veludo, de damasco ou de chamalote colocar-se-iam os livros litúrgicos: o missal de letra de pena, em pergaminho, que pertencera ao infante João; o missal, também em pergaminho, manuscrito e iluminado; o missal de pena que servia pelas festas; um outro, igualmente de letra de pena, em pergaminho, encadernado em couro vermelho; sem esquecer o velho livro roto em partes, com sua funda de chamalote azul. Seguir-se-iam o breviário de pergaminho, de letra de pena, encadernado, com brochas de prata com as divisas de D. Brites; outro breviário, também de letra de pena, em pergaminho, iluminado; os seis livros de canto de órgão; os doze cadernos de procissões; o santoral anotado, de pergaminho, encadernado em couro vermelho, com brochas de latão; o caderno de pergaminho, anotado, em que estam certas misas d’oficio do amjo; o livro de vésperas, de pergaminho; o oficial de missas, de pergaminho, anotado; o diurnal; o sacramentário; o confessional; o catecismo, em forma purtuguesa, e os livros da educação cristã: Vita Christi, Genesy Alfonse, Vida Amgelica, Flos Santorum, Corte empereal e o livro Das Penas do Imferno e da Gloria Final. Expostos ou resguardados encontravam-se também os relicários: uma cruz, que pertencera ao infante João, encimada por uma coroa de espinhos, tendo ao centro uma bolsa de ouro, ornada com duas vieiras esmaltadas de branco e rodeada por cinco diamantes encastoados, contendo uma relíquia do Santo Lenho; um relicário de ouro, grande, encimado por uma cruz, com três rubis barrocos, três diamantes, seis pérolas grossas, encastoadas em esmalte e um terceiro, também de ouro, esmaltado, em que se continha um osso de São Brás. Enfim, nos armários guardar-se-iam os panos de cetim destinados ao púlpito e as tolhas de altar, de pano da Holanda e de lenço da Índia, lavradas e ouro.
Deixemos a capela e entremos na cozinha. Para a confecção e apresentação dos alimentos dispunha a infanta de uma apreciável quantidade de tachos de cobre, de sertãs, de espetos, de caldeiras, de enfusas, de alguidares, de bocetas, de púcaros, de bandejas, de pratos de estanho e de prata, de talheres de prata, de copos de cristal de variadas cores, de gomis, de jarros, de açucareiros de prata, de porcelanas, de toalhas de damasco, provenientes da Holanda e da Flandres. À sua mesa não faltavam as frutas frescas, as conservas, os confeitos, as especiarias: canela, cravo, gengibre, malagueta, noz-moscada, pimenta». In Maria Odete Sequeira Martins, D. Brites (Beatriz). 1429-1506, Mulher de Ferro, Quidnovi, 2011, Via do Conde, ISBN 978-989-554-789-0.

Cortesia de Quidnovi/JDACT