domingo, 16 de dezembro de 2012

FCG. Biblioteca de Arte. Nandipha Mntambo. Johannesburg, Stevenson, 2011. Ana Barata. «… um meio para subverter as expectáveis associações entre presença corporal, feminilidade, sexualidade e vulnerabilidade. Usa como molde/modelo o seu próprio corpo e o de sua mãe»

jdact e cortesia de fcg e wikipedia

«Quase duas décadas passadas sobre o fim do regime do apartheid e o advento da democracia na África do Sul, a cena artística daquele país é actualmente uma das mais vibrantes do continente africano. O que não é de estranhar, sabendo-se que a África do Sul é o país que possui as melhores e mais bem estruturadas instituições nas áreas ligadas à produção e à criação artísticas, existindo em muitas das grandes cidades escolas, museus, centros de arte e galerias, com mais ou menos relevância. Depois da Bienal de Joanesburgo, que teve apenas duas edições, em 1995 e 1997, a Joburg Art Fair, feira de arte contemporânea que se realiza na mesma cidade desde 2008, e algumas importantes galerias, como a histórica Michael Stevenson, com dois espaços expositivos, na Cidade do Cabo e em Joanesburgo, têm tido um papel decisivo na promoção e divulgação dos artistas sul-africanos, não só a nível nacional como também internacionalmente, assim como têm igualmente conseguido fomentar internamente uma prática coleccionista, existem já algumas importantes colecções, como a Colecção Enthoven, dedicada a artistas nacionais. Ao longo destes anos pós-apartheid, os artistas sul-africanos têm reflectido de formas diversas e em diversos suportes, pintura, escultura, vídeo, performance, fotografia, instalação sobre aspectos relacionados não só com as mutações a acontecer no país e no continente africano, num contexto de globalização, mas também aspectos em que a sua redefinição identitária enquanto povoação em busca de novas formas de relacionamento é questionada. Alguns deles, como Marlene Dumas (n.1953) e Robin Rhode (n.1976), por exemplo, vivem e trabalham no estrangeiro; outros, como David Goldblat (n.1930), William Kentridge (n.1955), Nicolas Hlobo (n. 1975) e Mary Sibande (n.1982), vivem e realizam os seus trabalhos artísticos na África do Sul.



Durante o verão de 2011, à semelhança do que vem acontecendo desde 2009, os visitantes do jardim Gulbenkian foram surpreendidos por um conjunto de instalações e esculturas aí realizadas por vários artistas portugueses e estrangeiros, convidados no âmbito do Programa Próximo Futuro. No verão passado, uma das artistas convidadas foi Nandipha Mntambo, nascida na Suazilândia em 1982 e a viver e trabalhar na Cidade do Cabo, que criou para o jardim uma envolvente construção em bambu, espécie de abrigo que denominou de Cocoon, “Casulo”.
Nandipha Mntambo é uma das jovens artistas que emergiu na cena artística sul-africana nos últimos anos, fez a sua primeira exposição a solo, em 2007, na Galeria Michael Stevenson, na Cidade do Cabo, cujo trabalho se tem construído a partir da utilização do corpo e de histórias pessoais, utilizando como material privilegiado a pele de vaca. A escolha deste material para as suas esculturas, em que usa como molde/modelo o seu próprio corpo e o de sua mãe, é descrito por Mntambo como:
  • “um meio para subverter as expectáveis associações entre presença corporal, feminilidade, sexualidade e vulnerabilidade”.
O resultado são peças poderosas e perturbadoras, de formas por vezes ambíguas e mais abstractas, mas sempre com uma grande carga poética. Em 2011, Nandipha Mntambo ganhou o prémio que o Standard Bank anualmente atribui a jovens artistas da África do Sul e foi realizada uma exposição antológica da sua obra na Galeria Michael Stevenson, na Cidade do Cabo.
A edição especial do catálogo, de apenas 10 exemplares assinados, que a Biblioteca de Arte possui no seu acervo documental tem na capa de tecido vermelho uma intervenção da artista com pelos de vaca». In Ana Barata, FCG, Nandipha Mntambo, Standard Bank Young, Cape Town; Johannesburg, Stevenson, 2011, Livro de artista, Exemplar nº 7 de uma edição de 10, assinado e numerado pela artista; ex. encadernado a tecido de linho vermelho, com uma colagem de pelos de vaca na capa, acondicionado numa caixa forrada a tecido bege, ISBN 978-0-620-50664-9, Newsletter, Novembro / Dezembro de 2012.


Cortesia de FCG/JDACT