O Mistério Templário
«A partir do momento em que se tornou uma confraria iniciática, a Ordem
do Templo deveria estar estruturada em três círculos, como é comum em
organizações deste cariz: um círculo interno, um círculo intermédio e um
círculo exterior. O círculo interior, coração mistérico
da ordem, terá sido composto fundamentalmente pelos Templários iniciados no
Oriente e deveria ter uma estrutura hierárquica independente da organização
formal e externa. Os membros do círculo intermédio conheceriam
certos mistérios do Templo e participariam em rituais específicos. Os
cavaleiros professos estariam integrados num
destes dois círculos. O terceiro círculo era composto, na
sua maioria, pelo pessoal auxiliar que representava cerca de 90% dos elementos
da ordem. É natural que alguns dos confrades templários, aparentemente um
círculo exterior de amigos da ordem Templária, pudessem pertencer a um dos
círculos mais internos.
Nessa situação, encontraríamos, por exemplo, o rei Afonso Henriques, que
se designou a si próprio como irmão, frater, templário. Numa organização
verdadeiramente esotérica existe uma relação entre estes três círculos e a concretização
dos arquétipos históricos. Antes de descrever este processo, e fazendo
analogia entre o sagrado e o esotérico, uma vivência esotérica é uma vivência
sagrada, parece-nos interessante recordar que, para a moderna antropologia da
religião, uma ideia-histórica manifesta-se primeiro no domínio do sagrado e só
tempos depois no domínio do profano.
De facto, os estudos da antropologia da religião mostram-nos claramente
a importância do fenómeno religioso como motor da evolução humana, reflicta-se
sobre as repercussões que estas descobertas deverão ter nas futuras
historiografias. Chegou-se à conclusão de que a diferença essencial entre o Homo
Erectus (existiu há mais de um milhão de anos) e o Homo
sapiens (existe há mais de 100 mil anos) não é a existência da
razão, que o Homo Erectus já possuía (levava uma vida social, tinha
ferramentas, uma linguagem), mas sim o despertar para a esfera do sagrado.
Assim, para Mircea Eliade o Homo
sapiens é, o Homo Religiosus, graças ao qual a
Humanidade alcança um novo estado de consciência, a dimensão do sagrado, a noção
do mundo invisível, a imaginação simbólica. O espaço e o tempo começam a ser
religiosamente qualificados.
Nesta linha de pensamento, as investigações de Jacques Cauvin são extremamente interessantes, na medida em que
transmitem a evidência de que na história da Humanidade, a partir do advento do
Homo
Sapiens, o sagrado precede o
profano, o que poderá confirmar a
nossa tese de que o mito precede a história, sendo o motor desta. Este
ponto é, quanto a nós, da máxima importância. Por exemplo,
- A terra cozida foi primeiro utilizada para fazer estatuetas divinas e somente dois mil anos mais tarde surgiu o seu uso utilitário em forma de louças.
Outro exemplo:
- A estratigrafia de Mureybet, na Ásia Menor por volta de 8000 a. C., prova, por exemplo, que os habitantes da aldeia, fundada antes do aparecimento da agricultura, encontravam tudo o que lhes era necessário para a caça e a colheita, e foi em pleno período de abundância e não de necessidade material que eles começaram a preocupar-se com o auroque, grande touro selvagem, dois ou três séculos antes de começarem a fazer dele uma fonte de alimentação importante. Isto é, houve primeiro um culto aos chifres do auroque e, em seguida somente, a sua exploração material.
Ora, uma das funções primordiais das organizações esotéricas é
colaborarem na manifestação histórica dos arquétipos que provêm do centro
do mundo. Como diziam os egípcios antigos, tudo nasce no seio de Maat, a mente universal». In
Paulo Alexandre Loução, Dos Templários à nova Demanda do Graal, O Espírito dos
Descobrimentos Portugueses, Ésquilo, Lisboa, 2005, ISBN 972-8605-26-9.
continua
Cortesia de Ésquilo/JDACT