sexta-feira, 6 de abril de 2012

Poetisas Portuguesas. Antologia contendo dados acerca de cento e seis poetisas. Nuno Catarino Cardoso. «Mãe de tantos Lusos insignes, a Mulher Portuguesa revive sempre pela grata lembrança de suas obras literárias e piedosas e por seus feitos militares e varonis. Os conhecimentos que essas Senhoras possuíam, não se limitavam ao estreito âmbito que algumas pessoas podem supor. Conheciam bem línguas, teologia, filosofia, e humanidades»



Cortesia de libraryuniversityoftoronto

«Não é unicamente nas páginas da sua História Militar, Marítima e Colonial, que Portugal se ufana de contar os nomes ilustres de esforçados guerreiros e de audaciosos navegadores, os quais pelos seus brilhantes e imorredouros feitos, levaram Camões a ter escrito:

E julgareis qual é mais excellente
Se ser do mundo rei, se de tal gente

Tais e tantos foram os prodígios de valor que Portugueses operaram desde a fundação de “Portucale” até Chaimite, Marraquene, Coolela, Magul, etc. Se compulsarmos as paginas da nossa História Literária, deparamos, logo, com uma série de nomes de Senhoras que, pela sua inteligência e saber, se impõem ao mundo culto.
Completando esse quadro já de si soberbo, vemos que não é somente nas letras, mas ainda em quase todos os ramos de actividade intelectual, que se têm distinguido as Damas Portuguesas.
Assim, em tempos idos, floresceram:
  • na pintura, Josépha d'Ayala, Soror Maria da Cruz, a duquesa Anna de Lorena, e Luiza Maria Rosa;
  • na cerâmica, Ignacia de Almeida;
  • na arquitectura, Margarida de Noronha;
  • como teóloga, Izabel de Castro;
  • como matemática, a condessa de Serem e Albuquerque;
  • como filósofas e humanistas, Marianna d'Abrantes, falecida contando apenas 17 anos e autora de várias obras sobre “Retórica Moderna e Filosofia Moral”, Joana Michaela, Umbolina de Távora;
  • como literatas, Joanna da Gama, autora dos “Ditos de Freira”, Soror Brigida de Santo António (Leonor de Mendanha), Feliciana de Milão, Joanna Ignez da Cruz, a “Décima Musa”, cognome que Lope da Vega também deu a Oliva de Nantes e que anteriormente havia sido posto a Bernarda Ferreira de Lacerda, autora da “Espanha Libertada” e das “Saudades do Bussaco”, Izabel Corrêa, Helena da Silva, Soror Maria de Mesquita Pimentel, autora de “Cantos religiosos”, Soror Maria Baptista, autora de “Obras ascéticas”, Thereza Margarida da Silva e Horta, autora de “Máximas da virtude e formosura com que Diophanes, Clymeno e Hemireno, príncipe de. Thebas venceram os mais apertados lances da desgraça”, Maria do Céo e Maria Magdalena Eufemia da Gloria, para não falar noutras notabilidades femininas.
Que brilhante plêiade de nomes ilustres vem de eras remotas até nossos dias!
Que mágica auréola envolve os nomes da Rainha Santa, convertendo ouro em fragrantes rosas; os de Filipa de Vilhena e Marianna de Lancastre, armando cavaleiros seus próprios filhos, bem como os da varonil duquesa de Bragança, Júlia de Gusmão, e da arrebatada e lendária Maria da Fonte!
Mãe de tantos Lusos insignes, a Mulher Portuguesa revive sempre pela grata lembrança de suas obras literárias e piedosas e por seus feitos militares e varonis.
Como, ainda hoje, séculos passados, é suave e empolgante ler essas cartas de Soror Marianna, a “Freira Portuguesa”, cartas em que o amor, a ternura e o sofrimento em cada página se manifestam!
Como, ainda hoje, é grato pensar na rainha D. Leonor, a fundadora de hospitais e de misericórdias, e que tantos benefícios espalhou no País! Como, ainda, volvidos tantos séculos, nos curvamos reverentes, ante os nomes da condessa de Castelo Melhor, da condessa de Penaguião, de Luiza de Faro, de Helena Peres, de Deusadeu Martins, da Padeira de Aljubarrota; de Antónia Rodrigues, pelejando em Mazagão, de Izabel de Castro, lutando no cerco de Alcácer contra o rei de Fez, de Izabel de Galvão, em Ceuta, de Maria Úrsula, em Amboná, intrépidas guerreiras, companheiras de Izabel da Veiga, Anna Fernandes e Catharina de Sousa que na Índia deram sobejas provas de audácia e de bravura!

Como se no século XVI não bastassem os nomes de Camões, Bernardim Ribeiro, Cristóvam Falcão, Sá de Miranda, António Ferreira, Diogo Bernardes, Gil Vicente, João de Barros, Damião de Góes, Fernão Mendes Pinto e outros, para tornarem em extremo gloriosas as páginas da Historia Literária da Pátria onde nasceram, como se o nome do “Cantor dos Lusíadas” não fosse só por si penhor bastante para representar, belamente, uma literatura inteira, surgem, também, os nomes notáveis de Paula Vicente, filha de Gil Vicente e sua colaboradora; da Infanta D. Maria, filha do rei Manuel I e de sua terceira mulher, Infanta tão letrada e conhecida pelo esplendor dos “Serões da Infanta”, a que se refere Sá de Miranda, e que tanto brado deram; de Publia Hortencia de Castro; de Leonor de Noronha, e de Joanna Vaz, a par das irmãs Luiza e Paula Sigea, conjunto este de damas que, sem dúvida alguma, teve importante papel no ressurgimento literário que nessa época se dá em Portugal.
Os conhecimentos que essas Senhoras possuíam, não se limitavam ao estreito âmbito que algumas pessoas podem supor. Conheciam bem:
  • línguas, teologia, filosofia, e humanidades.
In Nuno Catarino Cardoso, Poetisas Portuguesas, Antologia contendo dados de 106 poetisas, Livraria Scientífica, Lisboa, 1917, Library University of Toronto, 1969.

Cortesia de Livraria Scientífica/Paulo Cardoso/JDACT