«A astrologia, como ciência que estuda a ligação entre o homem
e o Cosmos, era muito estudada, dando origem a um calendário litúrgico muito
exacto, baseado no movimento dos astros. Fazendo votos para que esta religião
mistérica, como lhe chamou o académico Moisés Espírito Santo, passe a ocupar o seu lugar merecido na
história, divulgamos um excerto das Odes de Salomão, de influência
essénia, que nas comunidades gnósticas o novel membro recitava na cerimónia de
recepção. É provável que os Templários tenham conhecido este texto, dado que o
mestre português Gualdim Pais se
refere, num documento, à sua fé salomónica.
O Senhor está na minha cabeça como uma coroa
Não ficarei fora dele
Entrançada está em mim a coroa da Verdade
Que faz que as suas ramas floresçam
Não se parece com uma coroa seca que não floresce
Mas vive na minha fronte e floresce em mim
Os teus frutos são plenos e perfeitos
Cheios da tua Salvação
O meu coração foi podado e a sua flor brotou
Germinou nele a graça
Deu frutos para o Senhor
O altíssimo podou-me com o Espírito Santo
Descobriu as minhas entranhas diante dele
E encheu-me do seu amor
O corte que o Senhor me fez foi salvação para mim
A água que fala acercou-se dos meus lábios
Abundante fonte do Senhor
Bebi e embriaguei-me com a água da vida
Abandonei a loucura difundida pelo mundo
Despojei-me dela e arroiei-a de mim
O Senhor me renovou com a sua veste
Tomou posse de mim com a sua luz
Sou como uma terra que germina e prospera em frutos
O Senhor como um sol sobre a minha terra
Iluminou os meus olhos e cobriu-me o rosto de orvalho
Conduziu-me ao seu paraíso
Onde reside a abundância dos prazeres do Senhor
Contemplei árvores floridas e carregadas de frutos
A sua coroa nascia deles
Floresciam suas ramas e engrossavam seus frutos
As suas raízes surgiam de uma terra imortal
Um rio risonho as regava
E a terra da vida eterna em seu redor
Bem-aventurados os que estão plantados na sua terra
Crescem na germinação das suas árvores
E passam das trevas à luz (…)
A Formação de Portugal
As nações todas são mistérios cada uma é todo um mundo a
sós.
Fernando Pessoa
A cada povo é proposto um ideal diferente de realização da
humanidade.
Álvaro Ribeiro
Roma foi fundada no século VIII a.C. e caiu definitivamente,
no Ocidente, cinco séculos depois do nascimento de Cristo. Durou doze séculos,
oito dos quais como império. Não se desmoronou de um momento para o outro, mas
foi decaindo durante vários séculos em longa e lenta agonia. A regressão
cultural e civilizacional após a sua queda foi total e é nesse quadro que
teremos de compreender a história europeia até ao século XII, altura em que
aconteceu um forte renascimento cultural. No entanto, e apesar disso, o véu
continuou. A superstição e a tacanhez mental que alienavam a sociedade
europeia mantiveram-se. Este véu só seria rasgado com a Renascença,
nos séculos XV-XVI, e, mesmo assim, não na totalidade.
No que diz respeito ao território português e recuando ao
período da pré-formação de Portugal,
é um facto que se deu um forte choque cultural entre os lusitanos e os povos da
Galécia, e os romanos. Com a derrota
de Sertório, venceu a facção romana
mais agressiva, ficando os romanos definitivamente malvistos pelas populações
autóctones e, sobretudo na Galécia,
muitas zonas praticamente não foram romanizadas. Assim, de certa forma, a
cultura castreja pré-romana persistiu, permanecendo ainda viva quando os suevos, invasores germânicos, se
instalaram entre o Douro e o Minho e aí reinaram entre 411 e 585. Quando chegou,
o rei dos suevos protegeu os seguidores de Prisciliano e o bispo ortodoxo
romano, Idácio, foi aprisionado. Curiosamente, é este mesmo Idácio
que nos fala de Ájax, gálata de
nação, chegado no séc. V e missionário do cristianismo ariano. O rei suevo Remismundo converteu-se ao arianismo
(alguns autores escrevem arrianismo), difundindo esta versão do cristianismo
pelo seu povo. Esta corrente cristã teve origem em Ário, presbítero da
Igreja de Alexandria no séc. IV. Sustentava que Jesus Cristo foi um ser criado e humano, inferior ao Deus-Pai,
sendo, contudo, um grande mestre de sabedoria versado em todos os mistérios
divinos. O cristianismo ariano teve um fortíssimo impacto nos chamados povos
bárbaros e foi adoptado por alguns imperadores do Oriente. Os visigodos
peninsulares também adoptaram, de início, esta versão cristã, que foi combatida
sem tréguas pela hierarquia católica e obviamente classificada de heresia. Não
se sabe muito acerca da doutrina dos arianistas, visto que a história foi
escrita pelos vencedores. Quanto a nós, não nos parece que o arianismo tenha
tido, neste território, tanto impacto como os eruditos priscilianistas,
sendo até natural que os seus seguidores influenciassem o cristianismo ariano
no Ocidente peninsular, continuando depois vivo através dos moçárabes.
Os visigodos, também de origem germânica, foram o povo
invasor que governou mais área da Península Ibérica, durante mais tempo. Com a
queda dos suevos, no século VI, governaram todo o espaço que hoje corresponde ao
norte de Portugal, até à invasão árabe nos inícios do século VIII. O Sul de
Portugal esteve na posse do império romano do oriente, bizantino, de 554 a 621 (datas
possíveis), que entretanto invadira a Península Ibérica». In Paulo Alexandre Loução, Os
Templários na Formação de Portugal, Edições Esquilo, 9ª edição 2004, ISBN
972-97760-8-3.
continua
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