Conforme o original
A América Antecolombiana
[…]
«Descobrimentos nas
regiões árcticas da América; Terra Nova descoberta segunda vez pelos
Islandeses; Viagem a Markland em 1347. E termina:
- “Depois de assim estudados os documentos autênticos, todos reconhecerão como um facto histórico, que durante os séculos X e XI os antigos escandinavos descobriram e visitaram uma grande parte das costas orientais da América do Norte, e convencem que as relações entre os dois países subsistiram durante os séculos seguintes. O facto essencial é certo e incontestável. Mas n'estes documentos, como em todos os manuscriptos antigos, encontram-se passagens obscuras que podem ser esclarecidas por novos exames e novas interpretações. Para conseguir este resultado é importante que os documentos originaes sejam publicados na sua antiga língua para cada um os poder consultar e apreciar por si a maneira como teem sido interpretados.”
Quanto aos vestígios descobertos
nos estados de Massachusetts e Rhode-Island, attribuidos á estada e estabelecimento
dos scandinavos n'estas partes que era o fim das primeiras expedições
americanas, limitamo-nos agora ás referencias contidas nas Antiquitates Americanae.
Esta questão continuará a ser objecto de investigaçõs escrupulosas por parte da
commissão da Sociedade real dos antiquários do norte para a Historia
antecolombiana da America. O resultado d estas indagações e esclarecimentos
sobre passagens obscuras dos antigos manuscriptos será publicado nas Memorias
da mesma sociedade
Desde 1840 que nas excavações
praticadas nos estados de Massachusetts e Rhode-Island se encontram vestígios de
habitações, attribuidos á residência e estabelecimento dos Scandinavos n'esses paizes.
Os estudos e pesquizas da commissão da Sociedade real dos antiquários do norte continuam
e muito há a esperar do seu saber e dedicação. O
museu de Antiguidades
Americanas fundado, por concessão do rei da Dinamarca, em parte do palácio
de Christiansbourg, possue já grande quantidade de objectos dos tempos antecolombianos,
como fragmentos de pedras com inscripções islandezas, em runico antigo, e em caracteres
latinos, contendo algumas a cruz, na maioria encontradas nos cemitérios que se teem
descoberto na America septentrional, e junto varios pedaços de feretros de madeira,
vasos de metal e de pedra, tecidos de lã grosseira, e até um vestido quasi completo.
No começo do século XV a
geographia estava na infancia. Os factos transmitidos pelos antigos
historiadores, junto ás fabulas inventadas e ás conjecturas extravagantes e poeticas
dos navegadores, como ainda se observa nas cartas d'esses tempos, tão cheias de
illustrações, bem o provam. Em Portugal o infante Henrique, conhecedor de que os
mais hábeis pilotos só navegavam pelo rumo das costas, em rotas conhecidas, coadjuvado
por homens instruídos organisou a sua escola de Sagres e tratou logo de desenvolver
o estudo da cosmographia e da astronomia. Ahi reuniu o que havia de melhor pela
Europa de cartas geographicas, mappas, planispherios e livros de viagens, e consultou
os mais notáveis mathematicos da sua epocha para as famosas emprezas nauticas e
fazer perder os prejuizos e o panico de que quem passasse além do Cabo Bojador não
mais tornaria.
D'esta escola sahiram intrepidos
navegadores, que afrontaram os maiores perigos, sulcando o vasto Atlantico meridional
e o mar indico. Os nossos historiadores antigos, e entre elles Antonio Galvão escriptor
muito consciencioso e intelligente, mencionam que o infante Pedro, duque de
Coimbra, trouxera de Veneza, quando recolheu ao reino em 1438 da sua perigrinação,
o livro de viagens de Marco Polo e bem assim uma carta marítima notável, que offereceu
a seu irmão Henrique. Além d'este auctor, Antonio Ribeiro do Santos, na sua eruditissima
Memoria
sobre dois antigos mapas geographicos do infante D. Pedro, e do cartório de Alcobaça,
descreve o do mosteiro feito no mesmo seculo, e em ambos não só vinha desenhado
o celebre Cabo Tormentoso, com o nome
de Cabo
de Satanaz, como estavam assignaladas algumas terras do Novo
Mundo.
O papa Martinho V, para
coadjuvar os emprehendimenlos do infante Henrique, numa bulla fez doação perpetua
a Portugal das terras, mares, ilhas e minas que descobrisse além do Cabo Bojador
até ás Indias, com indulgencias plenarias aos que morressem n'essas emprezas; e
os seus successores no pontificado, por outras bullas, ainda lhe augmentaram as
concessões, com excepção das ilhas Canarias, que Sixto IV doou aos reis
catholicos. Calixto III também concedeu ao mesmo infante, como grão-mestre da ordem
de Christo, o provimento de todos os beneficios ecclesiasticos nas terras
que fossem descobertas.
O descobrimento das ilhas
dos Açores teve logar na quarta decada do seculo XV, e este facto foi, por certo,
um passo gigantesco no caminho para o outro continente. Os primeiros habitantes
d'estas ilhas por vezes viram alli fragmentos de arvores, mesmo grossos
madeiros, sendo alguns com certo trabalho, cadaveres, que vinham boiando de oeste,
de indivíduos com feições diferentes das dos Europeus, tudo trazido pelo vento d'aquellas
paragens, o que lhes annunciava haver para esse lado terras habitadas.
O infante Henrique falleceu em Sagres a 13 de novembro de 1460, havendo
nascido na cidade do Porto a 4 de março de 1394. Adoptou como empreza uns
pequenos ramos de carvalho com fructos e a legenda, Talent de bien faire. A sua
morte não diminuiu o enthusiasmo para novos descobrimentos, e commetteram-se feitos
tão arrojados e coroados de tão bons resultados, que constituem hoje a nossa brilhante
epopéa marítima». In A. C. Teixeira de Aragão, Breve Notícia sobre o Descobrimento da
América, Mckew Parr Collection, Maggellan, BrandeisUniversity (Lo que nos
importa), Tipografia da Academia Real das Ciências, Lisboa, 1892.
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Ciências/JDACT