sábado, 21 de abril de 2012

Convento de Nossa Senhora da Estrela de Marvão. Localização Espaço-temporal. Carmen Balesteros. «Possidónio Laranjo Coelho, dá-nos uma informação importante. Para além da capela ou ermida, existiria já em 1258, nesse local, um convento de franciscanos […] fazer remontar a origem deste Convento, não ao século XV mas sim aos meados do século XIII»


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«O convento de N. Sra. Da Estrela de Marvão, localiza-se extra muros, a nascente da denominada “Porta da Vila”. A sua edificação, fora do circuito protector das muralhas, revela-nos que à data da sua construção, já estaria provavelmente afastado o ambiente de guerras e consequente instabilidade socioeconómica que caracterizaram o Portugal da Reconquista: talvez por isso, nem o edifício da Igreja, nem sequer o do convento que se lhe adoça, foram estruturados de forma a resistir aos ataques do exterior, encontrando-mo nos perante edifícios que não manifestam as características de “Igreja-fortaleza”, tão vulgares em época um pouco mais recuada.
Vários autores atribuem a fundação do convento ao ano de 1448, data à qual, estaria já também longe e momentaneamente afastado, o perigo da pretensão castelhana ao trono de Portugal, não deixando no entanto, e apesar do clima de acalmia bélica, de ser estranho que esta Igreja e o respectivo convento se abram tão despreocupadamente para o exterior. Não podemos esquecer que Marvão é uma importante fortaleza da raia, e que em épocas de guerra funcionou como estrutura defensiva fulcral para a resposta aos ataques do inimigo secular de Portugal: Castela.
Esta aparente incapacidade para resistir aos ataques do exterior leva-nos a colocar a hipótese de este espaço sagrado ter sido respeitado por ambos os tradicionais contentores, prolongando-se o culto e a devoção à Sra. da Estrela de Marvão para o lado de lá da fronteira, fenómeno aliás que ainda hoje se mantém, confraternizando portugueses e espanhóis nas festas laicas e religiosas uns dos outros.
Assim, a Igreja e o Convento poderão ter estado protegidos pela força intrínseca de uma crença que naturalmente não conheceu fronteiras político-administrativas. Disto que nos dá testemunho Fr. Agostinho de Sta. Maria no santuário mariano:
  • “… dizem que huma Senhora grande de espanha, vindo nos mesmos tempos da guerra referida, ou antes della, a visitar aquelle santuário da Senhora da Estrela, levada da grande devoção que lhe tinha, mandára com industria formar outra em tudo muito semelhante & que em huma das visitas que lhe fazia, a recolhera em hum bauzinho, que levava, deyxando em seu lugar o que mandara fazer”
 Os poderes atrubuídos à Sra. da Estrela são tais que, como nos conta ainda Fr. Agostinho de Sta. Maria, a mesma senhora concorre com a fortificação de Marvão para a defesa do seu povo:
  • “… em huma oacfião intentarão os castelhanos tomar a villa de Marvão por interpreza, ou traição machinada por algum que mostrou ser pouco amigo da sua pátria. E chegando depois da meya noite, quando se lhes reprefentou que tinhão bem logrado a sua diligencia, repentinamente lhes amanheceo, ou se antecipou o dia. E neste tempo tocarão os religiosos os sinos, ou do ceo mandou a rainha da gloria aos seus Anjos, que lhe tocassem a rebate”.
Não é sem razão portanto, que o mesmo autor denomina a Sra. da Estrela de “Vigilante Sentinela”, que mais de uma vez terá, com a sua intervenção, protegido os portugueses dos ataques dos castelhanos. Mas a razão da edificação da igreja e do convento, naquele local, ainda que fora de muralhas, prende-se sem dúvida com a lenda que a justifica. Conta-se que após a batalha de Guadalete, em que foi derrotado Rodrigo, o último rei dos Visigodos, derrota essa que abriu a Península Ibérica à ocupação árabe, os habitantes de Marvão terão procurado a protecção das Astúrias, preferindo deixar a sua terra a sujeitar-se ao invasor muçulmano. As imagens que não puderam levar consigo tê-las-ão escondido de forma a evitar a sua profanação.

Cortesia de carmenbalesteros

Entre 1160 e 1164 e no âmbito da Reconquista Cristã e formação do território português, o “morro” de Marvão voltou de novo à posse dos Cristãos. Diz-nos a lenda que, pouco depois, numa noite de brenhas em que um pastor vigiava o seu rebanho, este foi surpreendido pelo brilho inaudito de uma estrela, sucesso esse que se repetiu durante várias noites, até que com um companheiro decidiu subir ao cimo do monte, guiado pela misteriosa luz.
Aí chegado, veio a descobrir, oculta numa pequena gruta, a imagem que durante cerca de 300 anos permanecera aguardando um oportunidade para se revelar. Nesse mesmo local foi a imagem da Senhora, venerada e adorada enquanto se lhe não construiu capela mais adequada.
A bula do papa Nicolau V, datada de 7 de Julho de 1448, autoriza a fundação do convento de N. Sra. da Estrela, mas pensamos que nessa altura existiria já e pelo menos, uma pequena capela ou ermida em que a imagem da Senhora era venerada. Possidónio Laranjo Coelho, dá-nos uma informação importante. Para além da capela ou ermida, existiria já em 1258, nesse local, um convento de franciscanos e de acordo com uma notícia que o mesmo autor terá visto inserta num manuscrito da Torre do Tombo. A darmos crédito a esta informação, teríamos que fazer remontar a origem deste Convento, não ao século XV mas sim aos meados do século XIII». In Carmen Balesteros, Ibn Maruán, Revista Cultural do Concelho de Marvão, Coordenação de Jorge Oliveira, nº 1, 1991.

Cortesia da C. M. de Marvão/JDACT