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«No dia 4 sucedeu um episódio curioso. Ao Campo de Gavião chegou um mensageiro espanhol, oficial de Hussares, ajudante de campo do general Inácio de Lencastre, comandante da 2ª Divisão, o qual era portador de uma mensagem para o duque de Lafões. No caminho encontrou a coluna de Carcome, junto a Gáfete, e ficara aparentemente convencido de que aquela se deslocava para Estremoz. À cautela, o coronel português fez-lhe vendar os olhos para que não visse qual o caminho tomado pelo destacamento. Quando o referido oficial espanhol regressou às suas linhas, foi escoltado por alguns portugueses, entre os quais o brigadeiro Neves Costa, que o conduziu por um caminho diferente do que inicialmente tomara, de modo a evitar um encontro com a coluna que fora a Flor da Rosa. No entanto, quando chegou a Alpalhão, Neves Costa aproveitou a sua missão de escolta, com o consequente salvo-conduto, para reconhecer o terreno:
- ‘lembrando-me que talvez não tivéssemos tropas em Alpalhão, e ignorando-se se os espanhóis ali estavam, tinha agora uma excelente ocasião para me certificar disso; saber ali de algumas novidades relativas a Portalegre e Marvão, e na minha volta vir por Gáfete e Tolosa para saber do que se passava no Crato, etc.’
Recebido pelo capitão-mór de Alpalhão, Neves Costa veio a saber que, na tarde do dia 3, uma força espanhola proveniente de Portalegre por ali passara em direcção a Crato e que, no dia seguinte, novos reforços de cavalaria e infantaria, com a mesma origem, tomaram idêntico caminho. De regresso a Gavião, o oficial português veio a apurar, em Gáfete, que houve um combate de Flor da Rosa, e que alguns fugitivos da coluna de Carcome Lobo tinham por ali passado, fugindo a bom fugir...
De facto, quando se encontravam em Flor da Rosa e se preparavam para carregar os abastecimentos ali armazenados, a força portuguesa foi atacada pelas tropas espanholas sob o comando do marquês de Mora, com uma flagrante superioridade:
- 1 esquadrão de Hussares, 3 de Borbón, 2 de Alcântara, 3 de Farnesio, 3 de Almansa, 2 batalhões de Maiorca, 100 homens do 1º batalhão da Catalunha e 4 peças de artilharia.
Terão os espanhóis tido conhecimento atempado da expedição portuguesa, como receava Neves Costa, sendo, assim, deliberada a sua acção sobre Flor da Rosa e Crato com o objectivo de interceptar a coluna? Não obstante as críticas do brigadeiro Neves Costa sobre a falta de secretismo na sua preparação, no ‘Campo de Gavião’, e a possibilidade de ela ser conhecida do inimigo, as dificuldades de comunicação e até, a própria cronologia dos acontecimentos acaba, em nossa opinião, por inviabilizar aquela hipótese. Na verdade, a operação foi planeada a 2 de Junho, e as tropas portuguesas marcharam no dia seguinte, 3, ao pôr-do-sol. Ora, ao compulsarmos os diários de operações das divisões espanholas envolvidas na acção, nada consta sobre uma preparação deliberada ou sobre um conhecimento prévio do sucedido. Assim, no diário da Divisão de Vanguarda lê-se:
- “Dia 4
- El Mariscal de Campo marquês de Mora con 100 hombres del 1º de Cataluña, 2 Escuadrones de Borbón, 1 de Húsares y otros 3 de la 2ª División, salió al amanezer para ocupar los almacenes que los enemigos habian dejado en Crato y en Flor de Rosa, y proporcionar al mismo tiempo forrages a la Caballeria que ya no podia subsistir en Porto Alegre. Al paso por el lugar de Flor de Rosa encontró con un destacamento enemigo compuesto de 6 Compañias completas de Granaderos y Cazadores, 40 Dragones ingleses, 25 portugueses y 6 piezas de Artilleria, que a las ordens del animoso coronel Josef Carcome llevaba el mismo objeto. El marqués de Mora lo atacó y derrotó completamente matando a muchos y tomando prisioneros 360 hombres entre los quales se encontraban l7 oficiales y el Comandante Principal, que también lo havia sido en la función de Arronches (continua)".
In António Ventura, O Combate de Flor da Rosa, Conflito Luso-Espanhol de 1801, Edições Colibri, C. M. do Crato, 1996, ISBN 972-8288-23-9.
Cortesia de Edições Colibri/JDACT