segunda-feira, 16 de abril de 2012

Poesia. Luís de Camões. Sonetos. «Uma jura sobre a fidelidade do poeta. O tributo, é por natureza, obrigatório e independente da vontade do tributado. Poesia da juventude na fase dos deslumbrantes amores pela Senhora...»

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Se em mim, ó Alma, vive mais lembrança
que aquela só da glória de querer-vos,
eu perca todo o bem que logro em ver-vos,
e de ver-vos também toda a esperança.

Veja-se em mim tão rústica esquivança
que possa indigno ser de conhecer-vos,
e, quando em mor empenho de aprazer-vos,
vos ofenda, se em mim houver mudança.

Confirmado estou já nesta certeza;
examine-me vossa crueldade,
exp'rimente-se em mim vossa dureza.

Conhecei já de mim tanta verdade,
pois, em penhor e fé desta pureza,
tributo vos fiz ser o que é vontade.

Soneto de Luís de Camões, in 'Sonetos'

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