quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Viriato. A Luta pela Liberdade. Maurício Pastor Muñoz. «Viriato não deixava de possuir uma sabedoria natural extremamente útil na tomada de decisões; de facto, o seu raciocínio era sensato, prudente e certeiro correspondendo a uma natureza que não fora deformada nem educada por nenhum mestre»

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«[…] Em suma, não empreendia a guerra nem por ganância, nem por amor ao poder, nem movido pela cólera, mas fazia-a por ela mesma, e é sobretudo por isto que foi temido como guerreiro ardente e conhecedor da arte bélica”.

O retrato de Viriato que nos oferece Dião Cássio é muito semelhante, pois baseia-se obviamente no de Posidónio:
  • “Viriato foi um lusitano de origem obscura, segundo alguns, que alcançou grande renome pelas suas façanhas, já que de pastor chegou a ladrão e mais tarde a general. Dotado de uma boa condição física por natureza, também se treinava para ser muito ágil tanto na perseguição como na fuga e tinha uma grande resistência no combate directo. Contentava-se com qualquer comida e qualquer bebida o satisfazia; passou a maior parte da sua vida ao relento e ficava satisfeito com o que a natureza lhe oferecia. Consequentemente, era indiferente ao calor e ao frio, e nunca ninguém o viu incomodado pela fome ou por qualquer outra privação; pois satisfazia todas as suas necessidades com qualquer coisa que estivesse à mão, como se fosse a melhor Além de possuir um corpo possante, efeito da natureza e do treino, as suas capacidades mentais eram ainda melhores. Era rápido a planear e realizar o que fosse necessário, pois não só sabia o que tinha de se fazer como tinha a perspicácia de identificar qual o momento mais oportuno para o fazer; e também era inteligente quando fingia ignorar os factos mais óbvios e conhecer os segredos mais ocultos (...). Em resumo, levava a guerra adiante não pela busca de riquezas, ou de poder ou movido pela ira, mas sim pelo prazer das façanhas da guerra em si mesmas, pois considerava-se simultaneamente um amante da guerra e um senhor da guerra”.
Em ambas as passagens, Viriato é-nos apresentado como um homem de uma força e de uma virtude resultantes da circunstância de ter vivido a sua juventude em estado de Natureza. Viver num meio hostil, na montanha, entre penhascos e ágeis veados, irá dotá-lo de uma grande capacidade de resistir ao sofrimento e de extraordinária agilidade física que se manifestam numa auto-suficiência radical que despreza as riquezas e os luxos da vida civilizada. Quando se tornou chefe e general dos lusitanos, Viriato caracterizou-se pela justiça com que lidava com os seus companheiros, partilhando sempre com eles todos os bens com igualdade. E apesar de não ter tido uma educação convencional, Viriato não deixava por isso de possuir uma sabedoria natural extremamente útil na tomada de decisões; de facto, o seu raciocínio era sensato, prudente e certeiro correspondendo a uma natureza que não fora deformada nem educada por nenhum mestre. Ora bem, não sabemos em que medida tudo isto correspondia à realidade. Não o sabemos, mas há dados extraordinariamente reveladores.
Noutra passagem de Diodoro encontramos Viriato expondo a sua opinião ao Conselho sob a forma de parábola ou diatribe. A esse respeito é muito conhecida a famosa história que Viriato contou aos habitantes de Martos (Tucci) para lhes mostrar como era absurdo o seu comportamento inconstante, tão depressa aliados dos romanos como dele. A famosa história do homem com duas amantes reflecte, praticamente na íntegra, a filosofia cínica.
Assim, se para poder ser apresentado como o selvagem perfeito acostumado a passar privações e a competir com as bestas selvagens na simplicidade da vida e na agilidade, Posidónio imaginou um Viriato de berço humilde e pastor na infância, Schulten, seguindo um raciocínio semelhante, indicou a serra mais pobre e agreste de Portugal-Lusitânia, a Serra da Estrela, como seu local de nascimento.


Ascendência, juventude e primeiros anos de maturidade
Não sabemos quem foram os pais de Viriato. Algumas obras em que a vida de Viriato é romanceada, referem-se ao seu pai chamando-lhe Comínio, um pequeno chefe tribal do vale do Guadalquivir. De acordo com os costumes lusitanos, o primogénito era o único herdeiro dos bens familiares, e por isso, Viriato, como terceiro filho, o segundo era uma rapariga, tinha-se visto obrigado, como muitos outros jovens, a adoptar a rude vida dos bandos que saqueavam as terras do sul». In Maurício Pastor Muñoz, Viriato La Lucha por La Liberdad, Viriato, A Luta pela Liberdade, Alderabán, Ediciones,SL, 2000, Ésquilo, Lisboa, 2003, ISBN 972-8605-23-4.

continua
Cortesia de Ésquilo/JDACT