sábado, 22 de dezembro de 2012

Breve Notícia sobre o Descobrimento da América. Teixeira de Aragão. «Os vestígios descobertos nos estados de Massachusetts e Rhode-Island, attribuidos á estada e estabelecimento dos scandinavos n'estas partes, estão contidos nas “Antiquitates Americanae”. O descobrimento das ilhas dos Açores teve logar na quarta decada do seculo XV, e este facto foi, por certo, um passo gigantesco no caminho para o outro continente»


jdact e cortesia de wikipedia

Conforme o original

A América Antecolombiana
[…]
«Descobrimentos nas regiões árcticas da América; Terra Nova descoberta segunda vez pelos Islandeses; Viagem a Markland em 1347. E termina:
  • “Depois de assim estudados os documentos autênticos, todos reconhecerão como um facto histórico, que durante os séculos X e XI os antigos escandinavos descobriram e visitaram uma grande parte das costas orientais da América do Norte, e convencem que as relações entre os dois países subsistiram durante os séculos seguintes. O facto essencial é certo e incontestável. Mas n'estes documentos, como em todos os manuscriptos antigos, encontram-se passagens obscuras que podem ser esclarecidas por novos exames e novas interpretações. Para conseguir este resultado é importante que os documentos originaes sejam publicados na sua antiga língua para cada um os poder consultar e apreciar por si a maneira como teem sido interpretados.”
Quanto aos vestígios descobertos nos estados de Massachusetts e Rhode-Island, attribuidos á estada e estabelecimento dos scandinavos n'estas partes que era o fim das primeiras expedições americanas, limitamo-nos agora ás referencias contidas nas Antiquitates Americanae. Esta questão continuará a ser objecto de investigaçõs escrupulosas por parte da commissão da Sociedade real dos antiquários do norte para a Historia antecolombiana da America. O resultado d estas indagações e esclarecimentos sobre passagens obscuras dos antigos manuscriptos será publicado nas Memorias da mesma sociedade
Desde 1840 que nas excavações praticadas nos estados de Massachusetts e Rhode-Island se encontram vestígios de habitações, attribuidos á residência e estabelecimento dos Scandinavos n'esses paizes. Os estudos e pesquizas da commissão da Sociedade real dos antiquários do norte continuam e muito há a esperar do seu saber e dedicação. O
museu de Antiguidades Americanas fundado, por concessão do rei da Dinamarca, em parte do palácio de Christiansbourg, possue já grande quantidade de objectos dos tempos antecolombianos, como fragmentos de pedras com inscripções islandezas, em runico antigo, e em caracteres latinos, contendo algumas a cruz, na maioria encontradas nos cemitérios que se teem descoberto na America septentrional, e junto varios pedaços de feretros de madeira, vasos de metal e de pedra, tecidos de lã grosseira, e até um vestido quasi completo.
No começo do século XV a geographia estava na infancia. Os factos transmitidos pelos antigos historiadores, junto ás fabulas inventadas e ás conjecturas extravagantes e poeticas dos navegadores, como ainda se observa nas cartas d'esses tempos, tão cheias de illustrações, bem o provam. Em Portugal o infante Henrique, conhecedor de que os mais hábeis pilotos só navegavam pelo rumo das costas, em rotas conhecidas, coadjuvado por homens instruídos organisou a sua escola de Sagres e tratou logo de desenvolver o estudo da cosmographia e da astronomia. Ahi reuniu o que havia de melhor pela Europa de cartas geographicas, mappas, planispherios e livros de viagens, e consultou os mais notáveis mathematicos da sua epocha para as famosas emprezas nauticas e fazer perder os prejuizos e o panico de que quem passasse além do Cabo Bojador não mais tornaria.
D'esta escola sahiram intrepidos navegadores, que afrontaram os maiores perigos, sulcando o vasto Atlantico meridional e o mar indico. Os nossos historiadores antigos, e entre elles Antonio Galvão escriptor muito consciencioso e intelligente, mencionam que o infante Pedro, duque de Coimbra, trouxera de Veneza, quando recolheu ao reino em 1438 da sua perigrinação, o livro de viagens de Marco Polo e bem assim uma carta marítima notável, que offereceu a seu irmão Henrique. Além d'este auctor, Antonio Ribeiro do Santos, na sua eruditissima Memoria sobre dois antigos mapas geographicos do infante D. Pedro, e do cartório de Alcobaça, descreve o do mosteiro feito no mesmo seculo, e em ambos não só vinha desenhado o celebre Cabo Tormentoso, com o nome de Cabo de Satanaz, como estavam assignaladas algumas terras do Novo Mundo.
O papa Martinho V, para coadjuvar os emprehendimenlos do infante Henrique, numa bulla fez doação perpetua a Portugal das terras, mares, ilhas e minas que descobrisse além do Cabo Bojador até ás Indias, com indulgencias plenarias aos que morressem n'essas emprezas; e os seus successores no pontificado, por outras bullas, ainda lhe augmentaram as concessões, com excepção das ilhas Canarias, que Sixto IV doou aos reis catholicos. Calixto III também concedeu ao mesmo infante, como grão-mestre da ordem de Christo, o provimento de todos os beneficios ecclesiasticos nas terras que fossem descobertas.
O descobrimento das ilhas dos Açores teve logar na quarta decada do seculo XV, e este facto foi, por certo, um passo gigantesco no caminho para o outro continente. Os primeiros habitantes d'estas ilhas por vezes viram alli fragmentos de arvores, mesmo grossos madeiros, sendo alguns com certo trabalho, cadaveres, que vinham boiando de oeste, de indivíduos com feições diferentes das dos Europeus, tudo trazido pelo vento d'aquellas paragens, o que lhes annunciava haver para esse lado terras habitadas.
O infante Henrique falleceu em Sagres a 13 de novembro de 1460, havendo nascido na cidade do Porto a 4 de março de 1394. Adoptou como empreza uns pequenos ramos de carvalho com fructos e a legenda, Talent de bien faire. A sua morte não diminuiu o enthusiasmo para novos descobrimentos, e commetteram-se feitos tão arrojados e coroados de tão bons resultados, que constituem hoje a nossa brilhante epopéa marítima». In A. C. Teixeira de Aragão, Breve Notícia sobre o Descobrimento da América, Mckew Parr Collection, Maggellan, BrandeisUniversity (Lo que nos importa), Tipografia da Academia Real das Ciências, Lisboa, 1892.

Cortesia de Academia das Ciências/JDACT