A luta contra o primado de Toledo
«(…) Porque encontramos o arcebispo João Peculiar no ano
seguinte, a 30 de Setembro de 1158,
em Santiago de Compostela e é pouco provável que ele tenha visitado voluntariamente
o seu rival. Ao mesmo tempo, o bispo Gilberto de Lisboa encontrava-se também em
Santiago e reconheceu sem dúvida o arcebispo compostelano como seu metropolita;
é possível que o arcebispo João Peculiar se tivesse visto obrigado a assistir à
homenagem de obediência do bispo de Lisboa em Santiago e a desistir nessa ocasião
de todas as pretensões à diocese de Lisboa. É possível que o papa tonha feito
mais exigências ao rei Afonso Henriques como preço da absolvição. A reposição
do bispo de Coimbra era em si questão secundária e sem importância, e parece
que Adriano não insistiu nisso. Mas sabemos que exigiu ao rei em carta especial
largos privilégios para os templários. Satisfazer esta exigência não deve ter
custado ao monarca Afonso Henriques; pois bem falta lhe faziam ou bem úteis lhe
eram, como a todos os príncipes espanhóis, e favorecia-os já de per si prodigamente. Assim receberam
os templários portugueses a 5 de Abril de 1158 um foral ou carta de privilégio importante e viram-se por isso
certamente obrigados a dirigir-se à Cúria e a fazer confirmar ali os seus direitos.
No ano seguinte receberam do rei, em virtude dum contrato
com o bispo Gilberto de Lisboa, mais uma considerável doação de terras que
consideravam tão importante que a transferiram para a Santa Sé contra um
tributo em cera. Isso contribuiu naturalmente para melhoria das relações entre
o rei e o papa. Assim, pois, Afonso Henriques
e o seu fiel servidor João Peculiar, graças à sua tenacidade e ao
aproveitamento das oportunidades, haviam ganho o jogo e sobretudo haviam podido
afastar com êxito as pretensões de Toledo a primazia. E certo que nada
estava ainda definitivamente decidido, mas de momento assegurara-se a liberdade
e vencera-se a crise.
Alexandre III
O cisma, que em seguida à morte de Adriano IV dividiu a
cristandade, não atingiu o ocidente da Península Ibérica; aqui reconheceu-se
unanimemente Alexandre III. Embora nos faltem doocumentos dos primeiros tempos
deste papado, sabemos muito bem que os núncios Teodino e Leão, que Alexandre
mandou a Espanha no ano 1161 em
ocasião da maior aflição motivada pelo imperador Frederico Barba Roxa, para
juntar dinheiro, foram recebidos em Coimbra e Santiago e na verdade providos de
dinheiro, e desde o ano 1162 há em Portugal uma longa série de diplomas de Alexandre
III, ao passo que do antipapa se não encontram nenhuns. Precisamente durante o
papado de Alexandre III atinge a actividade da Cúria em direcção a Portugal uma
actividade como nunca antes. Dos já existentes mosteiros isentos receberam
Santa Cruz, Refóios de Lima e Tarouca novos privilégios; Lafões, Alcobaça e de
certo modo também Salcedas, todos eles mosteiros cistercienses, ajuntaram-se a
estes. Sobretudo, porém, foram lembrados os templários: conhecemos oito
diplomas de Alexandre III a favor dos templários portugueses. Também os cavaleiros
portugueses da ordem de S. João parece terem procurado ligação com a Cúria pela
primeira vez no tempo de Alexandre III». In Carl Erdmann, O Papado e Portugal no
primeiro século da História Portuguesa, Universidade de Coimbra, Instituto
Alemão da Universidade de Coimbra, Coimbra Editora, 1935.
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