domingo, 23 de dezembro de 2012

Os Templários na Formação de Portugal. Paulo Loução. «Portugal teve na sua origem uma forte relação com Borgonha, motivo suficiente para conhecermos as origens dos Borgonheses. Os burgundii-burgundiones-burgundos-burguinhões, ou borgonheses são um povo germânico oriundo da costa do báltico. Pouco se diferenciavam dos suevos, godos e vândalos…»


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(continuação)

«Afonso Henriques, anos depois da conquista de Lisboa aos mouros (1147), num claro gesto de cumplicidade para com a espiritualidade moçárabe do território português, manda trazeras relíquias de S. Vicente da zona de Sagres para a futura capital. Esta iniciativa deu origem à Igreja de S. Vicente, que logo se tornou um importante centro religioso. Hoje, por dentro da actual Igreja de S. Vicente de Fora, em Lisboa, pode-se ver as ruínas do templo primitivo. Segundo a tradição, o mestre do Templo, Gualdim Pais, pôde testemunhar as propriedades terapêuticas das relíquias do santo quando chegaram a Lisboa.
Conta a lenda que as relíquias vieram do Cabo de S. Vicente numa barca acompanhadas por dois corvos. Ainda hoje esta barca e os dois corvos, de clara simbologia hermética, são o motivo central do brasão da cidade de Lisboa. S. Vicente tornou-se desde então o protector da navegação e o seu culto foi muito importante durante o período dos Descobrimentos, mas antes da nacionalidade era bastante cultuado por moçárabes e até por mouros. Voltando à lenda, em 779 d. C. os restos mortais deste mártir terão vindo de Saragoça para o Promontório Sagrado (Sagres) e foram depositados na Igreja do Corvo.
  • "O árabe Edrisi elogia a cordura e os recursos dos guardiões do sítio a que iam muitos peregrinos, tanto cristãos como moiros. Dizia-se que corvos sem idade, lá sustentados em respeito de terem acompanhado e defendido da rapina o corpo do santo diácono, avisavam com tantos gritos quantos os romeiros chegados, o pessoal da Hospedaria. O Santuário atraiu naturalmente um mosteiro."
Após a invasão de Tarik (711), praticamente toda a Península fica sob o domínio dos mouros. Na zona montanhosa das Astúrias, no centro-norte, refugiam-se muitos cristãos que aí criam um centro de resistência. Sob o comando de Pelágio, aparentado com o último dos visigodos, começam a conquistar algum território e fundam o reino das Astúrias (737), mais tarde reino de Leão. Depois surgiriam os reinos de Castela, Navarra e Aragão, que foram conquistando território ao domínio islâmico.
Numa Europa feudal, fechada, inculta, adormecida e vitimada por guerras que se desencadeavam por tudo e por nada, surgem as Cruzadas e as grandes peregrinações no final do séc. XI. A denominada reconquista cristã na Península Ibérica beneficiou deste espírito de cruzada. Entretanto, em 910, o duque Guilherme da Aquitânia (França) funda a Abadia de Cluny, que daria origem à ordem religiosa mais importante do século XI. É uma renovação da Ordem de S. Bento, que tinha decaído, afrouxando muito a sua disciplina. Os abades de Cluny vestiam um hábito negro e, no século XI, estavam estabelecidos na Península, sendo um importante suporte cultural e religioso para estes reinos. Santo Hugo de Cluny, homem muito poderoso na época, vem ao reino de Leão e Castela encontrar-se com Afonso VI, que se autoproclamava imperador. Hugo de Cluny era da Borgonha e deve ter combinado com Afonso VI o casamento da sua filha D. Urraca com Raimundo, parente borgonhês do abade. Foram muitos os cavaleiros borgonheses que vieram para a Península, no sentido de colaborar no esforço de reconquista cristã com um espírito de cruzada. Um deles, como sabemos, foi Henrique, futuro conde portucalense. Enquanto Raimundo veio para casar com a filha de Afonso VI, o conde Henrique, seu primo, deslocou-se à Península para o ajudar nas lides contra os mouros, nas quais se mostrou um valoroso chefe militar. Provavelmente, devido a este facto e à sua alta nobreza, Afonso VI confia-lhe o condado portucalense, que reunia o próprio condado de Portucale, área entre sul do Douro e Braga, e o condado de Coimbra, área de Coimbra e Santarém e, para o interior, a Serra da Estrela. O conde borgonhês governou durante quinze anos (1097-1112) com seriedade e sageza política. Para além de bom militar, foi um bom administrador do território, estimulando centros de actividade comercial já existentes, como Portucale (Porto) e Guimarães. Atribuiu várias cartas de foral e de couto. Assegurou-se da colaboração e lealdade dos fidalgos portucalenses, fazendo com que a sua origem estrangeira não fosse uma barreira. Travou amizade com o poderoso Soeiro Mendes da Maia, representava as forças da terra, que, em vez de rival, se tornou o seu braço direito. Por tudo isso, ajusta-se bem a sua fama de patriarca de Portugal.
Portugal teve na sua origem uma forte relação com Borgonha, motivo suficiente para conhecermos as origens dos Borgonheses. Os burgundii-burgundiones-burgundos-burguinhões, ou borgonheses são um povo germânico oriundo da costa do báltico. Pouco se diferenciavam dos suevos, godos e vândalos com os quais coabitaram em espaço germânico de III a. C. a IV d. C. No século V migraram para junto do Reno. Foram expulsos pelos Hunos, radicando-se no Sul de França. Em guerras constantes com os francos, mantiveram a sua identidade. A Borgonha, na época da origem de Portugal, era um reino independente que não pertencia ao reino de França. Só no século XVII a França incorpora definitivamente a Borgonha. Antes, tanto estivera ligada ao império alemão como ao reino de França. Consideramos interessante a sua identidade germânica, com origens semelhantes às dos Suevos que reinaram durante dois séculos no espaço que, mais tarde, foi o do condado portucalense, donde emergiu o reino independente de Portugal». In Paulo Alexandre Loução, Os Templários na Formação de Portugal, Edições Esquilo, 9ª edição 2004, ISBN 972-97760-8-3.

continua
Cortesia de Esquilo/JDACT