domingo, 3 de agosto de 2014

O Papado e Portugal no primeiro século da História Portuguesa: Carl Erdmann. «Afonso Henriques e o seu fiel servidor João Peculiar, graças à sua tenacidade e ao aproveitamento das oportunidades, haviam ganho o jogo e sobretudo haviam podido afastar com êxito as pretensões de Toledo a primazia»

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A luta contra o primado de Toledo
«(…) Porque encontramos o arcebispo João Peculiar no ano seguinte, a 30 de Setembro de 1158, em Santiago de Compostela e é pouco provável que ele tenha visitado voluntariamente o seu rival. Ao mesmo tempo, o bispo Gilberto de Lisboa encontrava-se também em Santiago e reconheceu sem dúvida o arcebispo compostelano como seu metropolita; é possível que o arcebispo João Peculiar se tivesse visto obrigado a assistir à homenagem de obediência do bispo de Lisboa em Santiago e a desistir nessa ocasião de todas as pretensões à diocese de Lisboa. É possível que o papa tonha feito mais exigências ao rei Afonso Henriques como preço da absolvição. A reposição do bispo de Coimbra era em si questão secundária e sem importância, e parece que Adriano não insistiu nisso. Mas sabemos que exigiu ao rei em carta especial largos privilégios para os templários. Satisfazer esta exigência não deve ter custado ao monarca Afonso Henriques; pois bem falta lhe faziam ou bem úteis lhe eram, como a todos os príncipes espanhóis, e favorecia-os já de per si prodigamente. Assim receberam os templários portugueses a 5 de Abril de 1158 um foral ou carta de privilégio importante e viram-se por isso certamente obrigados a dirigir-se à Cúria e a fazer confirmar ali os seus direitos.
No ano seguinte receberam do rei, em virtude dum contrato com o bispo Gilberto de Lisboa, mais uma considerável doação de terras que consideravam tão importante que a transferiram para a Santa Sé contra um tributo em cera. Isso contribuiu naturalmente para melhoria das relações entre o rei e o papa. Assim, pois, Afonso Henriques e o seu fiel servidor João Peculiar, graças à sua tenacidade e ao aproveitamento das oportunidades, haviam ganho o jogo e sobretudo haviam podido afastar com êxito as pretensões de Toledo a primazia. E certo que nada estava ainda definitivamente decidido, mas de momento assegurara-se a liberdade e vencera-se a crise.

Alexandre III
O cisma, que em seguida à morte de Adriano IV dividiu a cristandade, não atingiu o ocidente da Península Ibérica; aqui reconheceu-se unanimemente Alexandre III. Embora nos faltem doocumentos dos primeiros tempos deste papado, sabemos muito bem que os núncios Teodino e Leão, que Alexandre mandou a Espanha no ano 1161 em ocasião da maior aflição motivada pelo imperador Frederico Barba Roxa, para juntar dinheiro, foram recebidos em Coimbra e Santiago e na verdade providos de dinheiro, e desde o ano 1162 há em Portugal uma longa série de diplomas de Alexandre III, ao passo que do antipapa se não encontram nenhuns. Precisamente durante o papado de Alexandre III atinge a actividade da Cúria em direcção a Portugal uma actividade como nunca antes. Dos já existentes mosteiros isentos receberam Santa Cruz, Refóios de Lima e Tarouca novos privilégios; Lafões, Alcobaça e de certo modo também Salcedas, todos eles mosteiros cistercienses, ajuntaram-se a estes. Sobretudo, porém, foram lembrados os templários: conhecemos oito diplomas de Alexandre III a favor dos templários portugueses. Também os cavaleiros portugueses da ordem de S. João parece terem procurado ligação com a Cúria pela primeira vez no tempo de Alexandre III». In Carl Erdmann, O Papado e Portugal no primeiro século da História Portuguesa, Universidade de Coimbra, Instituto Alemão da Universidade de Coimbra, Coimbra Editora, 1935.

Cortesia de Separata do BI Alemão/JDACT