quinta-feira, 5 de abril de 2012

BNP. As Óperas Garrettianas e as suas Fontes. Luísa Cymbron. «Dois anos mais tarde, o jornal “O Conimbricense” questionava os seus leitores sobre a existência de óperas baseadas em obras do iniciador do Romantismo literário em Portugal. As respostas não se fariam tardar, dando início a uma pequena série de artigos intitulados ‘Operas garrettianas’, da autoria de escritores, jornalistas…»



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«Há precisamente cem anos, a propósito do primeiro centenário do nascimento de Almeida Garrett, António Arroyo publicava um artigo intitulado ‘O Frei Luiz de Sousa em Musica’ (1899), no qual, partindo de uma questão que lhe havia sido levantada por vários músicos seus contemporâneos, reflectia sobre as possibilidades de adaptação da obra prima garrettiana aos modelos operáticos mais em voga na época: o modelo italo-francês, baseado na tradição pós-rossiniana e na “grand opéra”, e o drama musical wagneriano. Depois de listar um certo número de possíveis modificações que permitiriam uma fácil adaptação da obra ao primeiro modelo (inspiradas sobretudo pelas obras de Meyerbeer, em especial por “L’africaine”, cuja temática portuguesa proporcionava um bom precedente), Arroyo questionava-se sobre as potencialidades líricas do “Frei Luís de Sousa”, ‘conservando a este assumpto toda a pureza e nobre simplicidade das suas grandes linhas’ ou tratando-o “no sentido da música”, intendendo esta expressão como a entendia Wagner (Arroyo, 1899).
Concluía porém que, enquanto drama musical, o “Frei Luís de Sousa”, teria poucas possibilidades, dado que vive apenas de um único sentimento, o terror que domina todo o ambiente desde o início ao fim da peça. Esta falta de diversidade temática condicionaria, em termos musicais, o número de “leitmotive” (motivos condutores) que a ópera poderia conter, pelo que o autor acaba por sugerir que o drama garrettiano seria mais adequado para inspirar uma obra sinfónica (sem dúvida programática, se bem que este facto não seja referido), embora admitindo que as possibilidades de adaptação dependeriam largamente do talento do compositor a quem fosse confiada a tarefa.
Dois anos mais tarde, o jornal “O Conimbricense” questionava os seus leitores sobre a existência de óperas baseadas em obras do iniciador do Romantismo literário em Portugal. As respostas não se fariam tardar, dando início a uma pequena série de artigos intitulados ‘Operas garrettianas’, da autoria de escritores, jornalistas e coleccionadores como Alberto Pimentel, Augusto Xavier Pereira, Henrique Ferreira Lima e Manuel de Almeida Carvalhais (“O Conimbricense”, 1901), nos quais são referidas óperas da autoria de Francisco de Sá Noronha (1820-1881), Francisco de Freitas Gazul (1842-1925) e Alfredo Keil (1850-1907). O assunto era abordado no entanto de um ponto de vista meramente bibliográfico, com o objectivo de obter notícia de libretos publicados aquando das estreias das ditas óperas, os quais eram considerados como espécies que deviam integrar a bibliografia do escritor (“O Conimbricense”, 1901). As referências a fontes musicais, as quais, dada a debilidade do mercado editorial português no século XIX e o reduzido sucesso destas obras, se mantiveram, na sua maioria, manuscritas, são raras, sendo de destacar apenas a indicação fornecida por Alberto Pimentel de que alguns trechos de óperas garrettianas haviam sido cantados no Teatro D. Maria II, no espectáculo comemorativo do centenário, ou a referência de Almeida Carvalhais, destacado musicógrafo e proprietário de uma das mais extensas colecções de libretos de ópera do mundo, hoje pertencente ao Conservatório di Santa Cecília em Roma, à partitura da ópera “L’arco di Sant'Anna” da autoria de Francisco de Sá Noronha existente na altura na Biblioteca do Conservatório de Lisboa». In Luísa Cymbron, As Óperas Garrettianas e as suas Fontes, Leituras de Almeida Garrett, Revista da Biblioteca Nacional, 1999, Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

Cortesia da BNP/JDACT