segunda-feira, 2 de abril de 2012

História da Civilização Ibérica. Oliveira Martins. «Ladeada por duas zonas de estratos diluvianos, a bacia lacustre do Alto Douro, na Terra-de-Campos, é a fronteira ocidental desta parte da Espanha terciária. Ao Sul do rio os dilúvios, partindo de Tordesilhas, vêm encostar-se ao granito de Guadarrama em Segóvia»


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O Território
«A cordilheira Leste-Oeste da Península, uma das linhas principais da rede pentagonal da Europa no sistema de Elie de Beaumont, é ao mesmo tempo o eixo do sistema orográfico espanhol e o alicerce da estrutura geológica peninsular. Desenha uma alastrada faixa de granitos que internando-se por Portugal nas Beiras (Serra da Estrela) passa sobre o Douro, ocupa todo o Aquém-Tâmega, e vai, Galiza em fora, encostada ao mar, acabar sobre ele em Finisterra, no Cabo Ortegal.
Na Beira portuguesa, entre o Douro e o Tejo, a cordilheira peninsular bifurca-se: para Norte, com os granitos a nu, segue até ao mar da Galiza; para Sul, ladeando o Tejo, coberta de terrenos secundários, vem acabar em Sintra, mostrando no Cabo da Roca um afloramento breve da sua ossatura.

Esta espinha dorsal da Espanha divide-se de Leste a Oeste em duas regiões diversas na índole, no clima, na cultura, e diríamos até na raça, se porventura a distribuição dos sucessivos invasores pudesse ter determinado nos tempos históricos a formação de novos fenómenos etnogénicos. Ao Sul da cordilheira, e transposta a bacia do Tejo, como que se começa a respirar o clima de África. Tudo revela, ao Norte, um regime natural mais semelhante ao da Europa.
Madrid, colocada geograficamente no centro da Península, está no eixo dessa zona de montanhas que separa as duas regiões climatericamente diferentes; sendo ao mesmo tempo o meridiano que, pode dizer-se, a divide em dois países; de Leste que é terciário, o de Oeste que é primitivo.
A orografia, a geologia, a geografia, tornam Madrid o coração da Espanha. Quatro raios destacando-se daí, para Norte, para Leste, para Oeste, para Sul, delimitam quatro regiões distintas, a do Ebro, com as montanhas que a circundam, e de que já falámos; as duas do Sul de que falaremos; e para o Norte da espinha dorsal peninsular, a do Douro.

Os abundantes confluentes do Douro, distribuindo-se como raios de um semicírculo que tem por centro Valhadolid, regam essas vastas planícies da Castela Velha, que são o granel da Espanha. Confrontando do Nascente com a divisória da bacia do Ebro, do Poente com os montes de Leão, do Norte com a cordilheira cantábrica, do Sul com a espinha dorsal da Península, a bacia do Douro, onde assentam Valhadolid e Salamanca, Palência e Leão e Zamora, tem como atalaias fronteiras Ciudad Rodrigo junto à Beira, Segóvia nas abas do Guadarrama, Sória ao Nascente, Burgos no arrancar das serras dos Pirenéus cantábricos.
A bacia do Douro foi também um lago, de Burgos a Aranda, por Palência e Valhadolid a Benavente, Zamora e Salamanca: ou antes, o lago do Aragão, insinuando-se pela fenda que ainda hoje liga as duas bacias fluviais do Ebro e do Douro, por Logronho e Briviesca até Burgos, estendia-se para Ocidente, correndo em direcção oposta por Osma e Almanza até Teruel.

Ladeada por duas zonas de estratos diluvianos, a bacia lacustre do Alto Douro, na Terra-de-Campos, é a fronteira ocidental desta parte da Espanha terciária. Ao Sul do rio os dilúvios, partindo de Tordesilhas, vêm encostar-se ao granito de Guadarrama em Segóvia; e vão ao Norte, na bacia confluente do Esla, para além de Almanza e Leão, apoiar-se na formação carbonífera dos Pirenéus cantábricos de entre Santander e Oviedo.
A linha das montanhas litorais do Norte, cretáceos da Biscaia, carboníferos das Astúrias, fecham pelo Norte a bacia do Douro, encerrada ao Sul pela cordilheira central peninsular, a Leste pelas divisórias do Ebro, a Oeste pelos terrenos antigos, montuosos, de Leão e Trás-os-Montes, de Minho-Douro e da Galiza». In Oliveira Martins, História da Civilização Ibérica, Guimarães Editores, Lisboa, 1994.

Cortesia de Guimarães Editores/JDACT