segunda-feira, 16 de abril de 2012

Poesia. Florbela Espanca. Sonetos. «A par da cultíssima infanta D. Maria, irmã de João III, que soube reunir à sua volta tal grupo de mulheres sábias e sempre desejosas de aprender mais. Discorrendo assim, que pensarmos de Florbela? Em vários passos, afirmou que amava toda a gente...»

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Tortura

Tirar dentro do peito a Emoção,
 a lúcida Verdade,  o Sentimento!
- E ser, depois de vir do coração,
um punhado de cinza esparso ao vento!...

Sonhar um verso de alto pensamento,
e puro como um ritmo de oração!
- E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento...

São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!

Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e fonte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!

Soneto de Florbela Espanca, in 'Soneto'

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